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Saque e Voleio

Thomaz tático

Alexandre Cossenza

20/02/2014 10h09

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Uma das críticas mais frequentes que ouço (e faço!) em relação a Thomaz Bellucci diz respeito a seu comportamento tático nas partidas. Frequentemente, o número 1 do Brasil demora a ler o que está acontecendo em quadra e não é nada raro ver respostas pouco profundas nas coletivas de imprensa. Na maioria dos casos, Bellucci resume-se a dizer o quanto conseguiu ou não executar "meu melhor tênis". As causas disso quase nunca são analisadas.

Nesta quarta-feira, contudo, o paulista surpreendeu após derrotar, de virada, o argentino Juan Mónaco. Primeiro porque, logo na primeira pergunta, feita por Felipe Priante, do Tenisbrasil, admitiu que começou as duas partidas que fez no Rio Open jogando taticamente mal. Depois, na pergunta seguinte (eu que fiz), detalhou bem o que vinha fazendo de errado e o que mudou. Vejam as duas respostas que menciono:

"Neste dois jogos, comecei não jogando bem. Comecei muito tenso, jogando taticamente errado também. Depois, com dois, três games, consegui já impor um ritmo melhor, mas foi importante também não desistir, batalhar o tempo inteiro. Mesmo perdendo o primeiro set, no primeiro jogo tive set e break atrás e consegui manter a motivação, manter a entrega dentro de jogo para ter a virada, né? Jogar dentro de casa faz você ser um jogador mais aguerrido. Com o apoio da torcida, tudo fica mais fácil também. Acho que a torcida ajuda muito. Mesmo quando não estou bem, eles estão me apoiando o tempo inteiro."

"No começo, eu estava jogando com o backhand muito reto e, além disso, deixando ele jogar muito parado o tempo inteiro. Ele estava parado, me mexendo o tempo inteiro, e é uma maneira que meu jogo não rende como eu gosto. Depois, com o tempo, fui vendo que tinha que fazer mais com o backhand, jogar um pouco mais profundo, fazer ele correr um pouco para a direita e fazer ele defender um pouco de direita, e ele estava sentindo dificuldade nessa bola. Depois, eu já conseguia entrar de direita (forehand) para mandar no ponto. Isso foi a chave do jogo de hoje. Com isso, eu também coloquei um pouco mais de pressão nele. Ele começou a errar um pouco mais de backhand. De direita, ele não estava fazendo muito com a bola. Foi importante eu visualizar que eu tinha que mudar um pouquinho a minha tática para inverter o resultado."

Entender o que acontece em quadra é sempre meio caminho para as vitórias. E Bellucci, nas quartas de final de um ATP 500, com 90 pontos somados, já faz sua melhor campanha em um bom tempo (desde abril do ano passado, na verdade).

Seu próximo adversário é David Ferrer, número 4 do mundo, um dos melhores tenistas de saibro da atualidade. Será um desafio em todos os sentidos: técnico, tático e físico. Em um dia normal do espanhol, tudo precisa funcionar no jogo de Bellucci para que o brasileiro saia vitorioso. E quem viu o segundo e o terceiro sets contra Mónaco tem que acreditar que é possível.

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Coisas que eu acho que acho:

– Ainda que a organização do torneio (promovido pela IMX, empresa que agencia Bellucci) tenha escalado o paulista para jogar sempre à noite, é importante lembrar que, fisicamente, o número 1 do Brasil resistiu bem até agora. Não deixa de ser um alívio, considerando que Bellucci vinha de problemas em Melbourne e Buenos Aires. É bem possível que Ferrer exija ainda mais. Vale ficar de olho.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.