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Saque e Voleio

Ao encerrar sequência de Zverev, Nadal manda outro recado ao circuito

Alexandre Cossenza

20/05/2018 15h20

Alexander Zverev vinha em grande momento. Foi campeão do ATP 250 de Munique e, na semana seguinte, levantou o troféu do Masters 1.000 de Madri. Até chegar à final em Roma, ganhou 13 jogos seguidos e só perdeu dois sets. Com Roland Garros começando daqui a uma semana, um título neste domingo, especialmente sobre Rafael Nadal, colocaria uma pulga atrás da orelha de muita gente – mesmo sabendo que o alemão nunca passou das oitavas de final de um slam.

E o que aconteceu? Mais um recado de Rafael Nadal. Um triunfo soberbo por 6/1, 1/6 e 6/3, que faz o circuito inteiro ouvir, alto e claro, que o espanhol foi, é e continuará sendo o favorito indiscutível ao título de Roland Garros – com uma certa folga, já que não há Federer e Murray na chave, Wawrinka não voltou a jogar em alto nível e Djokovic ainda tem alguns passos a dar.

Não que uma vitória de Zverev fosse alçá-lo instantaneamente ao posto de favorito. Roland Garros é slam, melhor de cinco sets, tem muita coisa em jogo. Por outro lado, há de se considerar a importância de um triunfo em Roma. O alemão chegaria a Paris acreditando mais, e não tem preço o tipo de confiança que se adquire com um resultado sobre Rafa no saibro.

Nadal, é claro, sabe disso e deu uma resposta gloriosa. Depois de perder o saque no primeiro game – um brilhante game de Zverev, é bom que se diga – tomou o controle das ações, anulando as principais ramas do rival: a potência e o saque. Devolveu saques com bolas fundas e spin, plantado lá no fundão da quadra. Deu slices, fazendo o grandalhão de 1,98m se abaixar. Quando conseguiu, também usou ângulos, fazendo o rival se mexer.

Zverev reagiu de forma furiosa no segundo set. Quando calibrou os golpes, agrediu com mais confiança, e o jogo mudou radicalmente. Enquanto Nadal passou a errar mais, o alemão entrou mais na quadra, venceu cinco games seguidos e acabou devolvendo o placar da primeira parcial. E ainda seguiu melhor, quebrando o espanhol no primeiro game do terceiro set, quando os primeiros pingos surgiram no Foro Italico.

E foi aí que o jogo mudou radicalmente. Após 50 minutos de paralisação por chuva, Nadal deu mais uma amostra de um dos vários motivos pelos quais é um enorme tenista. Voltou à quadra agressivo e sem falhar. Zverev, por sua vez, não conseguiu reencontrar a precisão de antes da pausa. O espanhol, com mais margem de segurança graças a seu top spin, atropelou. De 2/3, venceu quatro games seguidos para levantar o troféu pela oitava vez.

Coisas que eu acho que acho:

– A sequência Munique-Madri-Roma foi a melhor da jovem carreira de Zverev. Não só pelas 13 vitórias seguidas, mas pela maneira com que venceu. Em nenhuma dessas partidas, ele foi realmente ameaçado – e perdeu apenas dois sets. E quem sabe o que teria acontecido se a chuva não tivesse interrompido a final deste domingo, hein?

– Ainda é cedo, mas vale já ficar de alerta. Zverev, número 3 do mundo, ficará 3.155 pontos atrás de Nadal no ranking de amanhã, quando o espanhol voltará ao topo. No entanto, Nadal tem 2.180 pontos a defender até o final de Wimbledon. Federer, 100 pontos atrás de Nadal, precisará defender 2.500. O alemão, por sua vez, tem apenas 490 para segurar. Uma boa sequência de Zverev no período, e ele pode sair de Londres pensando seriamente no #1.

– Matematicamente, claro, Zverev pode assumir o topo, mas considerando os reinados de Nadal em Roland Garros e Federer em Wimbledon (além do histórico do alemão em slams), não é um cenário tão provável assim.

– Pode ter ficado a impressão de que Zverev deixou o título escapar, mas me parece o tipo jogo – até pelos 21 anos do garotão – que vai servir de ânimo para o jovem alemão. São poucos que, no saibro, conseguem colocar Nadal na posição desconfortável de hoje. Zverev sabe que não está tão longe assim dos melhores. Não há motivo para desespero. Quando os resultados nos slams vierem…

– Nadal teve um momento ruim no segundo set. Errou mais do que de costume, perdeu a paciência e deixou Zverev tomar a liderança. No entanto, sua postura após a paralisação foi mais uma daquelas demonstrações de por que ele é tão difícil de ser batido em melhor de cinco sets. Para derrotá-lo em Roland Garros, é necessário ser muito agressivo e muito preciso. E por muito tempo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.