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Volta às simples é vitória para Andy Murray, mas brigar por títulos não será simples

Alexandre Cossenza

12/08/2019 19h28

Foi, acima de tudo, uma vitória. Andy Murray está de volta ao circuito das simples. O mesmo escocês das lágrimas de janeiro, o mesmo tenista quase manco que estava à beira da aposentadoria e planejava o fim da carreira para Wimbledon, retornou à elite do tênis competitivo. Nesta segunda-feira, menos de sete meses depois do que parecia seu adeus ao tênis, Murray pisou na quadra central do Masters 1.000 de Cincinnati e perdeu para o francês Richard Gasquet por 6/4 e 6/4.

É inevitável classificar a partida de hoje como triunfo porque Sir Andy desafiou os prognósticos, submetendo-se a uma cirurgia delicada, sem saber quais seriam suas chances reais de voltar a pisar em uma quadra de tênis. Aos poucos, as dúvidas foram se dissipando. Murray voltou nas duplas, em Queen's, onde logo foi campeão. Havia algo de ferrugem em seu tênis, mas havia um sorriso e a garantia de que as dores haviam desaparecido. Era óbvio que ele tentaria voltar a jogar simples.

A caminhada de janeiro até agosto foi longa, mas se Murray pretende voltar a ser competitivo em alto nível, há outro percurso extenso a trilhar. A partida contra Gasquet, outro tenista que teve uma lesão séria (operou na virilha coincidentemente no mesmo dia que o escocês operou o quadril) e vem, aos poucos, evoluindo, deixou óbvio o quanto Murray ainda deixa a desejar nas simples, embora já seja bastante competitivo nas duplas.

Não que o jogo de hoje tenha sido pavoroso. Nem tanto. Porém, Murray não mostrou a velocidade de antes, especialmente nas mudanças de direção e quando precisava correr para a direita. Também faltou consistência e precisão nos golpes do fundo de quadra – o que é perfeitamente compreensível para quem não jogava simples em um torneio desde 14 de janeiro. Em muitos momentos, abusou do spin para reduzir a velocidade de jogo.

Brigar por títulos será complicado. Por mais talentoso e privilegiado que Andy seja, não é uma questão apenas de jogar e jogar até que tudo se encaixe. O processo é longo, vai incluir derrotas dolorosas, e ele sabe disso. Possivelmente também será necessário administrar a carga de treinos e a sequência de jogos para evitar outras lesões (ou a mesma). Mas quem aí ousa duvidar de alguém que já sobreviveu a um tiroteio na escola, encerrou um enorme jejum britânico em um período tão forte da história do tênis e voltou a jogar após uma cirurgia tão delicada? Eu é que não.

Coisas que eu acho que acho:

– Os melhores sinais dados por Murray nesta segunda não foram técnicos, mas em termos de comportamento. As queixas consigo mesmo, por exemplo, são um belo indício de que o principal incômodo não é mais o quadril, e sim o que ele faz em quadra. As reclamações também mostram o inconformismo dos campeões. Prova que hoje, para Murray, estar em quadra não basta. Ele quer mesmo voltar a competir e, obviamente, vencer.

– O segundo set de Murray foi claramente melhor do que o primeiro. Talvez por estar já mais reambientado ao jogo de simples, talvez por já ter uma resposta do corpo e saber exatamente até onde podia ir.

– Na coletiva pós-jogo, Andy afirmou que não vai disputar o US Open nas simples porque não se sente pronto ainda para um jogo em melhor de cinco sets. Seus planos incluem apenas as duplas e as mistas em Nova York e, talvez, a chave de simples em Winston-Salem, na próxima semana.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.