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Federer: de repente, o favorito

Alexandre Cossenza

22/01/2014 10h57

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Lembremos, por um instante, o cenário pré-Australian Open: Novak Djokovic e Rafael Nadal em ótima forma, Juan Martín del Potro campeão em Sydney e Andy Murray voltando às quadras em um torneio onde sempre conquista bons resultados. Enquanto isso, Roger Federer vinha de uma péssima atuação na final em Brisbane e uma penca de resultados abaixo da média em 2013. Somemos a isso uma chave complicada, que lhe colocaria diante de Tsonga (seu algoz em Roland Garros), Murray (algoz em Melbourne) e Nadal (algoz em todo lugar) antes da final, e era justíssimo ver Federer fora da lista dos principais favoritos ao título.

Não sou eu dizendo. Nas casas de apostas, o suíço era apenas quinto mais cotado, atrás de Djokovic, Nadal, Murray e Del Potro, respectivamente. Mas e agora? O argentino tombou cedo, o sérvio não passou das quartas de final, e o britânico ficou para trás, assim como Tsonga, ambos vítimas de atuações espetaculares de Roger Federer. E o espanhol, próximo adversário, vem jogando com uma bolha gigante na mão esquerda, que o impede de sacar como gosta – e como precisa, ainda mais em uma semifinal de Grand Slam. A outra semifinal tem Stanislas Wawrinka, freguês, e o imprevisível Tomas Berdych. De repente, quem é o favorito? Roger that?

Ainda será preciso passar por Nadal, mas as últimas apresentações do número 1 ficaram muito distantes daquela contra Gael Monfils, na terceira rodada, antes da bolha aparecer. Diante de Nishikori e Dimitrov, Rafa teve um serviço vulnerável, mas não só isso. Sem ganhar pontos de graça com a primeira bola, o espanhol vê abalada a confiança nos golpes de fundo. E sem tanta precisão, é difícil imaginá-lo derrotando Roger Federer – em especial este Roger Federer, de backhands afiados, saques calibrados e uma movimentação lateral que parecia, até meses atrás, um flashback de um episódio de Person of Interest. O suíço versão 2014, raquete maior e tudo, parece tão imbatível quanto em 2007.

Pode haver quem levante o tapete o tire de lá o tema Berdych, que os fãs do ex-número 1 não gostam de lembrar. O histórico é de 11 vitórias de Federer em 17 confrontos, mas o tcheco venceu três dos últimos cinco. As devoluções costumam causar problemas, e Berdych é um dos poucos tenistas do circuito que conseguem atacar o suíço durante a maior parte do tempo. Por que, então, o dono de 17 títulos de Grand Slam seria favorito absoluto? Porque Berdych ainda tem Stanislas Wawrinka pela frente nas semifinais, e Stan derrotou o tcheco em seis das sete partidas mais recentes. Por último, em caso de final suíça, Federer levará para a Rod Laver Arena o retrospecto de 11 triunfos consecutivos. Seria Wawrinka capaz de exorcizar dois demônios em um torneio só na Austrália? Não creio.

Mas a análise pode ser um pouco mais simples, menos apegada a números e tendências. Basta ligar a TV e ver o nível de tênis que Roger Federer vem jogando.

Quem parece capaz de pará-lo?

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Coisas que eu acho que acho:

– A grande questão que deve ser feita agora é: Roger Federer é capaz de vencer Rafael Nadal? A resposta é "sim". Nesta quarta, contra Dimitrov, o espanhol fez uma partida ruim e só saiu da quadra vencedor porque o búlgaro não fez quase nada com suas devoluções de saque. Não esqueçamos, claro, do incrível set point perdido pelo azarão no tie-break do terceiro set. Federer, que tem um backhand bastante superior ao do búlgaro, não deve cometer falhas assim.

– O ponto de interrogação maior diz respeito à bolha na mão de Nadal. Após bater Dimitrov, o número 1 do mundo disse que sente a raquete escorregando da mão durante o movimento de saque. E que, sem ganhar pontos de graça, ele joga alguns pontos sem a calma necessária. Ouso dizer que o espanhol teria sido eliminado por qualquer um dos outros seis quadrifinalistas nesta quarta-feira. Se encontrar uma maneira de apresentar um serviço eficiente contra Federer, Nadal tem chances. Com as condições que ambos apresentaram nas quartas de final, o suíço parece ser muito, muito favorito.

– Sobre as quartas de final, é preciso ressaltar o brilhante comportamento de Andy Murray, que lutou contra um oponente quase perfeito e, mesmo com o jogo quase perdido, seguiu lutando. Quebrou um saque, salvou match points, forçou um quarto set. Sucumbiu porque Federer foi irretocável do começo ao fim, exercendo pressão demais para qualquer adversário.

Sem ir na toalha (para ler em até 20 segundos):

– Conferi duas casas de apostas antes de escrever este post e, para elas, Nadal ainda é o mais cotado. Um título do espanhol paga em média 1,90 para cada dólar apostado, enquanto uma conquista de Federer rende 3,5 para um. Wawrinka vem em terceiro, pagando 6,50. Berdych paga 11 para um.

– Caso alguém não chamado Rafael Nadal seja campeão, assumirá também o posto de número 3 do mundo, jogando Juan Martín del Potro para quarto e David Ferrer para quinto. Federer, chegando à semifinal, está apenas defendendo seus pontos em Melbourne. Por isto, ficará em oitavo se não passar por Nadal.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.