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Saque e Voleio

Djokovic e Becker: blefe ou royal straight flush?

Alexandre Cossenza

20/12/2013 13h43

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Eis que o período de férias do tênis ganhou algum ânimo quando Novak Djokovic anunciou Boris Becker como seu novo "head coach" – técnico principal. Sim, Boris Becker, o alemão de 46 anos que foi número 1 do mundo na década de 90 e ganhou seis Grand Slams em simples na carreira. Um currículo invejável para qualquer treinador, a não ser por um detalhe: Becker nunca treinou um tenista de ponta.

Não que seja um problema, necessariamente. Ivan Lendl passou um bom tempo afastado do circuito antes de formar parceria com Andy Murray. Desde então, o escocês venceu dois Majors e conquistou um ouro olímpico. E Becker, desde que parou de jogar, ocupou a maior parte de seu tempo jogando pôquer, cuidando de suas atividades no Laureus, promovendo sites de apostas, reconhecendo uma paternidade e paquerando modelos.

Boom Boom também comenta tênis para a BBC e frequentemente usa o Twitter para divulgar notícias que aconteceram duas horas antes. O "atraso" até ganhou o apelido mundial de Boris Delay, que certamente será reproduzido quando Djokovic começar uma partida sonolento. Será a tradicional piada pronta. Aguardem.

É importante lembrar que o anúncio da contratação coloca Becker como "head coach", o principal, com o eslovaco Marian Vajda (o cidadão que ganhou abraço na foto abaixo) explicando que terá mais tempo para a família. O alemão acompanhará Djokovic em 12 eventos: Australian Open, Dubai, Miami, Monte Carlo, Roma, Roland Garros, Wimbledon, Cincinnati, US Open, Xangai, Paris e Londres. Vajda, por sua vez, vai a Indian Wells, Madri, Toronto e Pequim.

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O que esperar, então, da parceria? Acho que qualquer análise precisa partir de um princípio básico. Tenistas não contratam técnicos baseados necessariamente no que eles fizeram de melhor dentro de quadra. Aliás, muitos grandes técnicos sequer foram atletas de destaque. Basta ver o resultado das relações Vajda-Djokovic e Larri-Guga (só para ilustrar com um exemplo caseiro). Partindo deste princípio, contratar Becker não significa, necessariamente, que Nole quer se tornar um mestre do saque-e-voleio.

É compreensível que os fãs do atual número 2 do mundo estejam preocupados. Primeiro porque em time que está ganhando, não se mexe, já diz o ditado. Depois porque Becker não é lá muito conhecido por comentários profundos em suas participações na BBC. Pelo contrário. O alemão geralmente faz observações rasas, que pouco adicionam às transmissões. Além disso, a imagem construída por Becker deixa todos imaginando se ele será capaz de se dedicar integralmente a tudo que envolve acompanhar um tenista top – longas sessões de treino,partidas, viagens, entrevistas, etc..

Por que diabos, então, Novak Djokovic contratou Becker e não alguém com mais experiência como treinador de ponta? Já li especulações sobre o sérvio querer mais exposição publicitária no oeste europeu, onde o alemão é muito reconhecido. Neste cenário, Becker atuaria como fantoche, fazendo aparições e "divulgando" o pupilo por onde passasse. Faz sentido esta teoria? Até faz, se considerarmos que Nole já está bem grandinho para conduzir sua carreira sem um treinador full-time. Afinal, não há muitos aspectos de seu tênis que necessitem de evolução.

Outra tese, também baseada no princípio de que Djokovic pode administrar seus passos, treinos e jogos por conta própria, é a de que Becker seria uma distração para a imprensa. Enquanto o sérvio segue vencendo, o alemão atrai todas atenções e deixa o tenista mais à vontade para seguir concentrado em conquistar mais vitórias e mais títulos. O pensamento tem sua dose lógica, mas não compro. Até porque não acho que o número 2 do mundo, ex-líder do ranking e acostumado aos holofotes (que ele tanto gosta!), precise de um "cordão de isolamento".

A única verdade incontestável por enquanto é que não saberemos o porquê da parceria até que Djokovic e Becker deem mais detalhes. O que será que os dois conversaram? O que o alemão disse para convencer Nole de que a união terá sucesso? Quaisquer que tenham sido os motivos, o número 2 tem um título a defender em Melbourne. Não convém arriscar um all-in esperando pelo que vai aparecer no river

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.