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Challenger de Campinas: um resumo em 20 curtinhas

Alexandre Cossenza

07/10/2019 04h00

Chega ao fim o Challenger de Campinas, terceiro torneio mais importante do país. O título de simples ficou com o peruano Juan Pablo Villares, que derrotou o argentino Juan Pablo Ficovich por 2/6, 7/6(4) e 6/2 na final. Foi mais um Challenger sem um brasileiro se destacando – a cena está cada vez mais rara – mas vários deles passaram por Campinas, então vale fazer um resumo, lembrando o que aconteceu e a quantas andam os melhores do país.

1. O único brasileiro nas quartas de final de simples foi Thomaz Bellucci, que contou com uma considerável dose de sorte e só precisou jogar um set para ficar entre os oito melhores em Campinas. Na estreia, viu o adversário, Christian Lindell, ser desclassificado por xingar um torcedor. Nas oitavas, avançou por WO após a desistência do argentino Leo Mayer, que sentiu dores nas costas e não entrou em quadra.

2. Bellucci foi eliminado por Federico Coria por 6/4 e 7/6(1) fazendo uma partida muito ruim. Acumulou erros não forçados, arriscou curtinhas além da conta e quase nunca foi à rede atrás dos drop shots. Fez um tênis de baixa porcentagem contra um oponente que pouco fez além de passar bolas sem peso ou profundidade que colocassem Bellucci na defensiva. Vi muita gente saindo de quadra decepcionada com a atuação do paulista.

3. Para não deixar passar batido: Lindell perdeu a calma com um torcedor que o ofendeu com um insulto homofóbico e rebateu o xingamento, olhando na cara do torcedor. Os dois erraram, obviamente, e o supervisor desclassificou o carioca que defende a Suécia no circuito. Conversei com um árbitro após o jogo, e a resposta que tive foi a seguinte: "xingar um torcedor, olhando na cara, não é nem área cinza para arbitragem". A desclassificação era esperada.

4. Após a partida, Lindell lamentou o que aconteceu, mas admitiu seu erro. Pediu desculpas e bola em frente. Um belo gesto. A desclassificação, contudo, significa que ele deixou Campinas sem pontos ou prêmio em dinheiro.

5. Torcedor xingando e sendo mal educado não é exatamente raridade em torneios pelo Brasil. Quem já foi a pelo menos meia dúzia de torneios sabe bem disso. Campinas não é exceção. Por outro lado, vale elogiar o comparecimento em peso do público no torneio. A Quadra Central esteve lotada quase todos os dias, inclusive quando não havia brasileiros em quadra. Às 10h30min de domingo, um lado das cadeiras já estava completamente tomado meia hora antes do começo da final. Uma decisão, vale ressaltar, que não tinha nenhum grande nome (e foi uma bela partida!).

6. O número 1 do Brasil, Thiago Monteiro (#106 na ATP), também deixou a desejar. Cabeça de chave 3, perdeu logo na estreia para o francês Maxime Hamou (#385) por 7/5, 4/6 e 6/1. O cearense de 25 anos vinha de uma dura derrota nas semifinais em Buenos Aires, onde levou 6/0 e 6/1 do indiano Sumit Nagal. Apesar da boa campanha na Argentina, os placares dos dois últimos jogos preocupam.

7. O campeão pan-americano, João Menezes (#208), também caiu na estreia. Foi eliminado por Orlando Luz com parciais de 6/4 e 6/4. Foi um jogo em condições difíceis, com muito calor e poucas trocas de bola. O gaúcho sacou muito bem, salvou sete break points em três games diferentes (descontando uma quebra no início) e fez a diferença assim.

8. Durante o torneio, conversei tanto com Menezes quanto com seu técnico, o argentino Patricio Arnold. Foi meu primeiro papo cara-a-cara com o mineiro, e saí com ótimas impressões. João me pareceu um jovem decidido, que sabe o que quer e o quanto precisa trabalhar para alcançar seus objetivos. Ele falou sobre sua saída do Brasil, sobre a volta e os porquês de sua evolução. E ajudou a quebrar o mito de que é preciso sair do Brasil para crescer como tenista profissional e como pessoa. Leiam aqui.

9. A conversa com Patricio Arnold foi igualmente – ou mais – interessante (e mais longa). Ele é um dos treinadores mais respeitados do Brasil e tem uma visão de tênis bem sóbria – o que eu, particularmente, admiro muito. Falamos sobre o caso de João Menezes – tanto sua saída como seu retorno – mas não ficamos só nisso. O papo foi muito sobre transição, evolução, motivação, influência de pais e amigos y otras cositas más. A ideia é publicá-la ainda esta semana. Aguardem porque vai valer a pena ler.

10. Outro papo interessante da semana foi com André Ghem, que, além de comentarista da ESPN, assumiu a função de técnico de Guilherme Clezar. Os dois até jogaram juntos na chave de duplas em Campinas – perderam para Menezes e Tabilo na estreia por 7/5 e 6/3. o Alemão falou sobre os desafios e o aprendizado com o trabalho na TV, mas também sobre a reta final de sua carreira e sua longa relação com a dor – conviveu praticamente quatro anos com uma lesão no cotovelo. Leiam aqui.

11. Clezar foi eliminado na segunda rodada pelo boliviano Hugo Dellien, cabeça de chave 1 em Campinas (6/3 e 6/4). Rafael Matos e Felipe Meligeni também caíram nessa fase.

12. Outra conversa interessante – e sempre mais rápida – foi com Thiago Wild, que recentemente passou a trabalhar ao lado de um psicólogo com experiência em MMA. Orientado por João Zwetsch, o paranaense segue buscando ajuda fora da quadra para fortalecer seu "pacote" tenístico com qualidades físicas e mentais. Leiam aqui.

13. Wild foi eliminado por Felipe Meligeni em um jogo de muita pancadaria e pouca tática. O campineiro, sobrinho de Fernando Meligeni (ex-#25 do mundo), teve apoio maciço do público e levou a melhor por 5/7, 6/2 e 6/2. Felipe perdeu na rodada seguinte para Federico Coria, em um jogo que teria ido para o terceiro set se o brasileiro não tivesse desperdiçado uma boa vantagem no tie-break do segundo set (teve 5/2 e, depois, 6/3). Foi eliminado por 6/2 e 7/6(6).

14. Falando em Meligeni… Durante a semana, Orlando Luz e Felipe Meligeni receberam emails informando que não terão mais auxílio financeiro da Confederação Brasileira de Tênis (CBT) para continuarem treinando na BTT, renomada academia de Barcelona. Ambos estão lá desde o começo de 2018 e subiram consideravelmente no ranking desde a chegada na Espanha. O gaúcho era apenas o 725º do ranking no começo de 2018, enquanto o paulista era o 950º. Hoje, Luz e Meligeni são os atuais 316 e 394 do mundo, respectivamente. Enviei perguntas à CBT sobre a medida. Ainda não tive respostas e atualizarei este post quando recebê-las.

15. Se anda raro ver título brasileiro de Challenger nas simples, é preciso dizer que a cena é bem comum nas duplas. Em Campinas, aconteceu de novo. Na final entre Orlando Luz / Rafael Matos e Fernando Romboli / Miguel Ángel Reyes-Varela (do México), a troféu ficou com os gaúchos após um match tie-break duríssimo: 6/7(2), 6/4 e 10/8.

16. Foi o primeiro título de Challenger para Luz e Matos como dupla (Orlandinho foi campeão em CH de Little Rock junto com o argentino Matias Franco Descotte), mas a parceria já vinha obtendo bastante sucesso nos torneios de US$ 15 mil e US$ 25 mil. No ranking de duplas, eles ocupam agora, respectivamente, o 203º e o 270º posto. Romboli, que também foi vice em Campinas no ano passado, é o 108º da lista da ATP.

17. A tendência é que Luz e Matos sigam jogando juntos no circuito Challenger, mas sem foco exclusivo nas duplas (de fato, ainda é cedo para isso). Orlandinho, que agora é o #316 do mundo nas simples, já tem ranking para estar em quase todos os Challengers. Rafa, por sua vez, ainda é o #505 nas simples, mas disse que pretende fazer um calendário com Challengers para atuar mais nas duplas e, quando der, jogar simples.

18. A organização acertou em cheio ao contratar Marcelo Zormann para a equipe. O jovem de 23 anos, afastado do circuito desde que foi diagnosticado com depressão, entrevistou atletas e movimentou bastante os Instagram Stories da conta oficial do Instituto Sports com cenas de bastidores. O fato de Zormann conhecer bem alguns dos atletas na chave (até enfrentou alguns) ajudou muito na produção de conteúdo.

19. Conversei com Zormann por um bom tempo na última quinta-feira. Falamos da depressão e de seus gatilhos, mas o paulista também contou o que anda fazendo desde que se afastou do circuito. Também papeamos sobre eSports, a duração de jogos de tênis e outros temas. O resultado vai agradar a vocês. Em breve, no blog.

20. Escrevo isto todo ano, mas é importante repetir. A Sociedade Hípica de Campinas sabe receber um torneio deste porte. Há um simples e rápido controle de acesso na portaria (cadastro e foto). Uma vez dentro do clube, o fã de tênis pode circular livremente pelas quadras e fazer refeições nos restaurantes da Hípica. Não há o que criticar, e isso vale de exemplo pra clube que quer receber torneio, mas monta barraquinha picareta de cachorro-quente para que os espectadores não frequentem o restaurante dos sócios.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.