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Bruno Soares: embaixador, padrinho e estudioso

Alexandre Cossenza

27/11/2013 06h00

Respire fundo porque a frase seguinte é longa. Desde que voltou ao Brasil, na última quarta-feira (13 de novembro), até o início de sua pré-temporada, marcado para 9 de dezembro, Bruno Soares tinha/tem agendados quatro almoços, três coletivas, uma sessão de autógrafos, duas participações em programas de TV, seis clínicas, duas sessões de fotos, um dia reservado para resolver problemas pessoais, cinco visitas a academias e projetos sociais, um Google Hangout para uma revista, um torneio de pôquer, duas cerimônias para receber prêmios, cinco dias de estudo e, ufa, cinco dias não consecutivos de folga.

BrunoSoares_clinica_cbt_blog

Foi em um desses compromissos (uma visita à Tennis Route, no Rio de Janeiro), que consegui algum tempo para conversar com o duplista número 3 do mundo. Depois de falar com o Fox Sports e o SporTV, dar uma divertida entrevista ao Moleque Esporte Clube e dar uma palestra a jovens da academia, sobrou um tempo para mim. Eu, aliás, dei sorte, porque íamos para o mesmo lugar. Combinamos, então, de fazer a entrevista no carro, o que foi ótimo pela qualidade do áudio e pelo tempo disponível (sexta-feira, às 18h, o trecho Recreio-Zona Sul não se faz em menos de uma hora).

A intenção era falar sobre seu papel como embaixador não oficial do tênis brasileiro. Afinal, quase sem querer, Bruno Soares assumiu este papel quando se fez disponível para tantos compromissos e atendeu um número enorme de jornalistas. Intencionalmente ou não, o mineiro de 31 anos é hoje a cara e a voz dos tenistas brasileiros. Se você assistir a algum programa sobre tênis na TV ou acessar algum site especializado neste fim de ano, provavelmente vai ver/ler uma entrevista com o homem (e é exatamente isto que você está fazendo agora!).

Acabamos falando um pouco também sobre a faculdade iniciada em agosto e o recém-anunciado Programa de Transição, do qual Bruno é padrinho em parceria com Marcelo Melo, Daniel Melo e a Confederação Brasileira de Tênis (CBT). Veja como foi a conversa, que começou depois de longos dez minutos, tempo no qual Bruno lembrou, dia a dia, sua agenda de compromissos (com ajuda de seu empresário, Marcio Torres).

Alguns compromissos são seus, pessoais, outros são com patrocinadores. Mas em quase todas visitas, você atendeu a imprensa. Você abraçou o papel de embaixador do tênis, não?
Por eu fazer isso de uma forma natural e não ser uma coisa que nunca me incomodou, as pessoas falam isso. Na minha opinião, isso faz parte do meu trabalho. Acho que todo jogador deveria fazer. Quando as pessoas têm interesse em falar com você a respeito do seu trabalho e as muitas coisas que você está fazendo, é seu papel, é seu trabalho atender essas pessoas. Acho que quando a gente se torna um jogador de tênis profissional, não é só entrar na quadra e jogar tênis. Muita coisa envolve ser um jogador profissional. É uma das minhas obrigações atender essas pessoas, esses veículos que estão cobrindo esse tipo de coisa. É muito fácil para mim porque eu sempre levei de uma forma muito natural e nunca me incomodou. Acho legal que as pessoas me tenham como embaixador e espero que as pessoas possam usar isso como exemplo positivo.

A ideia não é te colocar em uma posição desconfortável, mas acho que vou colocar de qualquer maneira… Você acha que os jogadores mais novos observam isso e aprendem um pouco?
Acho que sim. Quando a gente passa a ter um destaque legal, você passa a ser a referência para várias pessoas. Estão constantemente olhando não só o que você faz dentro de quadra, mas as suas atitudes, a forma como você leva sua vida de profissional. Esse tipo de coisa mostra a seriedade que eu tenho com todos os lados que envolvem a vida de um profissional. Acho extremamente importante a parte da mídia. Eu, estando na mídia, vou agradar aos meus patrocinadores, fazendo com que as pessoas conheçam melhor o Bruno Soares, fazendo com que as pessoas passem a entender e a me conhecer melhor e, automaticamente, torçam mais por mim. Isso tudo tem um valor agregado muito maior do que só a própria entrevista.

E falando em jogadores mais jovens, a gente chega no projeto que é seu, do Marcelo e do Daniel, de levar juvenis para acompanhá-los em torneios…
O contexto geral da nossa ideia é juntar o máximo possível o tênis, em todos os sentidos. Isso é uma das etapas que a gente pode contribuir de uma forma mais direta, abrindo algumas portas importantes para a turma ter esse acesso. A ideia está numa fase inicial, a CBT está tornando ela viável, porque sem a ajuda da CBT a coisa não acontece. Eu, o Marcelo e o Dani não conseguimos fazer isso acontecer sozinhos. O papel meu e do Marcelo é abrir as portas e ajudar, mas quem vai fazer o projeto ser muito bom vão ser as pessoas que vão estar envolvidas diretamente nele. A gente não tem condição de pegar dois meninos, falar "vamos para a Europa comigo" e ficar cuidando e tendo outras preocupações. Eu também tenho meu trabalho, que não está fácil. Mas eu vejo que a gente consegue contribuir com nosso tempo livre. A ideia geral é tentar unificar mais o tênis. Trazer todo mundo mais perto. Os treinadores mais perto dos jogadores, os profissionais mais perto dos juvenis, a imprensa com acesso a todo mundo, pais tirando suas dúvidas… Quanto mais o tênis crescer, mais todo mundo vai ter a ganhar.

Você fala em união, e hoje não se vê mais cinco, dez brasileiros viajando junto, como acontecia na década de 80. Isso é só porque não há tanto tenista jogando ATP ou há outros fatores que causaram essa separação?
São algumas coisas. Naquela época, era muito mais difícil fazer as coisas acontecer, principalmente em termos de viagem. Havia menos opções, chegar na Europa era mais complicado. Então, na grande maioria das vezes, a turma tinha que se juntar mesmo e dizer "vai ser muito melhor para todo mundo. A gente vai, aluga uma casa, divide tudo." Hoje, a coisa melhorou demais. Tem muito mais opção, é muito mais barato viajar, apesar de ainda ser caro. E é muito mais simples. Você tem 300 opções hoje. Acabou dividindo, aos poucos, as pessoas. Tem gente que gosta mais de jogar nos Estados Unidos, tem gente que gosta de jogar mais na Europa, e vai dividindo… E um pouco disso é da diminuição de jogadores no alto nível, mas vale frisar que é muito mais competitivo hoje em dia. Há muito mais gente fazendo isso (jogando tênis profissional) do que há dez, vinte anos atrás. Automaticamente, torna-se mais difícil chegar no alto nível.

Você começou a fazer faculdade agora, em agosto, em um curso online de marketing da Estácio. Como está sendo?
Faculdade é uma coisa que eu sempre quis fazer. Um dos grandes arrependimentos da minha carreira foi não ter feito faculdade nos EUA. Na época, é difícil tomar essa decisão com 18 anos. Eu queria jogar e fiz a opção (de seguir como profissional), ok. Mas faculdade foi uma coisa que eu sempre quis desde que começou esse acesso online. Já fiz alguns cursos, sempre procurei, sempre gostei. No início do ano, no Brasil Open, batendo papo com o Duda (Matos, um dos técnicos da Tennis Route), ele falou da Estácio, que ele tinha uma grande amizade com o Rogério (Melzi, presidente da Estácio), um cara que gosta muito de tênis. Eu falei "Duda, tenho o maior interesse em fazer uma faculdade." Bati alguns papos com o Rogério e pintou isso aí. Aí comecei a fazer a faculdade e pintou esse patrocínio também. Hoje, temos uma parceria super legal. Comecei a remar agora. Tem muito pela frente.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.