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Saque e Voleio

Em perspectiva

Alexandre Cossenza

15/09/2014 20h07

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A festa em quadra havia acabado pouco antes e ainda havia um bocado a festejar, mas o time brasileiro que colocou o país de volta no Grupo Mundial da Copa Davis chegou à sala de imprensa longe da euforia pós-match point. O champanhe não embriagou ninguém. A água gelada jogada na cabeça do capitão João Zwetsch não congelou seu cérebro. E, por isso, o time merece mais parabéns ainda.

Seria tentador vender uma vitória sobre a poderosa Espanha como um feito histórico. Épico. Só que ninguém do time fez isso. Zwetsch falou sobre o quanto é derrotar o time dos compatriotas de Rafael Nadal e de quanto orgulho sentia de seus jogadores por isso, mas fez questão de lembrar que seria quase impossível vencer a força máxima da Armada.

Zwetsch, aliás, poderia ter caído na tentação do "vão ter que me engolir". Criticado pela escalação de Rogerinho, poderia ter desfilado arrogância na coletiva. Não o fez (e se fizesse, estaria errado, porque Rogerinho realmente esteve muito mal em quadra). E, quando indagado se Thomaz Bellucci sairia do confronto como um herói nacional, fugiu do exagero.

"Eu vejo as coisas muito mais simples. A gente às vezes tenta rotular certas coisas e enfim… Acho importante esse tipo de atuação, de vitória. Óbvio que o Thomaz foi um grande guerreiro, mas… (pausa) Né? Rotular como herói seria uma coisa complicada para ele mesmo. Acho que ele está dando o melhor de si, está crescendo a cada ano." … "Que ele foi o grande responsável por ter feito dois pontos? Pode ter sido, mas todos fomos responsáveis."

Bellucci tomou um rumo parecido em suas respostas. É claro que o número 1 do Brasil tinha consciência do tamanho de sua participação na vitória sobre a Espanha. Sem ele, estaríamos aqui pensando em mais séries contra Uruguai, Colômbia e Equador – aquelas que o Brasil ganha todos os anos. Ainda assim, Bellucci ressaltou que a maior parte de seu mérito foi administrar o nervosismo a ponto de jogar um tênis bom o bastante para vencer. E, após superar o número 15 do mundo, fez o que ninguém fez: reconheceu que Roberto Bautista Agut, seu oponente no domingo, não jogou tudo que podia.

"Você vê o Bautista… Hoje, pode ser que ele não tenha jogado o melhor tênis da carreira dele porque é difícil administrar a pressão que é jogar fora de casa, sendo número 1. Você viu que em muitos momentos ele não jogou um bom tênis. Lógico que eu tentei exigir o máximo dele, mas ele muitas vezes não conseguiu isso."

Assim, enquanto tudo se assenta e os tenistas voltam à rotina do circuito, é importante colocar em perspectiva. A vitória foi muito, muito legal de acompanhar, especialmente porque Thomaz Bellucci esteve na direção certa para explorar todo seu potencial. E porque foi contra a Espanha, um país com peso considerável na Copa Davis e no cenário do tênis mundial. Porém, lembremos que foi contra um time C (ou D?) da Espanha, em casa, e com Thomaz Bellucci carregando a equipe, que continua sem um número 2 confiável.

O resultado foi excelente, mas pouca coisa mudou.

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Coisas que eu acho que acho:

– Já vimos casos de tenistas que passaram por ótimas experiências em Copas Davis e conseguiram excelentes sequências no circuito mundial. Por isso, é compreensível que muitos esperem o mesmo de Bellucci. Eu mesmo achei que isso aconteceria em 2012, quando o Brasil bateu a Colômbia em circunstâncias semelhantes. Feijão perdeu o primeiro jogo, e Bellucci esteve perdendo por 2 sets a 0 a partida seguinte. O número 1 do time, então, saiu do buraco e garantiu a vitória brasileira com duas grandes vitórias. O bom momento, no entanto, não durou por muito tempo. Bellucci até bateu David Ferrer em Monte Carlo, mas perdeu três jogos seguidos, desistiu mentalmente de um jogo em Nice e acabou eliminado nas primeiras rodadas de Roland Garros e Wimbledon.

– No Grupo Mundial, o Brasil enfrentará na primeira fase, em 2015, um dos oito cabeças de chave. Caso seja sorteado para enfrentar Estados Unidos, Itália, Repúclica Tcheca ou Suíça, jogará em casa. Em caso de encarar Argentina, França ou Canadá, o confronto será fora do Brasil. Se o adversário for a Sérvia, um segundo sorteio definirá o local.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.