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Cossenza Responde: perguntas e respostas no Ano Novo

Alexandre Cossenza

01/01/2020 13h22

A temporada 2020 começa diferente, com a estreante ATP Cup roubando as atenções dos outros ATPs e até do fortíssimo WTA de Brisbane. E já que é tempo de novidade, também faço diferente aqui no blog": abro o ano olímpico de 2020 com uma edição do Cossenza Responde, o antigo P&R, com minhas respostas e opiniões para perguntas enviadas por vocês, leitores, no Twitter.

Antes de entrar nas questões, desejo a todos um ano leve, feliz, cheio de conquistas e, principalmente, com mais aces do que erros não forçados. E continuem lendo o blog e interagindo no Twitter, no Facebook e no Instagram.

Mathews, o próprio Federer nega essa teoria de que Tóquio seria uma meta porque lhe falta um ouro em simples. Ele também já disse, inclusive recentemente, que não precisa ganhar algo grande para se aposentar. Em outras palavras, o que ele quer dizer é que ele não tem a necessidade de rumar para a aposentadoria no estilo Sampras, que ganhou um US Open e parou de jogar em seguida. O suíço diz que joga porque gosta do esporte, curte o circuito e ainda se sente competitivo. De fato, são três verdades. Agora… A história do esporte está cheia de exemplos de atletas que adotam um discurso e, na hora, na prática, fazem outra coisa. A gente só vai descobrir se Federer fala sério quanto a isso se ele conquistar o título em Tóquio. Aí vai ficar claro se é verdade ou se é aquele papo maroto para evitar que a imprensa e os fãs se concentrem (e cobrem) demais em um único torneio.

O calendário deste ano é um pouco diferente do de 2016, mas pouco muda em relação aos slams, que devem continuar sendo prioridade máxima para a maioria dos tenistas – especialmente em uma época em que há recordes importantes em jogo e na reta final da carreira do ex-Big Four. A vantagem para os tops é que o torneio de tênis nos Jogos de Tóquio começa no fim de julho, antes dos Masters de Toronto e Cincinnati. O torneio carioca ficou bem no meio dos dois eventos. Logo, ninguém deve se ausentar de Tóquio alegando medo de zika.

Oi, Daniel. Essa questão entra na região do adivinhômetro, não só para mim, mas para toda imprensa que cobre tênis, já que a equipe de Andy Murray não revela nada além do extremamente necessário sobre as condições físicas do escocês. Ele, no momento, se recupera de uma lesão no púbis (essa, pelo menos, é a versão oficial) que surgiu logo em uma sequência de torneios no fim de 2019. Eu apostaria que ele vai manter uma postura cautelosa em relação a seu corpo. Acho até difícil que ele tente disputar muitos torneios em sequência – a não ser que sofra seguidas derrotas.

Matheus, a resposta para isso depende do tema da questão acima. Fisicamente bem, Murray pode voltar a brigar por coisas grandes. Quanto às casas de apostas, elas sabem muito bem cuidar de suas contas bancárias. Colocar Murray como quarto mais cotado em Wimbledon é levar em consideração seu potencial. Como faltam seis meses para o evento, há tempo de sobra para o escocês trabalhar seu tênis e chegar em boas condições lá, onde ele já levantou o troféu duas vezes. Seria ingênuo das casas de apostas colocar Murray como, sei lá, 30º mais cotado e precisar pagar uma bolada seis meses depois.

Antes de mais nada, é preciso reconhecer que o tênis, como modalidade, não tem problemas de patrocínio. As TVs vendem as cotas de publicidade sem drama, o Rio Open tem parceiros fiéis desde a primeira edição e as promotoras que têm projetos aprovados junto ao ex-ministério do Esporte conseguem patrocínios incentivados sem tanto drama. Marcelo Melo e Bruno Soares também não podem reclamar de apoio. Ambos têm resultados e posturas que atraem marcas.

Quem tem problemas com patrocínio é a Confederação Brasileira de Tênis (CBT), mas isso não é de 2019. Há um histórico (intervenção federal na gestão Nastás e Jorge Lacerda condenado a prisão) que pesa contra a entidade, e empresas grandes e sérias cada vez mais têm o cuidado de não associar suas marcas a federações e confederações quando considera-se que há algum risco, ainda que pequeno, de um escândalo surgir e manchar a imagem da empresa. A melhor saída para isso é ser transparente, divulgar números e mostrar que a administração vem sendo feita de maneira correta e honesta. Quando isso não acontece, a primeira coisa que um empresário sério se pergunta é: "Por que não querem mostrar os números?" A resposta costuma explicar quem tem patrocínio ou não.

Foi sondado, sim, Gui, e as negociações caminharam. Dimitrov esteve perto de fechar com o torneio, mas acabou decidindo não se comprometer.

Elaine, se você está falando de 2011, quando ele dominou o circuito e somou mais de 40 vitórias seguidas, terminando o ano com três títulos de slam, minha resposta é sim e não. Calma, eu explico. Não duvido nem um pouco que Djokovic volte a ser dominante e conquiste a maioria dos próximos slams. O que acho é que ele, ciente de que a idade vem chegando, será mais econômico não só na montagem de seu calendário, mas no tênis. Imagino um Nole muito mais focado nos slams do que em vencer todos Masters e somar a maior quantidade possível de pontos. Por isso, não verei drama se ele conquistar o Australian Open mais uma vez e, nos meses seguintes, não mostrar um tênis vistoso em Indian Wells/Miami. Foi, aliás, o que aconteceu em 2019, e ele chegou a Roland Garros em ótimas condições de brigar pelo título.

Entre simplistas, Roger Federer e Taylor Townsend. No caso do feminino, a americana é praticamente a única que consegue fazer o saque-e-voleio funcionar com alguma consistência. Nas duplas, a coisa muda. Todo mundo faz isso muito bem. Eu, particularmente, gosto muito de Marcelo Melo. Poucos fazem o primeiro voleio – principalmente aquele com a bola baixinha, quase no pé – como ele.

Acho que o único brasileiro pronto – e olhe lá – para chegar ao top 50 hoje seria Thiago Monteiro, mas ele já não é uma promessa. João Menezes e Thiago Wild, os próximos da fila, ainda estão no meio de um processo que pode colocá-los lá, mas eu não apostaria que um dos dois vai terminar 2020 entre os 50 do mundo.

É uma questão interessante, Marcos, mas há uma tendência contrária por parte dos torneios. A maioria dos eventos reduziu a velocidade de suas quadras porque ninguém quer ver um festival de aces. A maior parte do público que paga ingresso ainda prefere ver ralis mais trabalhados do que pontos decididos em uma ou duas bolas.

Boa pergunta, Renan. Há até algumas semelhanças entre Brasil e Argentina, mas isso se limita à falta de apoio e estrutura estatais. Lá, porém, há mais quadras públicas e, de modo geral, uma cultura tenística muito maior do que por aqui. Quase todos tenistas com quem conversei afirmam que lá há muito mais professores qualificados – já no primeiro nível, nos clubes, para quem tem o primeiro contato com o esporte. Isso já faz uma diferença grande. Eles também têm mais técnicos de alto nível (não por acaso, Monteiro, Bellucci, Rogerinho e Bia Haddad já tiveram técnicos argentinos), mais intercâmbio, menos panelinhas, etc. Ah, sim: os próprios tenistas afirmam que os argentinos têm muito mais garra para encarar as dificuldades do circuito profissional.

Pedro Paulo, eu acho louvável por parte da Clijsters tentar um retorno ao circuito aos 36 anos, mãe de três filhos. É lindo quando ela diz que quer descobrir o quão boa ela ainda pode ser. O tênis feminino de hoje, contudo, tem um cenário bem diferente do de 2009, quando ela voltou após a primeira gravidez e conquistou o US Open derrotando Venus e Serena. Há mais atletas velozes e que batem forte na bola, há mais versatilidade, e a exigência física é enorme. Kim já teve várias lesões, e tenho aqui minhas dúvidas sobre o quanto seu corpo vai aguentar. Adoraria vê-la ganhar algo grande porque trata-se de uma figura carismática, inteligente e que tem coisas legais para passar ao público, mas não apostaria nisso, não.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.