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Saque e Voleio

Pode abrir a cerveja: Brasil vence o Zonal da Fed Cup

Alexandre Cossenza

09/02/2014 06h00

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Depois de dez anos, aconteceu. O Brasil venceu o Zonal I das Américas da Fed Cup e vai brigar por um lugar no Grupo Mundial II em abril. O último triunfo da belíssima campanha no Paraguai veio justamente diante das donas da casa. Paula Gonçalves abriu o caminho ao derrotar Montserrat González por 3/6, 6/4 e 1/6 e, em seguida, a número 1 do Brasil, Teliana Pereira fechou a conta com uma vitória inquestionável por 6/3 e 6/2 sobre Verónica Cepede Royg.

O único momento de tensão do time de Teliana, Paula, Laura Pigossi e Gabriela Cé veio neste sábado, na final, quando Paula Gonçalves deixou escapar um segundo set bem encaminhado e precisou jogar uma parcial decisiva. Esse vacilo foi um dos assuntos do meu papo com a número 2 do time na noite deste sábado, no meio da comemoração brasileira. Por telefone, Paula falou da sensação de alívio, e da comemoração, que envolveu biquínis, piscina e cerveja (uma garrafa dividida por nove pessoas!). Tudo, claro, merecido.

Primeiro, me diz qual é a sensação de vencer o Zonal?
Primeiro é uma sensação de dever cumprido, né? Porque ano passado a gente bateu na trave. Ficou aquele gostinho da vitória que escapou. Mas ano passado foi uma surpresa para a gente ter chegado na final. E este ano a gente veio para cá muito focada, muito confiante. A gente sabia que tinha totais condições de levar. Está toda a equipe muito feliz, muito contente, com a sensação de dever cumprido.

Qual foi o maior obstáculo que vocês tiveram que superar?
Dificuldade a gente tem em todo confronto. A gente não conhecia nossas adversárias de Bahamas e do Equador e tem aquela tensão inicial que a gente sente, principalmente no primeiro confronto. Eu senti um pouco. E a Colômbia, que a gente sabia que era um time muito difícil e que quem vencesse teria muita chance de ganhar. Acho que essas foram as maiores dificuldades. A gente estava preparada. Aqui está quente, mas a gente estava adaptada, treinou em um lugar que estava bem quente (Rio Claro, SP). Acho que a dificuldade era manter a nossa tranquilidade, controlar a tensão e a ansiedade em cada partida.

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Já que você tocou no assunto, até o seu jogo hoje, o Brasil não tinha perdido nenhum set. E, de repente, escapou um set que estava bom para você. Como foi o intervalo até o terceiro set? O que você pensou e como foi a conversa com a Carla?
Acho que naquele momento… O jogo inteiro estava muito para mim. Eu fiz 4/2, 40/15, aí começou a passar um filme na cabeça. Antes de sacar, você começa a pensar "nossa, se eu fechar aqui, vou com 5/2, pertinho de fechar o jogo". Começa a passar um monte de coisa boa e ruim. Vem a ansiedade, a tensão bate mais forte. Ela manteve o jogo dela (a paraguaia Montserrat González). Eu é que baixei a minha intensidade, deixei esses monstrinhos entrarem na cabeça, mas a Carla, na virada, me tranquilizou, passou palavras positivas, e foi o que me manteve no jogo para, no terceiro set, eu atropelar de novo.

E a comemoração? Vocês já saíram, vão sair, como vai ser?
Olha… Acabou o jogo, voltamos para o hotel, colocamos biquíni e fomos para a piscina. Foi a primeira coisa que a gente pensou em fazer. Desde que a gente chegou aqui, a gente abriu o frigobar, viu uma cerveja e dissemos: "Meu, a gente vai abrir essa cerveja aqui sábado, quando acabar esse torneio vamos brindar à nossa vitória". E foi exatamente o que a gente fez. A gente foi para a piscina, pedimos aquela cerveja, brindamos, cada uma deu um gole e acabamos de jantar agora, com direito a champanhe também… Agora não sei o que a gente vai fazer. Vamos conversar aqui e ver o que vai rolar.

Você já viu os resultados do Grupo Mundial II?
Não vi. Vi pelas fotos que iam começar os confrontos, mas não cheguei a ver quem ganhou e quem perdeu. Mas agora a gente tem que manter o nosso foco, manter a união, que está muito legal, independentemente de quem vier. A gente está preparada, com certeza.

—fim—

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Coisas que eu acho que acho:

– O mais legal dos papos que bati com as meninas (Laura, Teliana e Paula, nesta ordem) foi sentir que todas se expressavam com naturalidade, sem fazer força para repetir um discurso politicamente correto. Sim, as três deram algumas respostas parecidas, mas é algo bastante natural quando uma equipe vê uma competição do jeito que tem que ser: como equipe. E, sejamos sinceros, não é bacana demais ver uma atleta falar abertamente que comemora tomando cerveja? Qual o problema?

– Para não deixar passar. Fica aqui meu agradecimento à equipe por ter topado conversar por telefone todos os dias (às vezes, até atrasando o jantar por alguns minutos). E obrigado também ao assessor de imprensa da CBT, Rubens Lisboa, que fez a ponte todos os dias – inclusive nas noites de sexta e sábado.

– Repitam comigo: o time da capitã Carla Tiene foi formado por Teliana Pereira, Paula Gonçalves, Laura Pigossi e Gabriela Cé. De novo: Gabriela Cé. Agora em caixa alta: GABRIELA CÉ. Agora mostrem o nome da gaúcha para a ITF, que cometeu um erro grave na página do confronto entre Brasil e Paraguai. Olhem a foto abaixo e vejam que desagradável.

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Coisas que eu ainda acho que acho:

– Volta e meia, eu bato nesta tecla, mas só para não deixar que esqueçam e também para que não achem que tenho algo contra este ou aquele canal. Pois lembram-se daquele manjado discurso que um punhado de narradores enche a boca para pronunciar? Aquele "estamos aqui, divulgando o esporte, acreditando na modalidade", como se estivessem fazendo um grande favor ao exibir uma competição? Pois é. Mostrar Grand Slam e Masters 1.000 é uma coisa. Os jogos do Brasil na Fed Cup ficaram fora da grade de programação.

– Lembrando: os direitos de transmissão da Fed Cup são do SporTV. Entre as atrações do canal no horário do jogo de Paula Gonçalves neste domingo estavam Olimpíadas de Inverno, Campeonato Francês de futebol, Carioca de Showbol e Futebol de Sete. Tudo isso ao vivo.

– O presidente da CBT, Jorge Lacerda, que sempre se manifesta nessas ocasiões, disse que a atitude do SporTV foi uma vergonha e prometeu comunicar à ITF. É a Federação Internacional, afinal, quem vende os direitos de transmissão.

 

Sem ir na toalha (para ler em até 20 segundos):

– O Grupo Mundial II tem os seguintes confrontos: Canadá x Sérvia, Suécia x Polônia, França x Suíça e Argentina x Japão (países citados primeiro jogam em casa). Os quatro perdedores se juntam no play-off a Brasil (Zonal das Américas), Tailândia (Zonal Ásia/Oceania), e dois países do Zonal Europa/África.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.