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Final do US Open: o favoritismo de Nadal e o caminho para uma zebra de Medvedev

Alexandre Cossenza

08/09/2019 04h01

A final masculina do US Open, marcada para começar às 17h (de Brasília) deste domingo, terá frente a frente os melhores jogadores da sequência norte-americana de quadras duras do circuito mundial. Rafael Nadal está invicto. Antes do US Open, só jogou o Masters 1000 de Montreal e foi campeão. Sua vítima naquela decisão foi justamente Daniil Medvedev, quem mais ganhou partidas no período. Foi vice no ATP 500 de Washington e no torneio canadense, levantou o troféu no Masters 1000 de Cincinnatti e chega a este domingo surfando uma onda de 12 triunfos consecutivos.

O favoritismo é de Rafa e não é pequeno, mas justificado. Além de mais habituado a lidar com esse tipo de situação, é tricampeão do torneio (2010, 2013 e 2017) e dono de recursos que lhe permitem vencer partidas de mais de uma maneira, o espanhol traz a vantagem moral da fácil vitória sobre Medvedev em Montreal (6/3 e 6/0) e também tem a questão física a seu favor, já que chega à final mais descansado que o rival.

O russo de 23 anos, que faz sua primeira final de slam, precisará superar todos elementos acima, mas tem tênis para fazer dar muito mais trabalho ao veterano do que em Montreal. Obviamente, sair de Flushing Meadows com o título exigirá muito mais de Medvedev. E uma eventual zebra passa por executar certas tarefas com precisão e consistência. Eis as mais importantes:

1. Começo impecável

O caminho para derrotar Rafael Nadal quase sempre passa por um belo início de jogo, isso é crucial por dois motivos. O primeiro é a confiança do espanhol, que pode atingir níveis estratosféricos quando o placar está a seu favor. Em toda sua carreira, Nadal só perdeu um jogo de slam após abrir 2 sets a 0. São 205 vitórias e um revés nesse cenário.

Além disso, tudo leva a crer que a questão física deve jogar a favor do favorito. Nadal passou menos tempo em quadra até agora e chega à final mais descansado do que Medvedev. São quase três horas de diferença: 12h18min para o espanhol e 15h11min para o russo. Se a partida se alongar, o azarão, que já teve problemas físicos antes no torneio, deve levar a pior.

2. Defesa, defesa, defesa

Deixar Nadal tomar o controle dos ralis é arriscado, e Medvedev, que não tem um jogo tão naturalmente ofensivo, precisa de cuidado para estabelecer um ritmo que não deixe o espanhol à vontade. Ainda assim, quando Rafa atacar, Daniil terá que ser rápido, devolver tudo e contra-atacar bem. Contra rivais que se defendem bem, Rafa tende a viver momentos de imprecisão, perdendo a mão de quando e quanto agredir. Aconteceu contra Schwartzman alguns dias atrás – e em outras oportunidades. E é nesses momentos que Medvedev precisa ser cirúrgico e aproveitar as chances. Difícil? Muito. Impossível? Não.

3. Devoluções agressivas

Não é exatamente um ponto fraco, mas se existe algo que pode ser explorado no jogo de Rafael Nadal, é seu segundo saque. Logo, Medvedev precisa agredir com as devoluções para causar um efeito bola de neve. Se começar a perder pontos com o segundo serviço, Rafa pensará mais antes de buscar aces no primeiro. Logo, tenderá a colocar mais bolas em jogo, e Medvedev terá mais chance de entrar em ralis em igualdade de condições.

Vale lembrar que, segundo a ATP, Daniil está entre os cinco tenistas com melhores números de devolução nas últimas 52 semanas. Ele vence 30,3% dos pontos no primeiro saque do rival e 55,1% no segundo serviço. Além disso, acumula 44% no aproveitamento de break points.

4. Segundo saque agressivo

Aqui a estratégia entre naquela fronteira sem polícia entre o genial e o kamikaze. Quando enfrentou Nadal em Montreal, Medvedev cometeu cinco duplas faltas e venceu só 33% dos pontos com seu segundo serviço. Na semana seguinte, em Cincinnati, o russo arriscou muitos segundos saques e teve 42% de aproveitamento contra Novak Djokovic. O que mudou? A execução. Depois de perder o primeiro set, Medvedev correu os riscos e foi recompensado. Talvez ele precise fazer o mesmo contra Rafa.

Até porque… se o russo está em quinto no ranking de devolvedores da ATP, Nadal é o primeiro da lista, com 35,6% de pontos vencidos no primeiro saque do oponente e 55,3% no segundo serviço. Rafa também tem melhor aproveitamento de break points, com 46%.

5. Paralelas

O ganha-pão de Nadal sempre foi seu forehand cruzado, que destrói backhands de adversários destros. Medvedev não só tem um belo backhand como tem a seu favor o 1,98m de altura – ou seja, naturalmente a bola mais alta de Nadal não lhe incomoda tanto quanto outros tenistas. Equilibrar o jogo vai exigir que o russo mostre o poder de seu backhand e consiga jogar mais dentro da quadra. Assim, terá a oportunidade de cortar tempo e entrar nas bolas para agredir com paralelas de esquerda, achando o backhand e/ou o espaço que Nadal costuma deixar ali.

Sim, a lista acima é grande e complexa, mas quem disse que é fácil bater Rafael Nadal numa final de slam?

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.