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Saque e Voleio

Comprometidos, competentes e campeões

Alexandre Cossenza

18/11/2013 12h05

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Não, a República Tcheca não conquistou dois títulos de Copa Davis só com dois tenistas, mas o triunfo na final contra a Sérvia, em Belgrado, assim como muitos outros dos atuais bicampeões, veio, de novo, nas costas de Tomas Berdych e Radek Stepanek. E uma parceria comprometida desde sempre a vestir as cores do país, como todos sabem, faz toda a diferença do mundo nesta competição.

O ponto decisivo veio com Radek Stepanek derrotando Dusan Lajovic por 6/3, 6/1 e 6/1, mas talvez seja igualmente justo apontar que a conquista tcheca foi assegurada no sábado, com a vitória nas duplas por 6/2, 6/4 e 7/6(4) em cima de Ilija Bozoljac e Nenad Zimonjic. E este cenário já era bem claro desde a quinta-feira, quando foi confirmada a ausência de Janko Tipsarevic.

Sem um número 2 de alto nível, Novak Djokovic fez tudo que era possível. Ou melhor, quase tudo. Na sext, abriu o confronto derrotando Stepanek por 7/5, 6/1 e 6/4. No domingo, deixou tudo igual no quarto jogo ao bater Berdych por 6/4, 7/6(5) e 6/2. Faltou uma vitória de Lajovic, número 117 do mundo, que pouco fez. Caiu diante de Berdych por 6/4, 6/3 e 6/3 e, depois, venceu só cinco games no jogo final.

E quando digo no parágrafo anterior que Djokovic fez "quase tudo", faço uma referência à sua ausência na partida de duplas. Seria oportunismo barato da minha parte dizer que a Sérvia perdeu o título porque Nole não esteve em quadra no sábado. Ao mesmo tempo, é inevitável observar que ficou um gostinho de "e se" para muita gente que acompanhou o confronto. É mais do que justo imaginar o que teria acontecido. Trata-se, afinal de contas, do número 1 do país, número 2 do mundo, cheio de confiança e invicto desde o US Open.

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Não que necessariamente mudaria o resultado. Berdych e Stepanek, contando o último sábado, acumulam 14 vitórias e só uma derrota quando jogam duplas na Davis. Além disso, Djokovic pouco se arrisca na modalidade. Na semifinal de 2010, quando atuou ao lado de Zimonjic e enfrentou os tchecos, perdeu em quatro sets. E mais: Zimonjic e Bozoljac fizeram um jogaço em abril, quando derrotaram os irmãos Bryan por 15/13 no quinto set, em solo americano. Por que não acreditar que seriam capazes de fazer o mesmo agora, em casa? O capitão sérvio, Bogdan Obradovic, não disse muito. Usou aquele discurso padrão de capitão: conversou com todo mundo no time e tomou a decisão.

Enquanto os sérvios ficam imaginando, a República Tcheca comemora, pois tornou-se um dos cinco países a defender com sucesso um título de Davis. Além disso, Stepanek agora junta-se a Henry Cochet (1927, '29 e '31) e Fred Perry (1933 e '36) no grupo de tenistas que venceram pelo menos duas quintas partidas em finais de Copa Davis. Certamente, um grupo seleto.

E se você, leitor, ainda não entendeu a paixão que a Copa Davis desperta na maioria dos tenistas, Stepanek "desenha" para você na comemoração.

"É uma linda estatística, o que posso dizer? Estou indescritivelmente feliz. É o maior momento da minha carreira. Ganhar a Copa Davis é, até agora, o meu maior feito. Fui top 10 em simples, top 10 em duplas, ganhei dois Grand Slams, joguei Masters em simples e duplas. Ganhar duas Copas Davis está acima de tudo isso".

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Coisas que eu acho que acho:

– Berdych e Stepanek mostram, pelo segundo ano consecutivo, que é possível vencer a Copa Davis só com dois (muito) bons tenistas – desde que ambos estejam comprometidos com o objetivo, é claro. Não seria bacana ver a Suíça tentar algo parecido? Federer e Wawrinka, campeões olímpicos de duplas em Pequim, poderiam muito bem fazer igual.

– Vale lembrar que, mesmo sem Federer, a Suíça até poderia ter derrotado o time tcheco este ano, em Genebra. Com o duelo empatado em 1 a 1, Wawrinka e Chiudinelli perderam a partida de duplas por 24/22 no quinto set. Stepanek esteve ausente, e Berdych formou parceria com Lukas Rosol na ocasião. Berdych foi o nome daquele fim de semana, participando dos três pontos da equipe.

– Acho que as duas finais de Davis mostram uma grandeza que nem todo mundo enxerga em Stepanek. Em 2012, o provável era que Berdych fechasse o confronto na quarta partida, mas Ferrer manteve o confronto vivo. Stepanek, então, foi lá e bateu Almagro. Desta vez, o cenário era totalmente diferente. Desde o sorteio já se imaginava uma decisão no quinto jogo. E Stepanek, outra vez, triunfou. Em dois momentos bem distintos, o cidadão foi lá e jogou o melhor que podia. Não é tão fácil assim.

– E para dar o devido crédito aos coadjuvantes tchecos, lembremos também que a vitória sobre o Cazaquistão, nas quartas de final e no saibro de Astana, veio sem Berdych. Jan Hajek e Rosol, nas simples, conquistaram os três pontos. Stepanek só entrou em quadra no sábado, ao lado de Hajek, mas a dupla cazaque, com Andrey Golubev e Yuriy Schukin, venceu.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.