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Um reencontro “bacana” (como nós falamos)

Alexandre Cossenza

01/03/2014 06h00

Orsanic_AO13_Cosse_blog

É uma história feliz a do reencontro do uruguaio Pablo Cuevas e de seu atual técnico, Daniel Orsanic. Ou melhor, "bacana", como o treinador diz, encontrando um adjetivo no português. Os dois começaram a trabalhar juntos em 2008, com o tenista fora do top 100, e a parceria levou Cuevas ao melhor ranking de sua carreira (45 do mundo, em 2009), mas uma séria lesão no joelho direito o afastou do circuito mundial e forçou o fim da relação com Orsanic.

O treinador argentino, todo mundo sabe, foi contratado por Thomaz Bellucci no fim de 2011 e passou duas temporadas quase inteiras ao lado do paulista. Por um ano e meio, Bellucci manteve-se entre os 40 melhores tenistas do mundo, mas lesões atrapalharam sua temporada de 2013 e o tiraram até do top 100. O resultado foi a contratação de um novo técnico, o espanhol Francisco Clavet.

Enquanto tudo isso acontecia, Cuevas tentava voltar às quadras. O uruguaio ficou quase dois anos longe dos torneios, e seu primeiro resultado relevante veio no fim do ano passado, quando venceu um Challenger em Buenos Aires – onde derrotou, vejam a curiosidade, Bellucci na primeira rodada. Na semana seguinte, Cuevas foi à semifinal em Montevidéu, em outro Challenger. Uma de suas vítimas naquele torneio foi Paolo Lorenzi, outro semifinalista do Brasil Open de 2014.

E o resultado dessa combinação foi o reencontro de Cuevas e Orsanic, que voltaram a trabalhar juntos agora, em 2014. Como ambos estiveram aqui em São Paulo, aproveitei para bater um papo com Orsanic, que sempre foi muito simpático comigo – desde a primeira entrevista, no Brasil Open de 2012, até nos encontros na Nova Zelândia e na Austrália. Vejam o que ele diz, falando português (não usou uma só palavrinha de espanhol na conversa inteira) sobre a relação com Cuevas.

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Como foi a reaproximação?
Eu vi que ele estava jogando de novo a partir da metade do ano passado. Jogou Roland Garros e depois, no fim do ano, me contactou para pedir que ajudasse ele part-time. Só algumas semanas porque ele está bem do joelho, mas é difícil para ele ter essa certeza que ele vai conseguir jogar o ano inteiro, né? Então nosso acordo é estar juntos por algumas semanas.

É um trabalho muito diferente? Você tem um papel mais de psicólogo agora?
É o mesmo trabalho que fazia antes. Nós trabalhamos muito na técnica, no jogo do tenista, mas todos sabemos que, hoje em dia…

(interrompendo) Se não tem confiança…
Exatamente. A parte mental é muitas vezes aquilo que faz a diferença. Hoje em dia, tem muito jogador que está bem preparado, mas vence quem está melhor mentalmente. Ele (Cuevas) tem um volume de jogo muito grande, joga muito tênis. Está voltando, está ganhando confiança no seu corpo, no seu tênis. Em algumas, dá para vencer. Em outras, não. Ele está voltando, querendo voltar ao nível mais alto, jogar ATPs. No fim do ano passado, ganhou um Challenger, fez semifinal de outro, mas isso, agora, é um nível mais alto. Ele tem que se acostumar também.

Essa é a parte mais difícil? Encontrar o ponto entre o nível que você está jogando e o nível que você quer e sabe que pode jogar?
Temos que ter paciência. Temos que manter ele são, competitivo. Ele sabe que pode jogar muito bem, mas tem um caminho para andar até se sentir assim, sabe? Em alguns dias, ele vai se sentir muito bem, mas tem que ir construindo seu ranking. Em alguns torneios, ele ainda pode utilizar o ranking protegido, mas em outros, torneios menores, ele vai jogar com seu ranking real (197).

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Então vai jogar quali, Challenger, o que precisar?
Claro, claro. Em duplas, ele está melhor, 46. As duas coisas para ele são importantes, mas tem um caminho a percorrer.

Vocês dois estão contentes com o que vêm conseguindo?
Ele, principalmente, está muito feliz de ter uma outra chance de jogar. Eu sou amigo dele. Nesse relacionamento anterior, a gente criou uma amizade e estou muito feliz por ele de ter essa nova chance. E mais ainda que ele me escolheu para ajudá-lo nessa etapa.

É uma história legal a de vocês, não?
Sim. É bacana, como vocês falam. É uma situação bacana. Tomara que ele consiga ter bons resultados para continuar jogando um bom nível.

E qual a programação desde agora?
Ele vai jogar dois Challengers (Panamá e Barranquilla), com seu ranking real, depois vai a Houston. Provavelmente, se entrar, vai jogar em Monte Carlo. Se não, vai deixar o ranking protegido para outro ATP. A ideia é jogar Houston, Monte Carlo, Bucareste, Oeiras e depois voltar para descansar. Então, vai jogar Paris e mais algum Challenger depois.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.