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O que significa a ausência de Federer na ATP Cup

Alexandre Cossenza

30/10/2019 12h53

Roger Federer anunciou nesta quarta-feira, 30 de outubro, que não vai disputar a ATP Cup, competição entre países organizada pela ATP e que será realizada pela primeira vez em 2020, de 3 a 12 de janeiro. O evento, concorrente direto da Copa Davis, terá como sedes Brisben, Perth e Sydney e servirá também de aquecimento para o Australian Open.

Em comunicado publicado no Facebook (veja abaixo), o suíço explica que não disputar o torneio significa passar mais duas semanas em casa e que esse período fará muito bem para seu tênis e sua família. Roger afirma também que é a coisa certa a fazer se ele quiser continuar a jogar por um período mais longo no circuito da ATP.

A explicação de Federer faz todo sentido do mundo, mas como toda decisão tomada pelo tenista mais popular do universo, ela tem motivações e consequências que valem a pena serem analisadas mais a fundo, tanto no aspecto politico quanto no lado financeiro.

A primeira coisa a apontar é que não chega a ser surpreendente a ausência de Federer. A ATP confirmou sua Copa em novembro do ano passado. Todos sabiam a data. Ainda assim, Tony Godsick, empresário do suíço, amarrou nós aqui e ali para que seu cliente fizesse uma turnê de exibições no fim deste ano, passando por México, Equador, Colômbia, Chile e Argentina e recebendo cachês milionários em cada uma dessas paradas.

Considerando que Federer não tem lá o melhor dos históricos em temporadas pós-turnês, já era de se imaginar que ele se poupasse no pré-Australian Open. Não faz sentido jogar uma competição com a responsabilidade de defender o país se ele acha que existe um risco de se "queimar" antes de um slam.

Bolso cheio à parte, faz sentido lembrar que Federer quase sempre priorizou seu ranking e o circuito da ATP em detrimento da Copa Davis. Por que, logo agora, aos 38 anos, agiria diferentemente em relação à ATP Cup? A decisão mostra novamente que primeiro vêm seu bolso e seu ranking. O resto? Paciência. Que entre na fila. E este texto não tem como objetivo criticá-lo. Pelo contrário. Cada um que escolha livremente suas prioridades.

Hoje, contudo, há um detalhe a mais a ser considerado. Existe uma disputa que envolve dinheiro e política nas três competições por equipes existentes no calendário: a Copa Davis, da ITF; ATP Cup, dos jogadores; e a Laver Cup, organizada, pela TEAM8, da qual Federer é sócio. E o suíço, ausentando-se tanto da Davis quanto da ATP Cup, deixa de fortalecer a concorrência. Faz sentido, não?

Coisas que eu acho que acho:

– Para a ATP Cup, a ausência de Federer é um enorme baque. Ter o suíço em quadra, mostrando a força da competição, era um dos trunfos da entidade que quer medir forças com a nova fase de finais da Copa Davis. Roger, vale lembrar, não estará no evento da ITF.

– Será um baque tão ou ainda maior se Rafael Nadal também se ausentar da ATP Cup – até porque o espanhol já está confirmado no time que vai defender seu país nas finais da Davis, que serão em Madri. E não é nada, nada improvável que isso aconteça…

– Sobre o histórico de Federer pós-turnês, vale lembrar que ele disputou uma série de exibições com Pete Sampras em 2007 e perdeu a liderança do ranking em 2008; jogou o Gillette Federer Tour em 2012 e viveu uma das piores temporadas da carreira em 2013; jogou a IPTL em 2015 e ficou afastado do circuito em todo segundo segundo semestre de 2016.

– Sim, ausentar-se da ATP Cup provavelmente fará bem para a família e para o tênis de Roger Federer e ninguém aqui está questionando suas prioridades. Dito isto, quando ele afirma que "é com grande pesar" e que lhe "machuca" não estar na ATP… Aí eu não compro.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.