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Bruno e Marcelo juntos outra vez - e não só na Copa Davis

Alexandre Cossenza

08/09/2014 06h00

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Não faz muito tempo, Bruno Soares recebeu a notícia de que vai ser pai. O filho (é um menino) nasce no começo de fevereiro, segundo as previsões médicas. Na última sexta-feira, o mineiro conquistou seu segundo título de duplas mistas no US Open. Em um grande momento dentro e fora de quadras, o tenista de 32 anos conversou comigo neste domingo para falar de US Open, Copa Davis e, sim, Olimpíadas. Na conversa, veio a revelação: ele e Marcelo Melo já planejam jogar alguns torneios juntos em 2015, como parte da preparação para os Jogos do Rio.

Bruno falou também reforçou que não será preciso um ajuste radical de calendários. Ele e Marcelo se conhecem há muito tempo, e o entrosamento existe naturalmente. Por isso, ambos podem continuar com seus parceiros regulares de circuito – Alexander Peya e Ivan Dodig, respectivamente. Mas o papo não foi só sobre isso. Conversamos sobre a escolha do piso, as chances brasileiras e a convocação polêmica do capitão João Zwetsch, que deixou Feijão, número 2 do país, fora da Copa Davis. E falamos, claro, da expectativa do nascimento de seu filho, o que vai acontecer pertinho do Australian Open de 2015. Leia!

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É o seu segundo Grand Slam, também nas duplas mistas. Um ano atrás, você dizia que a conquista de 2012 lhe deu confiança, uma espécie de afirmação. A sensação foi muito diferente desta vez?
O fato de ser a primeira vez já torna o negócio diferente. A sensação, de uma forma geral… A alegria, todas as cosas que acontecem em torno de um título tão importante quanto esse, é a mesma. É igual, indescritível. É aquele momento… O auge total da alegria, das emoções, de tudo que acontece com você. A diferença é o simples fato de ser "A" primeira vez de tudo que veio a acontecer pós-título. Desde o momento que você ganha o match point até toda repercussão, todas coisas que acontecem na sua vida, serem uma novidade. Muita coisa eu nunca esperava. Eu jamais podia imaginar. Essa foi a grande diferença. Já mais experiente, já tendo passado por isso uma vez, as coisas que aconteceram não me surpreenderam tanto. Ao mesmo tempo, não deixa de ser tão especial quanto a primeira. Grand Slam é um negócio (procurando uma palavra)… É aquele negócio… Grand Slam começa desde pequenininho. Quando você começa a jogar tênis e não entende nada, você não fala "quero ganhar um Masters 1.000" porque você não sabe o que é um Masters 1.000. Você só escuta dos Grand Slams. Roland Garros, Wimbledon, US Open, Austrália… É como se fosse aquela coisa intocável, um sonho distante. A conquista disso aí, independentemente de ser um, dois, três mil, vai ser muito especial.

E você sai de uma momento fantástico desses para entrar em uma Copa Davis, que é complicada pelo adversário e ainda teve a polêmica da convocação. Até a dupla, que costuma ser o ponto mais forte do time, tem um jogo difícil. Como você vê essa situação, esse confronto?
Essa Copa Davis contra a Espanha passou por algumas fases, né? A primeira foi quando saiu o sorteio. Você olha e fala "é, meu amigo, só com um milagre."

at Rexall Centre at York University on August 9, 2014 in Toronto, Canada.

Porque, em tese, vinha Nadal…
Exatamente. Foi a primeira sensação de todo mundo. Não só a gente. Todo mundo que joga contra a Espanha pensa isso. Aos poucos, a gente foi vendo que as coisas não iriam ser como a gente estava imaginando. Acabou que, no final de tudo, eles estão com um time C ou D, que não deixa de ser extremamente forte, com todos top 50. São três jogadores top 50, uma dupla que fez a final de um Grand Slam. Obviamente, eles são favoritos, mas acho que nós vamos ter boas chances. É um confronto um pouco parecido e com melhores chances do que aquele com os Estados Unidos (o Brasil jogou em Jacksonville, em quadra dura e coberta, e perdeu por 3 a 2, com a vitória americana sendo decidida apenas no quinto jogo). Nós conseguimos levar para o quinto ponto e quase aprontamos. É como você falou: a dupla, que é o nosso ponto mais forte hoje, encara uma das melhores duplas do mundo também. A gente sabe que tem essa pressão a mais, mas vamos entrar para ganhar. Se a gente quiser ter uma chance nesse confronto, o ponto da dupla é fundamental.

E como você acompanhou a opção do João (Zwetsch, capitão brasileiro) por levar o Clezar e o Rogerinho e deixar fora o Feijão, que vem em melhor fase?
Olha, eu acho que, primeiro de tudo, a escolha da equipe nem sempre vai agradar a todo mundo e não é uma coisa fácil. É da comissão técnica. Com certeza, não é uma opção só do João. O Dani (Daniel Melo, assistente técnico) está envolvido, o Edu (Faria, preparador físico), acho que toda comissão teve sua opinião, e chegaram a um consenso. Nem cabe muito a nós, jogadores, ficar falando muito nisso. Eu sei que essa convocação, em especial, deu um bafafá maior pela boa fase do Feijão e tal, mas a comissão técnica decide, e cabe a nós, jogadores, ir lá e fazer o melhor, concordando ou não. Acho que, como membro da equipe e brasileiro de forma geral, estou para ajudar. Sem dúvida nenhuma, o Feijão vem em uma grande fase. Eu só acho legal ter essa briga, essa disputa pelo número 2 com três jogadores. O que quero é que daqui a dois, três anos, tenham dez caras brigando por essa vaga. Isso só fortalece todo mundo. A comissão não escolheu o Feijão, mas acho que isso deve, em vez de revolta, servir de motivação para o Feijão continuar batalhando, treinando duro em busca de resultados. Com certeza, ele vai ter a chance se alcançar esse tipo de coisa.

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Outro assunto que sempre vem à tona nesses períodos de Copa Davis é a sua participação com o Marcelo Melo nas Olimpíadas. Vocês já disseram que vão jogar juntos antes do Rio 2016, mas nunca falaram em uma data. E agora, faltando menos de dois anos para os Jogos, já existe uma previsão?
Eu posso falar algumas coisas. A primeira, e mais importante, é a consciência que eu e Marcelo temos a respeito das Olimpíadas. Temos chances reais de uma medalha de ouro. Isso é o mais importante. Tanto eu quanto ele acreditamos demais nisso. Segundo, obviamente, vemos jogar em casa. Motivação, nem precisa falar, né? De imediato, obviamente, nossa tendência até 2016 é jogar mais juntos. O quanto vai acontecer é difícil de falar. Em 2015, nós vamos manter nossos parceiros de circuito, mas o que a gente vem conversando é encaixar no nosso calendário alguns torneios para a gente começar a jogar junto.

Precisa de muito tempo para vocês estarem afiados juntos outra vez?
Eu e Marcelo, todo mundo sabe, somos de Belo Horizonte, melhores amigos, e estamos sempre treinando juntos e trabalhando juntos. O pessoal fala "ah, tem que entrosar." Não, a gente está sempre junto. A nossa convivência é diária. Outra: em semana de Copa Davis, a gente treina junto, joga junto, e a gente vem mostrando que nosso entrosamento está aí há anos, independentemente de jogar junto ou não. Muitas vezes, é mais importante a nossa confiança como jogador mesmo. Toda vez que eu estou arrebentando no circuito e o Marcelo está arrebentando no circuito, a gente arrebenta na Copa Davis. Eu já conheço o Marcelo de cor e salteado e vice-versa. Nosso momento vai ser mais importante do que o fato de ter jogado junto nos meses anteriores. Olimpíada é tiro curto. Naquela semana, se você estiver jogando seu melhor, esquece os últimos quatro anos. Você tem que chegar ali na ponta dos cascos. Eu e Marcelo, a gente quando vem bem no circuito vem se apresentando bem junto, mas isso (jogar junto no circuito) é uma coisa que até 2016 a gente deve aumentar a frequência.

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É totalmente diferente de um duplista que não tem parceiro do mesmo país e precisa ir às Olimpíadas com alguém que só está nas simples…
Exatamente. Nesse caso, envolve muita coisa. O legal meu e do Marcelo é que a gente joga junto desde pequeno. Jogar junto nas Olimpíadas não vai ser uma coisa nova para a gente. Tem 15 anos que a gente faz isso. Jogamos interfedarações juntos com 15 anos. A gente passou por todas etapas. Se, por acaso, o Marcelo aposentou, o André (Sá) aposentou e eu vou formar dupla nas Olimpíadas com o Thomaz…. Aí é outra história. Eu teria que me dedicar, abrir mão do meu calendário e ir para São Paulo treinar para a gente realmente ter uma preparação melhor para os Jogos. O caso do Marcelo é totalmente à parte.

Voltando para a Davis, saibro indoor é melhor para vocês?
Como dupla, acho que não. Mas Quando o João e o Dani vêm conversar com a gente sobre piso, o que a gente tenta ver? Eu e Marcelo, a gente se adapta bem a todos os pisos. A gente tem bons resultados em todos tipos de pisos. Se perguntar "qual você mais gosta?", saibro indoor não vai ser. Mas eu jogo bem, já ganhei em São Paulo, o Marcelo também joga bem nesse tipo de condição. Então a gente tem que se preocupar bastante com os meninos das simples. São os pontos em que eles não vão ser favoritos e precisam jogar nas melhores condições possíveis. No caso, cai sempre mais em cima disso, principalmente para o Thomaz, que é o nosso número 1 e é um cara que se arrancar dois pontos, a gente passa a ter bastante chance no confronto. E o Thomaz é um cara que se sente bem nessas condições, então a gente apoia e faz o melhor possível para se adaptar e jogar o nosso melhor também.

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Contra a Espanha, essa escolha de quadra é mais difícil, né? Porque se você pensa que vem o Nadal e põe um piso mais rápido, não tão bom para ele, pode ser que venham um Feliciano López, um Marcel Granollers…
Exatamente. Não tem para onde fugir. Se ficar, o bicho come. Se correr, o bicho pega. Você vai anunciar o piso antes, e eles tem 27 opções (risos) de equipes para jogar contra você. Então o que a gente falou? Vamos colocar o confronto nas nossas melhores condições. Acho que, de uma forma geral, São Paulo é um lugar ótimo para encher o estádio. A torcida nesse confronto vai fazer uma grande diferença. E São Paulo… Primeiro, é a maior cidade. É o lugar mais fácil para o acesso do brasileiro de forma geral. Além disso, são ótimas condições para nossos jogadores de simples.

Você ganhou mais um Grand Slam e está esperando para ser pai. Como esse dia entra no seu ranking pessoal de melhores momentos da vida?
Ah, cara, eu acho que vai ser difícil bater. Quando eu recebi a notícia que eu iria ser pai, é uma sensação muito forte também. Quando nascer, vai ser difícil superar. Na minha vida, família sempre veio em primeiro lugar. Vai muito além de uma conquista, de um título, de um sonho. É o momento maior do ser humano, é ter um filho, o sangue do seu sangue. Acho que vai ser difícil bater essa sensação.

Existe alguma chance de você não ir para a Austrália para acompanhar o parto, que pode ser no início de fevereiro?
Tem, tem. Vai ser uma decisão em cima da hora. Acho que eu só não iria para Austrália caso minha esposa tivesse alguma complicação, mas acredito que se estiver tudo correndo normal, eu viajo e vou torcer para o baixinho segurar. A final da Austrália, eu olhei, é no fim de janeiro.

O torneio acaba 1º de fevereiro.
Mas 1º de fevereiro é o domingo. Se não me engano, a final é na sexta-feira, dia 30 de janeiro. Tem o lado bom do fuso horário, que eu saio de lá e chego no mesmo dia aqui. E isso mesmo se eu for campeão. Se correr tudo normal, assim que terminarem os compromissos lá, eu volto correndo. E outra, né? Se eu estiver na final e meu filho resolver sair para assistir ao jogo (risos), é justa causa dos dois lados. São riscos da nossa profissão (mais risos). Se você me disser "ele vai nascer com certeza na quarta-feira do Australian", eu não vou. Quero ver o nascimento do meu filho. Mas como é uma coisa que ninguém consegue dizer o dia exato, tem o riscozinho de a coisa acontecer. Mas generalizar e dizer "não vou para Austrália porque pode ser que nasça…" é um pouco demais. Acho que dá para conciliar.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.