Monteiro, Wild e os Challengers que 'resgatam' o ano brasileiro
Não dá, nem pelo mais favorável dos prismas, para dizer que foi um grande ano para o tênis brasileiro. Bia Haddad Maia, a tenista do país com maior relevância no ranking, está atualmente suspensa provisoriamente em um caso de doping. João Souza, o Feijão, também cumpre suspensão provisória, mas sua acusação vem do órgão anticorrupção. Diego Matos foi banido do esporte pelo resto da vida por manipular o resultado de dez partidas. Thomaz Bellucci, principal expoente da modalidade nos últimos dez anos, segue sem recuperar seu nível e hoje é o #323 do planeta. O Brasil Open, ATP 250 de São Paulo, deixará de existir. A Confederação Brasileira de Tênis (CBT) segue sem um patrocinador máster e deixando a desejar em transparência, segundo relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), e teve de cortar o apoio que ajudava Felipe Meligeni e Orlando Luz a treinarem em Barcelona.
As poucas notícias boas apareceram aqui e ali, quase sempre nas duplas, com Marcelo Melo, Bruno Soares e, mais recentemente, Luisa Stefani. João Menezes, que evoluiu visivelmente durante a temporada, foi uma feliz surpresa ao conquistar a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima (e praticamente assegurar uma vaga olímpica). E, agora, no finzinho do calendário, Thiago Monteiro e Thiago Wild, em semanas consecutivas, foram campeões dos Challengers de Lima e Guaiaquil, respectivamente. Dois ótimos resultados, ambos importantíssimos para seus objetivos pessoais, e que vêm num período em que, no ano passado, o máximo que o Brasil conseguiu foi um par de semifinais.
Para Monteiro, a conquista em Lima, auxiliada por semifinais em Buenos Aires e Santo Domingo, serviu para colocá-lo na atual 88ª posição na lista da ATP. É seu melhor ranking desde maio de 2017. Mais do que isso: é uma segurança para montar o calendário do começo de 2020 e uma garantia de vaga na chave principal do Australian Open, o que já vai lhe render um bom prêmio em dinheiro. E ainda mais: entre os 90, Monteiro se coloca perto da zona que costuma render uma vaga nos Jogos Olímpicos.
Thiago Wild, de 19 anos, conquistou em Guaiaquil seu primeiro Challenger da carreira e pulou para #235 no ranking mundial – é a melhor posição de sua carreira e um posto que deve lhe colocar no qualifying do Australian Open. Será, se confirmada, a primeira participação de Wild num slam como profissional. Vale lembrar que 2019 foi o primeiro ano do paranaense jogando apenas torneios profissionais e quase exclusivamente Challengers (disputou dois WTTs, os antigos Futures, e foi campeão em um). Para quem abriu o ano como #447, terminar como #235 mostra que houve evolução indiscutível.
Não é como durante o auge de Thomaz Bellucci, quando havia chance real de título nos ATPs durante um punhado de semanas na temporada – e para várias pessoas o tênis brasileiro andou para trás nos últimos 15 anos – mas terminar a temporada com dois títulos de Challenger (e ainda há chance de um terceiro nesta semana, em Montevidéu) é algo a ser comemorado, especialmente no cenário tempestuoso descrito no primeiro parágrafo.
Coisas que eu acho que acho:
– De modo geral, a sequência latino-americana de Challengers foi boa para o Brasil. Além de Wild e Monteiro, Orlandinho e Meligeni venceram alguns jogos, e Rafael Matos conquistou seus primeiros pontos nesse nível.
– No tênis feminino, Teliana Pereira vem, aos poucos, voltando a conseguir resultados. Fez seu primeiro torneio do ano em março, como #540 do mundo, encarou longos períodos na Europa, jogando qualifying em quase todas semanas, e hoje é a #375 do planeta. Ainda longe de seu melhor ranking (#43), mas um ótimo número para quem teve um 2018 curto, ficou sete meses sem competir e precisa lidar com a dor no dia-a-dia.
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