Topo

Saque e Voleio

Esgotado

Alexandre Cossenza

16/01/2014 06h10

Bellucci_AO_2r_get_blog

O placar final mostrou 7/6(6), 6/4 e 6/4, mas o jogo nem foi tão complicado assim para Jo-Wilfried Tsonga. E poderia ter sido mais fácil ainda. O francês, número 10 do mundo, foi o senhor das ações, enquanto Thomaz Bellucci passou boa parte do primeiro set conversando internamente com São Longuinho em busca de seu desaparecido primeiro serviço e mostrou-se esgotado fisicamente ao fim da segunda parcial.

E e o placar não foi mais unilateral no começo, boa parte do mérito (ou da culpa?) é do próprio Tsonga, que arriscou demais sempre que esteve à frente no placar, como se estivesse fugindo de longas trocas no calor Melburniano. A outra parcela é do brasileiro, que não perdeu a cabeça e seguiu paciente, esperando os momentos instáveis do adversário, ainda que ele próprio, Bellucci,
raramente conseguisse tomar a iniciativa dos pontos.

No primeiro set, o paulista foi quebrado no terceiro ao cometer uma dupla falta, e Tsonga só não conseguiu abrir mais porque o segundo serviço de Bellucci gerava bastante efeito, forçando o rival a devolver bolas altas. O francês seguiu arriscando tudo até que um game ruim permitiu a igualdade. E o tie-break não foi nada diferente do resto do set. Tsonga deixou de lado a postura kamikaze no começo e, superior do fundo de quadra, abriu 6/2. Aí, resolveu forçar umas bolas e, rapidinho, viu o placar mostrar 6/6. Então, foi melhor nos dois pontos seguintes e finalmente fez 8/6.

A segunda parcial não foi lá muito diferente, a não ser pelo cenário. Depois de dois dias de altas temperaturas e jogos ininterruptos, o Australian Open colocou em ação sua "política de calor extremo" e fechou o teto da Hisense Arena. A outra mudança foi na postura de Tsonga, que quebrou no primeiro game e, desta vez, administrou melhor. Bellucci passou a encaixar mais o primeiro serviço (50% de aproveitamento, contra 34% do set inicial), mas continuou tendo o saque ameaçado e precisou salvar dois break points no quinto game. O francês, soberano, só cedeu dois pontos de saque em todo o set até fechar em 6/4.

Mais uma quebra no primeiro game, e Tsonga saiu na frente no terceiro set. Na primeira virada de lado, Bellucci pediu atendimento médico. Parecia esgotado. Começou, então, a sacar e volear em todos os pontos. Funcionou na medida do possível, o que significa que o francês não conseguiu mais nenhuma quebra. O número 2 do Brasil ainda teve uma solitária chance de quebra, mas Tsonga se salvou e manteve a dianteira até selar sua vaga para a terceira rodada.

Tsonga_AO_2r_get_blog

Coisas que eu acho que acho:

– No fim das contas, Bellucci termina o Australian Open com três vitórias no quali, um triunfo na chave principal e uma derrota para um top 10. Um balanço levemente positivo, considerando que sua última vitória em um Grand Slam comemorava seu segundo aniversário justamente neste torneio. Além disso, somou um triunfo após salvar match points no quali.

– O lado negativo é que vimos Bellucci novamente vítima de problemas físicos. Nesta quinta, o brasileiro estava esgotado depois de dois sets (um deles, disputado com a quadra coberta). A mais otimista das avaliações deve concluir que Bellucci estava bem menos condicionado do que Tsonga.

– Na entrevista pós-jogo, o francês foi educado e disse que Bellucci parecia estar "um pouco cansado" porque veio do qualifying. De fato, o brasileiro fez um jogo longo na última quinta-feira (uma semana atrás), mas desde então disputou apenas cinco sets em seis dias – não é tanto assim para um tenista profissional – antes de entrar na quadra para encarar o francês. Ainda que estivesse sofrendo cansaço acumulado, vale levantar duas questões. 1) Será que vale a pena disputar o quali quando não se tem preparo para ir adiante na chave principal? 2) Quem sabe não foi só o jogo de hoje que deixou Bellucci esgotado?

– Antes que você, leitor, diga "é muito fácil escrever isso sentado no sofá, no ar condicionado", aviso logo que concordo (e tenho 12 mil BTUs aqui do lado, também concordando com você). Ninguém aqui está dizendo que é moleza ir a Melbourne, jogar o quali e disputar a chave principal naquele sol do capeta. Óbvio que não é. Mas também é cristalino que há tenistas fazendo isso bem melhor do que Bellucci. E essa é a referência que todos – inclusive ele – precisamos ter.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.