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Saque e Voleio

Os caminhos até o título de Wimbledon

Alexandre Cossenza

22/06/2014 03h22

> at Wimbledon on June 22, 2014 in London, England.

Doze dias bastante-agitados-e-sem-tempo-para-escrever-aqui depois, espanador e paninho multiuso na mão, cá estou para desempoeirar este cantinho da casa e tecer algumas palavras sobre a chave masculina de Wimbledon. O Grand Slam de mais prestígio é também aquele que, de quatro em quatro anos, acontece durante a competição para boa parte do planeta durante 30 dias. Como o torneio britânico só tem 13 dias de jogos, é difícil que o mundo preste a costumeira atenção na grama de Londres. Felizmente, tênis é um esporte que encontra sempre um jeito de roubar manchetes, seja com um jogo de 11 horas ou com uma quase catástrofe no primeiro jogo da Quadra Central – foi assim em 2010, lembram?

Não dá para adivinhar o que vem pela frente dessa vez, mas dá para imaginar algumas coisinhas, e é por isso que este post está aqui. É hora daquela breve análise das chaves, que foram sorteadas na sexta-feira. Quem se deu bem, quem teve azar, quais são os jogos mais legais de primeira rodada… Vamos ver, então? Vem comigo e não esquece de, no fim do post, ficar à vontade para usar a caixa de comentários e dar uma opinião, fazer uma pergunta ou levantar uma polêmica. A casa, como sempre, tem as portas abertas para a troca de ideias. Mas chega de enrolação e vamos finalmente ao que interessa…

Os sortudos

Na chave masculina, difícil contestar que Novak Djokovic e Andy Murray dividem uma chave menos complicada do que Roger Federer e Rafael Nadal, o grande azarado da história (calma, gente, eu já chego lá). Até a semi, o sérvio deve ter pela frente Golubev, Stepanek/Cuevas, Pospisil/Simon, Youzhny/Tsonga e Gulbis/Berdych. Deste grupo inteiro, apenas Youzhny, Tsonga e Berdych têm bons resultados com regularidade em Wimbledon. Considerando que russo e francês podem se enfrentar antes de de um eventual duelo com Nole e que Tsonga perdeu os últimos 11 jogos para Djokovic, parece-me um tanto razoável colocar o atual número 2 do mundo como favorito para chegar à semifinal. Dá para dizer o mesmo de Murray, que tem um caminho provavelmente com Goffin, Rola/Andujar, Bautista-Agut, Anderson/Fognini e Dimitrov/Ferrer antes de uma possível e provável semi. O campeão de Wimbledon joga com a pressão adicional de defender o título, mas teve uma forcinha dos deuses das chaves.

> at Wimbledon on June 21, 2014 in London, England.

Nadal, pelo contrário, pegou um caminho cheio de adversários perigosos – e digo perigosos na grama, que é o que importa aqui. Depois da estreia contra Martin Klizan, que em tese não deve lhe oferecer tantos problemas, o número 1 do mundo pode ter pela frente um caminho contra Paire/Rosol, Karlovic, Gasquet/Monfils e Raonic/Nishikori. Traduzindo: em cinco jogos, o espanhol pode ter de encarar quatro grandes sacadores, incluindo seu algoz em 2012, Lukas Rosol. A grande preocupação do técnico e tio Toni Nadal é a primeira semana, quando a grama ainda está novinha, e a bola quica menos. Encarar um sacador nessas condições não é tarefa das mais fáceis. Se Nadal alcançar a segunda semana, é outra história. Com a grama mais gasta e a bola quicando mais, seu jogo ganha em eficiência. E, lembrem-se: falamos de um cidadão que jogou cinco finais consecutivas em Wimbledon (2006-08 e 2010-11, sem atuar em 2009).

Federer é um caso à parte. O suíço enfrentaria, em tese, Nadal nas semifinais. Antes, contudo, pode pegar a sequência Lorenzi, Benneteau/Muller, Granollers, Roberdo/Janowicz e Wawrinka/Isner. Ao olhar a chave antes do torneio, dá para notar obstáculos traiçoeiros no caminho. Resta saber como as coisas vão desenvolver com o andar dos jogos. De qualquer modo, o suíço parece animado e, mais importante ainda, consciente de que o torneio britânico é onde ele mais tem chances de levantar um troféu de Grand Slam neste momento de sua carreira. Não existe motivação muito maior do que essa para um atleta.

Jogos de primeira rodada que eu quero, mas provavelmente não vou ver

– Murray x Goffin. Jogo que abre o torneio com Andy Murray na Quadra Central pela primeira vez como campeão de Wimbledon. A vibração do público será outra, e Goffin é um adversário de respeito. Pode ser um belo jogo e um ótimo teste para o tenista da casa.

– Dimitrov x Harrison. Com os bons saques de Harrison, que vem do qualifying, há um pequeno potencial de zebra nessa partida. O búlgaro, cabeça 11 e logicamente favorito, foi campeão em Queen's na semana passada, mas vem de uma derrota na primeira rodada em Roland Garros. Será que, no caso de um jogo difícil, virá à mente o medo de somar dois resultados ruins em Slams consecutivos?

– Baghatis x Brown. Dois tenistas talentosos e imprevisíveis. Tudo pode acontecer, inclusive o alemão devolvendo saque segurando a raquete por trás das costas – o que ele fez em Munique contra o mesmo Baghdatis e venceu o jogo!

> at Wimbledon on June 21, 2014 in London, England.

Jogos que vão dar sono, mas que o SporTV vai transmitir assim mesmo

– Ferrer x Carreno Busta. Nunca é empolgante ver dois jogadores que adoram o fundo de quadra se enfrentando na grama. O mesmo vale para uma meia dúzia de outros duelos de primeira rodada.
– Federer x Lorenzi. Passeio.
– Djokovic x Golubev. Passeio.

Quem pode surpreender

Na parte de cima da chave, dá para imaginar Marin Cilic ganhando ritmo e fazendo um jogo duro com Tomas Berdych na terceira rodada. O croata, que derrotou o tcheco em seu último duelo na grama, não é tão azarão assim.

Na metade inferior, vale ficar de olho em um possível confronto entre Feliciano López e John Isner na terceira rodada. O espanhol vem de um vice em Queen's e está em bom momento. Um triunfo significa, em tese, um confronto nas oitavas com Stanislas Wawrinka, que venceu apenas um jogo nas últimas quatro edições de Wimbledon. Quem será que avança deste quadrante, hein?

Há sempre a possibilidade de Nadal entrar descalibrado e despedir-se cedo, como aconteceu em 2012 e 2013. Se isto acontecer mais uma vez, o último quadrante fica aberto e imprevisível. Raonic, Gasquet, Monfils e Nishikori estão todos ali.

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Nas casas de apostas

Assim como em Roland Garros, Novak Djokovic é o mais cotado para levar um título. Caso o sérvio seja campeão, a casa bet365 paga 2,75 para cada dólar apostado. Murray vem logo atrás, pagando 4.50, enquanto Nadal paga 5,50. Federer é o quarto, com 6,50 de cotação. O top 10 inclui Dimitrov (21,00), Wawrinka (23,00), Berdych (41,00), Raonic (51,00), Tsonga (51,00) e Gulbis (51,00).

Um aviso

Como muitos de vocês já sabem, venho trabalhando na Copa do Mundo (é preciso pagar contas, gente) e, por isso, não terei como ver boa parte de Wimbledon este ano. Logo, não blogarei com a frequência que gosto de fazer. Escreverei quando puder e, claro, tiver algo de útil a dividir com vocês. Agradeço a compreensão.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.