Andy Murray evolui, mas convém moderar o otimismo
Pela primeira vez desde o retorno às competições, Andy Murray venceu uma partida de simples em um torneio de nível ATP. Aconteceu nesta terça-feira, no ATP 250 de Zhuhai, contra o americano Tennys Sandgren: 6/3, 6/7(6) e 6/1. Depois de duas derrotas em estreias, tanto em Cincinnati (diante de RIchard Gasquet) quanto em Winston-Salem (contra o mesmo Sandgren), o ex-número 1 do mundo e bicampeão olímpico mostrou evolução e deu motivos para seus fãs adotarem algum otimismo. Vale, contudo, moderar no sentimento.
Primeiro, os méritos. De cara, vale ressaltar a eficiência com o saque. Nem tanto com a porcentagem ou a velocidade (passando com frequência de 210 km/h, o que é um ótimo), que estiveram dentro do esperado diante do que se viu em Cincy e W-S, mas com a capacidade de Andy para manter o serviço. Em três sets, Sandgren não teve um break point sequer. O britânico controlou a maioria dos pontos iniciados por ele, e isso, por si só, já é um grande avanço.
Vale destacar ainda a forma física. Quando jogou o Challenger de Maiorca, disputado durante o US Open, Murray foi eliminado nas oitavas, perdendo por 7/6 no terceiro set, e saiu da quadra dizendo que precisava evoluir fisicamente. Isso também aconteceu. O 6/1 na parcial decisiva sobre Sandgren, em um duelo que durou 2h41min, é outro bom indicativo. Além de mostrar boa velocidade de deslocamento nos ralis, especialmente a partir do segundo set, chegou ao fim da partida inteiro – ou quase isso. Não foi o bastante para o público chinês deixar a quadra cantando sua versão de "ô, o campeão voltou!", mas foi certamente um passo à frente dado por Murray.
Há, por outro lado, uma série de motivos pelos quais o otimismo deve vir em doses homeopáticas. Não que Sandgren seja um mau parâmetro. Pelo contrário. O americano bateu Pospisil e Tsonga no US Open, seu último torneio antes de Zhuhai, e só perdeu para Diego Schwartzman, que, lembremos, deu um trabalhão para Rafael Nadal em Nova York. Murray, no entanto, deixou a desejar em algumas áreas importantes. A principal delas foi seu forehand, muito curto com muita frequência, deixando o oponente à vontade. Andy soltou algumas bolas mais agressivas aqui e ali, mas não o bastante para que Sandgren quisesse evitar a troca de direitas cruzadas.
O escocês também esteve mal posicionado e chegou atrasado em mais bolas do que deveria em sua forehand. A causa pode ser simplesmente falta de ritmo de jogo, e isso vai vir com o tempo – menos mal que ele segue sem se queixar de dores no quadril operado -, mas uma cena que se repetiu bastante foi a do britânico batendo a direita e dando vários passos para trás, já adotando posição defensiva nos ralis. Isso foi diminuindo à medida que a partida se alongava, mas não deixa de ser uma preocupação.
Outra área que precisa de trabalho é a devolução de saque, que sempre foi um de seus pontos fortes. Sandgren é um bom sacador, mas Murray fez muito pouco até no segundo saque do rival. Foi pouco agressivo até quando optou por retornar dois passos dentro da quadra – foi, aliás, o que aconteceu quando Andy teve um match point no tie-break do segundo set. Obviamente, também faltou precisão para passadas, voleios mais difíceis e curtinhas. Tudo isso são áreas que exigem precisão, algo que costuma vir com ritmo de jogo. Presumindo que conseguirá fazer uma sequência decente de partidas nessa sequência Zhuhai-Pequim-Xangai do circuito, é de se esperar que Murray deixe a Ásia com uma noção muito melhor do que ainda pode alcançar como simplista.
A próxima rodada, contra o jovem e super veloz australiano Alex De Minaur, cabeça de chave 7 em Zhuhai, colocará outros desafios na mesa. O garotão de 20 anos chega em muitas bolas, então Murray terá de ser mais preciso nos ataques e agredir mais nas devoluções, mantendo a eficiência no saque. Não será fácil, mas deve ser um belo encontro para avaliar melhor o momento do tênis do veterano.
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