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Patricio Arnold: João Menezes, o caminho inverso e a importância de 'ficar'

Alexandre Cossenza

15/10/2019 07h23

Patricio Arnold, um dos técnicos mais respeitados do país, é o comandante da academia ADK, em Itajaí (SC). Foi de lá que, em 2017, um desmotivado João Menezes, então fora do top 500 do tênis mundial, saiu e mudou-se para Barcelona. O jovem mineiro evoluiu e subiu no ranking, mas sentiu falta de casa e retornou para Santa Catarina em novembro do ano passado.

Foi com o mesmo Arnold que Menezes saltou de #398 do mundo para o atual 208º posto. No caminho, venceu um Challenger, foi vice em outro e conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos Lima 2019, praticamente assegurando um lugar nos Jogos Olímpicos Tóquio 2020 (Menezes precisará estar entre os 300 do mundo para ratificar a vaga).

Na última semana, durante o Challenger de Campinas (onde estive a convite do Instituto Sports), conversei com o treinador argentino sobre a evolução de seu pupilo. Falamos sobre os motivos do sucesso de Menezes após fazer o "caminho inverso" – Barcelona-Itajaí – e das vantagens e desvantagens de treinar fora do Brasil. Embora a conversa passe muito pela evolução do mineiro de 22 anos, fomos mais longe. Também abordamos as dificuldades de adolescentes nos primeiros anos de profissional, as diferenças culturais entre argentinos e brasileiros e a importância de defender o país – mesmo num evento sem pontos para o ranking.

Em vários momentos dos 45 minutos do papo, Arnold destacou a importância de "saber ficar" – uma espécie de pacote que inclui insistir, lidar com os momentos ruins e acreditar no processo – até o salto para o nível seguinte. Foi uma conversa franca, instrutiva e que vocês certamente vão gostar.

Minha intenção nesse papo é conversar um pouco sobre o João Menezes, que fez o caminho inverso – e me parece que muita gente acredita que isso não funciona – mas vem dando certo e eu isso é, para você, um bom exemplo de quem não é necessariamente sair do Brasil e treinar fora que vai fazer o tenista crescer?

O que eu vejo? O João fez uma fase de praticamente quatro anos, como juvenil, com a gente, em Itajaí, em um contexto mais grupal, com outros meninos também. Mas é uma fase de juvenil onde faz parte ter outros meninos. Aí chega o ponto X, com 18-19, quando eu acho que qualquer adolescente fica um pouco perdido no que fazer, né? Em qualquer coisa…

Em qualquer área! Eu fiz uma faculdade inteira para trocar de área depois!

Então ficam essas incertezas. E no tênis, eu vejo que é ainda um pouco mais difícil porque os meninos que têm um certo sucesso no juvenil – a gente teve muitos casos no Brasil, até de fazer um sucesso e tomar dimensões na minha opinião desproporcionais e talvez exageradas, complicando ainda mais essa transição porque, de uma hora para outra mesmo, de um mês para o outro, começa a apanhar. Aí começam os questionamentos. "Será que estou no lugar certo? Tenho que ir para outro lugar?" Na verdade, não acredito que seja necessária essa mudança, mas ela acaba sendo provocada muito por essa… Tem muitos palpites de fora e então… No caso do João, não foi diferente. Havia uma incerteza dele mesmo. A princípio, ele iria parar de jogar e fazer uma faculdade. Voltando para casa, o pai, não querendo ver ele desistir, só pediu para o João para fazer uma visita na Espanha. O João finalmente topou, e eles foram. Era para ir uma semana, duas. Lá, na academia, encontrou com Rublev, Khachanov…

Ele se encantou, né?

Ele se motivou e decidiu ficar. Passou praticamente um ano e meio, mas assim… Nessa experiência fora, teve coisas positivas. Ele cresceu, amadureceu bastante. Eu vejo como um fator positivo ele ter ido para fora nesse sentido. Acho que aconteceu depois de um ano e meio, pelo menos foi isso quando me procurou novamente. Ele saiu bem, eu sempre tive uma relação boa com ele, de respeito, e ele me pediu para trocar uma ideia e ver o que eu achava. Primeiro, ele me contou o que estava sentindo na Espanha após um período. "Foi muito bom, treinei com muitas pessoas aqui, aprendizado, ótimo…" Ele não criticou, mas enxergava que precisava de algum programa mais específico para ele, seja uma preparação física só para ele, um acompanhamento mais individualizado de treinador, e também manifestou essa dificuldade de estar longe de casa na questão familiar. Essa questão extraquadra estava pesando bastante para ele também. Na questão mais específica do tênis, havia essa procura por algo mais específico porque os jogadores de repente saíam… Os Khachanovs da vida saem, montam suas coisas, e você se encontra mais uma vez, talvez em um contexto parecido com o que ele estava na ADK como juvenil, salvando obviamente quando ele chegou, que tinha jogadores muito bons. Eu falei: "Acho que você está certo, está querendo alguma coisa específica." Ele se dispôs a investir nisso, perguntou se eu estaria disponível para viajar… A gente foi avançando no que seriam as bases e foi encaixando. Só para você ter uma noção: ele colocou como uma condição viajar, mas ele seria o único jogador a ser acompanhado na semana. Então você vai ver que ele sempre está com um treinador. Viajo eu e viaja o (Luis) Peniza. Ele procurou isso, independentemente de ser um custo mais alto. Ele decidiu montar essa equipe. Ele agora tem uma preparação física individualizada.

Isso, inicialmente, financiado só pelos pais dele?

Sim. Apoiado pelos pais. Inicialmente e acho que agora menos porque ele tem conseguido uns patrocínios. Acho que está perto de equilibrar essa conta, mas ainda é necessário esse apoio. Mas sim, inicialmente 100% pelo pai mesmo.

Qual foi a maior diferença no retorno dele? A maturidade mesmo?

Sim. O João voltou da Espanha menos… Como posso falar? Ele sempre foi um menino muito metódico. Ele tem uma capacidade de trabalho e foco muito grande. Isso a gente sempre viu desde pequeno, mas se acontecia um pouco de imprevistos, quando precisava adaptar coisas que não estavam dentro do planejado, ele tinha uma dificuldade grande. Ele melhorou nesse sentido porque trabalhar, ele sempre trabalhou e sempre esteve focado. Então eu recebi de volta, digamos assim, um jogador com muito mais maturidade, o que tornou bem fácil trabalhar. Continua sendo fácil.

O João voltou exatamente quando?

Vai completar um ano. A gente começou em novembro de 2018. Fez a pré-temporada e já iniciou os torneios no fim de dezembro. Ele teve uma ascensão muito grande, mas principalmente pela individualidade que estava procurando. E eu acho até que você vai perguntar, mas a questão do Pan-Americano ajudou ele certamente, de modo geral – até na questão de patrocínios e, enfim, trouxe coisas muito boas. Por outro lado, não é que ele se abalou. Ele é muito pé no chão quanto a isso. Mas trouxe naturalmente uma certa pressão para cima dele, e ele está nessa fase, neste último mês, de saber e poder lidar com isso. Ele é um jogador bastante, vamos dizer assim, tenso jogando, então uma coisa é você jogar subindo, solto. Agora a coisa se inverte um pouco…

E também é diferente jogar um torneio em casa diante de um público que tem uma expectativa diferente em relação a ele…

Exato. Público, tem o colega… Por exemplo, ontem contra o Orlando [Menezes foi eliminado em sua estreia no Challenger de Campinas por Orlando Luz]. É um amigo que você teoricamente – digo teoricamente porque na prática a gente que conhece sabe que o jogo se resolve na quadra – ele precisa ganhar. E do outro lado, é o contrário. "Posso jogar solto." Mas isso aí eu vejo assim… Conversamos bastante ontem. Isso aí é uma coisa nova para ele. Você trabalha, tem que administrar, vai lidar melhor e, por isso, a gente vê que nesse nível onde ele se encontra hoje, entre 100 e 200 do mundo – digo 100 e 200 porque ele já teve vitórias em cima de jogadores ali… Nessa faixa, é uma fase em que ele precisa se manter, mas precisa evoluir em vários aspectos ainda. Não só técnicos. Técnicos, alguns. Certamente, mentais também. Consistência de modo geral, nas coisas boas que ele faz. A gente vê que é o caminho de ascensão dos jogadores de modo geral. Vamos pegar a referência dos argentinos. A gente vê alguns argentinos com 26, 27, 28 anos… Os próprios Pellas da vida [Guido Pella entrou no top 100 em 2015, mas conquistou seu primeiro título de ATP em 2019, com 28 anos. Agora, aos 29, é o #21 do mundo]… Londero [entrou no top 10 em fevereiro, aos 25]…

Londero jogou aqui em Campinas no passado, tomou primeira rodada [perdeu para Thomaz Bellucci em dois sets], e em fevereiro foi campeão do ATP de Córdoba!

Agora, o que eu vejo? Isso se faz possível se você fica. A persistência, o ficar, ficar. A gente tem alguns exemplos no Brasil. O caso do próprio Marcos Daniel, que você conhece muito bem.

Entrou no top 100 com 27 anos!

Então… E você sempre via na insistência, trabalhando, trabalhando… Eu acho que essa é a realidade, pelo menos que eu vejo, também do João. Não sei se vai ser com 28 anos ou não. Só vejo que ele tem bastante a melhorar em vários aspectos, não só técnicos. Táticos, sim. Físico, apesar de ser um grande ponto forte dele. Tem melhorado muito e vai melhorar mais, mas assim… Precisa ir reunindo esse conjunto de ajustes para ter condição de passar para um próximo nível. Primeiramente, o top 100. E depois é a mesma coisa. Ficar ali um tempo e fazer ajustes. É outro nível depois. Agora… É muito difícil saber o tempo das coisas. Se alguém me dissesse aqui, ano passado, que o Londero ia ganhar um ATP tour… Não é possível.

Uma coisa que eu ouvi, que acho que tem um pouco de mito e preconceito, que dizer que o tenista "não quer o bastante" ou "não sabe sofrer" quando se ouve que um tenista está se sentindo sozinho e quer voltar para o Brasil. É outro mito mesmo?

Como eu te apontei inicialmente… Porque tudo acontece quando o jogador começa a jogar mal ou a perder. Esse é o maior desafio de quem está junto: mostrar que ele pode sair. Então eu acho que ele começou a ter uma queda de resultados, e aí o jogador se torna sensível a um monte de fatores. Jogador que ganha pode estar onde for que está tudo certo. O treinador é bom, o preparador físico é muito bom… A gente, que está muito tempo no ramo, com a academia, com os pais… É assim. O jogador é um pouco assim. O João? Vou responder tua pergunta. Se ele estivesse tendo resultados de acordo, acho que ele não ia se sentir sozinho. Acho que como os resultados não vieram, pode ser que aí começa a se potencializar as coisas em volta. Não é "ele voltou porque se sentia sozinho". Iniciou também porque não estava tendo os resultados, e o trabalho que estava sendo realizado… ele não estava se sentindo satisfeito. Digo "ele" porque não posso avaliar o trabalho. Mas eu acho que no caso do João, ele não tem a personalidade de fugir, de não aguentar. Ele tem uma capacidade de trabalho anormal, pelo lado positivo. Ontem ele perdeu, foi uma dura derrota para ele, conversamos um monte, falei de toda essa questão que te falei, de ter que administrar isso, que ele vai superando e tudo… E hoje estamos aqui, 9h, treinando. Fez físico, fez tudo, e respondendo bem a isso tudo. Então, voltando à tua pergunta, foi uma combinação dos dois fatores. Se não me engano, ele tinha feito oito primeiras rodadas ou algo assim. Então agora precisa melhorar porque ele já faz três ou quatro (derrotas em estreia). Se chegarmos nas oito, de repente…. (risos)

Numa conversa que a gente teve alguns anos atrás, se não me falha a memória (a entrevista não está mais no ar), você dizia que parte da motivação tem que vir do atleta. Que o técnico só consegue incentivar até certo ponto. O João é assim? Ele tem essa coisa, que facilita o seu trabalho? Sempre teve? Ou, de repente, agora está mais consciente do que precisa ser feito e do quanto isso depende dele?

Sim. Ele sempre teve essa consciência, mas o João é alguém que quer tanto… Eu acho que o trabalho em grupo, para ele, acaba sendo difícil. Ele demanda! "Temos que sacar", "Essa minha direita"… Ele demanda atenção bastante individual.

Ele é muito crítico com ele mesmo?

Demais. Demais. Demais. Ele é muito metódico também. Realmente, você tem que ter conteúdo e argumentos muito fortes para convencer ele de que… Até para eu convencer que o que está acontecendo é um pouco normal. Não que não possa superar, mas "Não, não posso, como que eu vou me pressionar…" É bem assim ele. Diferentemente do caso do Orlando, nessa época que conversei contigo. Não sei como ele está agora, na Espanha. Ontem, ele apresentou um nível de jogo que, sinceramente, me impressionou positivamente. Achei que ele jogou bem ontem – para o que vem apresentando. Ele ainda pode dar a volta por cima, desde que trabalhe. Trabalhe e tenha por trás esse respaldo, então creio que seja um jogador, desde que foque e tenha entendido de que jogar bem juvenil não te habilita a ser um bom profissional. A gente tem inúmeros casos que deram errado e casos que nunca jogaram juvenil e depois se tornaram últimos profissionais. Passa um pouquinho mais por ali.

Falando não especificamente do João, mas pela sua experiência de trabalhar com jovens na transição, o que é o mais difícil hoje, no Brasil? É falta de intercâmbio por causa da distância para a Europa, de não ter tanta gente para treinar? É pai de tenista que põe na cabeça do garoto que é bom demais e, de repente, o menino começa a acreditar nisso? Ou é o garoto que demorar a amadurecer e entender que tênis é uma profissão? Imagino que haja uma mistura de tudo isso, mas o que você como o maior complicador dessa equação?

Acho que o fator determinante nessa fase… É como você falou: é uma combinação de fatores. Mas são os garotos e os pais. E quando te digo pais, inclui o entorno. Alguns já têm agente, têm uma série de pessoas perto. Não aguentam mentalmente o tranco de ter que ficar. Essa é a grande diferença, e posso falar porque sou argentino, me formei como tenista na Argentina e vejo uma grande diferença. Nosso processo (no Brasil), talvez, na fase de juvenil, seja muito brando mentalmente. Brando, quando me refiro, é assim… Eu tenho casos em que a mãe ou o pai, com 15 anos, já tem que viajar com o filho e se o hotel não for quatro estrelas – quatro! – três, não. O moleque, de repente, joga um tênis legal, mas é que nem a gente ter filho em casa. Vai criar de um jeito. Depois vai dizer "Bom, agora é com você." Não estão preparados. E nessa de começar a apanhar na transição, não aguentam. Vejo que no Brasil, na verdade, a gente deveria preparar ainda mais os garotos porque, diferentemente da Argentina, na maioria dos casos, esses meninos que crescem mimados – vamos colocar assim – depois têm outras opções. É muito fácil. Exemplo: "Ah, se não der certo, vou trabalhar aqui com meu pai, que tem empresa." "Vamos passear de lancha no fim de semana." "Não precisa disso." Não quer. Não quer! Acho que esse é o fator: aguentar e tentar ficar. É difícil? É difícil? Um caso assim é o Felipe Meligeni. Estava ali, teve uma carreira juvenil média, ganhou aquela dupla do US Open, mas foi ficando, ficando, treinando… Hoje acho que fez um ótimo jogo, está mostrando um nível de tênis bom, estar morando fora tem acrescentado, talvez. Não é que eu sou contra alguém ir para fora, mas não é que ele vai jogar tênis porque vai para fora. Talvez a experiência de ir para fora faça ele crescer… E, consequentemente, vai virar um melhor tenista. Porque se não fosse assim, a gente teria um lugar específico no mundo para onde todo mundo teria que ir para se tornar tenista, e a gente vê no ranking tenista de tudo quanto é lado. Vai muito mais do que a experiência fora pode te ar para você se tornar um jogador com mais maturidade, que é o que é necessário. E nestes anos, não precisa só de maturidade, precisa de dinheiro.

E a gente fala de muito dinheiro a partir de um certo ponto…

Você, hoje, para fazer um calendário… Isso aí eu tenho um número bem preciso. Para fazer um calendário bem feito, de um jogador de transição, com acompanhamento e tudo, você precisa de US 90 mil na temporada. Para viajar com técnico, já inclui o treinamento. Isso o que dá, hoje? R$ 350 mil? Tem outros que fazem diferente, mas estamos falando do ideal, então de cara a gente já compete com Europa e outros países. A gente precisa desse valor, até pela distância. Obviamente, na Europa deve ser menos pela facilidade de se deslocar.

E se comparar a diferença de poder aquisitivo entre o Brasil e eles…

E se a gente pensar em ficar apanhando no mínimo três anos, precisa de um milhão de reais (risos). Aí é onde eu vejo que, pelo menos para iniciar, é preciso tentar, a nível regional, iniciativas para ter mais torneios. Precisa se unir um pouco mais a região. São 9-10 países que poderiam estar fazendo circuitos em conjunto, facilitar um pouco. Está muito difícil esse início. Pelos fatores que a gente falou, mas também pela quantidade de torneios. Eu não tenho esse levantamento, mas este ano foi praticamente nulo de Futures e coisa assim. Essa regra que mudou no início do ano também foi muito ruim [a ATP deixou de contar em seu ranking todos os pontos conquistados em torneios de US$ 15 mil e nas primeiras rodadas do torneios de US$ 25 mil]. Muito ruim. Muitos garotos que tinham uma expectativa já se mandaram para uma outra opção.

Uma das vantagens que o Felipe Meligeni e o Orlandinho comentaram comigo sobre treinar fora era ter sempre, como você falou, um Khachanov, um Rublev, alguém mais forte para bater bola. Como se compensa isso com o João hoje?

Começando com a pré-temporada, fizemos cinco semanas. Três foram aqui em Itajaí porque as primeiras semanas não demandam tanto jogo. Fizemos ali e treinava com juvenis tranquilamente. As últimas duas semanas ele fez na Argentina. Ele foi para lá com o Mariano Hood [ex-tenista argentino que foi #153 do mundo], que é o treinador do Leo Mayer. Eu entendo que, analisando o que o João tem, um dos pontos a melhorar é justamente este ponto. Mas, analisando a situação geral do João, os trabalhos mais específicos para ele e com o acompanhamento de 25 a 30 semanas da maneira que ele procurava, o pacote, de maneira geral, fechou.

Então compensa essa falta do cara top pra treinar todo dia…

Não é perfeito. A gente tem falado disso. Durante o ano, são poucas semanas. Quando ele volta, é mais para descanso inicialmente, aí começa a parte física, fisioterapia, alguns ajustes e vai embora. Essa é a realidade. Perdeu? Treina, treina, treina. Que nem hoje. Já treina com um e com outro. É ali que vai acontecer. Não é voltando para casa. Isso se inverte. O juvenil fica muito mais em casa. Então, considerando isso, tornou-se um fator secundário dentro do todo. Agora… Eu tenho que compensar isso aí. Durante o ano não é tão grave, mas em pré-temporada se faz necessário. Eu tenho esse relacionamento estreito na Argentina e, se ele precisar, ele vai. Vamos juntos e ali tem a facilidade de encontrar um monte de jogadores para treinar no dia a dia. De fato, é o grande diferencial da Argentina, com todos praticamente concentrados em Buenos Aires. Eles conseguem, de repente, numa semana de pré-temporada, jogar com jogadores diferentes todos os dias. E de nível! Para nós, é difícil. Na Espanha, isso é válido desde que feche o todo, né? E acho que nenhum pacote acaba sendo o pacote perfeito.

E vocês têm uma meta para este fim de temporada?

Inicialmente, essa meta era top 200.

Antecipou.

Antecipadamente, ele conseguiu. Ali, para efeitos de continuar, reajustamos para 150. De qualquer maneira, hoje está um pouco fora dos 200. Ele, teoricamente, atingiu a meta. Nessas últimas semanas, ele tem tomado uns resultados não tão bons. A gente pode reagir, e ele pode chegar perto dos 150, mas se não chegar, acho que chegou perto do que a gente estipulou. Um ano que começou como #398, considerando que também ele praticamente jogou só Challenger. Para ele, isso também acaba sendo uma conquista. Ele vinha jogando Future, um ou outro Challenger e ganhando um jogo, mas agora, sim. Como tudo que se consegue, primeiramente é manter. Eu acho que ele precisa disso o ano que vem ainda. E melhorar certos aspectos. Se você me perguntar "O João está pronto hoje para ser top 100?" Não. Pode ganhar de um top 100? Sim, como já ganhou. Mas no próximo ano e meio, tem condições. Pela capacidade de trabalho dele, enfim, é o que eu enxergo. São muitos fatores também que vão determinar isso – inclusive um pouquinho de sorte. Ele, este ano, ganhou alguns jogos com competência, mas que as coisas aconteceram de maneira favorável pra ele. Ultimamente, neste último mês, depois do jogo que escapou no US Open [Menezes vencia o indiano Sumit Nagal na última rodada do qualifying por 7/5 e 4/1, mas levou a virada]… A partir dali, as coisas começam a rodar um pouco diferente. Aquela estrela some um pouquinho, vai para outro. Você também tem que lidar com isso. Estamos num momento um pouco assim agora. É onde a gente vê a diferença do jogador de 27-28 anos. Eles lidam com essas coisas de maneira mais natural. Eles já passaram. Acontece com a gente em todos aspectos da vida. Eu digo que queria ter 18 com a experiência que nós temos hoje.

Para terminar, a opção de jogar o Pan… Como foi tomada a decisão de encaixar o Pan num calendário que vinha sendo de quadras duras para o João? O que pesou mais? Jogar pelo país? A chance de classificar para os Jogos Olímpicos?

Não foi a Olimpíada, até porque… Não que você vá para perder, mas para entrar num torneio e falar "vou ganhar"… Quem podia pensar isso eram os cabeças 1 e 2, que talvez tenham um nível mais alto. No caso do João, não foi. Ele – e eu tenho transmitido para ele sempre que na minha opinião o jogador sempre tem que representar o país, independentemente da situação. Quando surgiu a ideia do Pan-Americano, eu sempre passei: "Acho que tem que jogar", independente se encaixa ou não encaixa, se vai receber alguma coisa ou não. "Tem que jogar." Eu já joguei Copa Davis pela Argentina sem receber…

Eu ia falar isso de forma elogiosa… É uma visão mais argentina que brasileira.

Porque se você pensar e entender… Eu falei "João, você joga tênis, certo? Uma modalidade que não é tão popular no Brasil, mas tudo bem. Você está sendo chamado para representar um país inteiro no que você faz." Eu vejo isso como uma questão muito forte e muito importante! E eu acho que só tem a acrescentar. Se perder, tudo bem. É bem diferente de um torneio de tênis. É uma experiência de uma semana. E, depois disso, foi a melhor semana da vida dele. Também ganhou, né? Mas, independentemente disso, se não tivesse ganhado, é muito bacana ir nesse tipo de competição. Mas o que pesou mesmo – sim, eu influenciei ele bastante nessa questão e continuo dizendo que sempre que tiver a oportunidade de representar o país no que for, ele deveria. Independentemente das condições, represente sempre o seu país. Não foi o calendário ideal – bom, acabou sendo, acho (risos). Veio muito mais depois!

Eu até conversava com um colega jornalista outro dia e dizia: "Se eu fosse o Thiago Monteiro, eu não deixava passar essa chance."

Bom, eu vou te dar minha opinião. Eu acho que nenhum deveria deixar passar. Nem os duplistas. É a minha opinião. Por quê? Ok, não vai jogar um torneio [ATP], mas eu vejo aqui. Você tem visto aqui o que acontece com o João por causa do Pan. Ele poderia ter ganhado outro Challenger ou até um ATP 250.

Não ia ser a mesma repercussão.

Não ia, né? Você concorda? Nem de perto! De um dia para o outro… Ele tinha 2 mil seguidores no Instagram, passou pra 16 mil. De dois para 16 em um dia! Ele, ontem, perdeu o jogo… "Pode tirar uma foto?" "Pode tirar uma foto?" Ele veio me falar "As pessoas vêm me pedir pra tirar foto e eu acabei de perder, joguei mal pra caramba!" Eu falei "João, não é porque você é 200, ganhou Challenger… Ninguém sabe." É porque essa semana [do Pan] teve uma repercussão gigante. Por causa disso, tem dois patrocinadores fortes hoje. Por causa daquilo! Ele já era quase 200 e não tinha patrocínio nenhum. De repente, em uma semana, mudou. Volto a dizer: mais de um deve ter pensado "puta, deveria ter jogado." (risos)

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.