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O que a MEB Cup mostrou sobre a 'NextGen' brasileira

Alexandre Cossenza

03/12/2019 04h00

Felipe Meligeni conquistou, no último fim de semana, o título da Maria Esther Bueno Cup, torneio organizado pelo Rio Open com jovens de até 23 anos e que vale uma vaga na chave principal do ATP 500 carioca. O campineiro de 21 anos, número 393 do mundo, garantiu seu lugar ao derrotar na final o paranaense Thiago Wild (19 anos, #213) por 2/6, 7/6(4) e 6/3. Mas o que um torneio que também teve Orlando Luz (21, #303), Rafael Matos (23, #473), João Lucas Reis (19, #556), Matheus Pucinelli (18, #913), Gilbert Klier Jr (19, #543) e Lucas Koelle (21, tênis universitário) mostrou sobre a "NextGen" do tênis brasileiro?

Antes de mais nada, é preciso lembrar que João Menezes (22, #191), atual número 2 do Brasil, recusou o convite para a MEB Cup por questões de calendário (e, possivelmente, porque ele sabe que tem uma chance muito grande de receber um convite para a chave do Rio Open). Dito isso, o resultado, com Meligeni, Wild, Luz e Matos como semifinalistas, é um bom indício de que os quatro realmente estão acima dos demais no momento.

Meligeni mostrou enorme evolução depois de dois anos treinando na Espanha, tanto técnica quanto mentalmente. Ainda há muito trabalho a ser feito em seu tênis. Na decisão contra Wild, Felipe fez menos do que poderia com as devoluções de segundo saque e oscilou mental e taticamente. Contudo, fez o que precisava para derrotar um adversário que mostrou problemas físicos depois do primeiro set, o que é um bom sinal, e mostrou que seu primeiro saque e seu forehand têm potencial enorme (segundo serviço e backhand têm mais espaço para evolução).

Wild segue dando a impressão de ser o mais promissor da geração. Tem os golpes mais bem resolvidos e sabe o que fazer em qualquer lugar da quadra. Tem toque e potência. Ainda tem seus altos e baixos durante os jogos, o que não é raro em sua idade. É preciso dizer que Wild não estava nas melhores condições físicas durante o torneio e que isso afetou sua campanha (já na semifinal, ele recebeu atendimento médico e teve sua pressão medida depois do set inicial). E embora não abale seu tênis, também é preciso dizer que falta algo ao paranaense no quesito carisma. Teve torcida contra na semi e na final (como no Challenger de Campinas, onde Meligeni era local) e saiu da decisão iniciando uma discussão com Felipe e levando vaias do público.

Luz também teve evolução após dois anos de Espanha, inclusive encontrando uma solução para enxergar melhor em quadra (ele tem um sério problema de vista). Seu jogo, contudo, ainda depende demais do combo saque+direita. São belos golpes, mas o tênis moderno já não dá mais tanto espaço para isso. Orlando ainda tem muito a crescer também taticamente e, principalmente, na leitura de jogo. No sábado, na semifinal contra Wild, foi incapaz de aproveitar o momento fisicamente ruim de Wild. Ganhou uma quebra de graça no segundo set, teve a chance de iniciar a virada ali, mas deu um game praticamente de presente na sequência. A derrota veio como castigo.

Matos é meu preferido do quarteto. O canhoto é quem melhor trabalha pontos e lê as partidas. Sabe o que fazer no fundo e na rede. Não por acaso, frequentemente faz boas campanhas nas chaves de duplas. É também o mais simpático (e mais bonito?) do grupo. Falta-lhe, contudo, potência, tanto no saque quanto no forehand, o que é mortal no tênis moderno. Sem ganhar pontos de graça com o serviço, Matos joga pressionado o tempo inteiro. Ainda que seja quem menos oscila mentalmente nesta "NextGen" brasuca, o gaúcho tem sempre margem mínima para games ruins, e isso lhe impede de conseguir uma ascensão mais rápida.

Entre os outros quatro, também há talento e boas perspectivas. Pucinelli, campeão de duplas no torneio juvenil de Roland Garros, sabe o que fazer dentro de quadra. Parece, porém, o menos maduro do grupo – o que pode ser ótimo quando analisamos o potencial de evolução. Reis também tem um tênis sólido, e Klier tem um jogo com boa potência, embora sofra com lesões com mais frequência do que o desejado – lesionou-se, inclusive, na fase de grupos da MEB Cup.

Difícil prever quem vai chegar aonde no circuito mundial, mas é bom ver que há talento entre jovens brasileiros que surgiram mesmo sem um circuito juvenil nacional realmente forte. Será interessante acompanhar o quanto cada um deles consegue evoluir nos próximos anos, que serão cruciais para todos.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.