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5 motivos pelos quais Roger Federer, aos 38, é melhor que o Federer de 28

Alexandre Cossenza

08/08/2019 04h00

Roger Federer completa 38 anos nesta quinta-feira. Se era difícil imaginar alguém no início século XXI chegar a essa idade brigando por títulos de slam, era inversamente fácil apostar que se alguém faria isso, essa pessoa seria o suíço campeão de 20 slams.

Desta vez, Federer assopra velas como número 3 do mundo e sem nenhuma taça de slam erguida nos últimos 12 meses. Deixou a desejar no calor do US Open e caiu precocemente nas oitavas do Australian Open, mas brilhou ao alcançar uma semifinal em seu retorno a Roland Garros e esteve a um ponto de voltar a reinar em Wimbledon.

Ainda assim, é perfeitamente possível afirmar que o Roger de hoje, aos 38, é um tenista superior ao de dez anos atrás. Quando comemorou seu 28º aniversário, o suíço tinha acabado de vencer Roland Garros e Wimbledon em sequência, retomando o posto de número 1 do mundo. Como, então, afirmar que a versão 2019 é superior à de 2009? Apresento cinco motivos:

1. Estrategista

Foi-se o tempo em que Federer entrava em quadra achando que jogar seu melhor tênis bastava para vencer uma partida. Desde o período em que trabalhou com Stefan Edberg, o suíço não entra para um jogo grande sem um plano tático bem elaborado. O Roger de hoje sabe o que fazer e quando fazer para derrotar seus adversários – e obedece à risca o plano enquanto ele estiver funcionando. Foi assim – e só assim – que ele conseguiu conter Djokovic durante a maior parte da final de Wimbledon.

2. Estatístico

O Federer de hoje não se baseia apenas em VTs ou em seu (privilegiado) feeling para determinar a melhor maneira de encarar um oponente. Desde o começo de 2017 – antes de vencer o Australian Open após seis meses afastado – o suíço vem trabalhando em conjunto (e pagando uma bela quantia, dizem) com a Golden Set Analytics (GSA), uma empresa que trabalha com análise estatística no tênis. Segundo reportagem do Telegraph, a GSA, que se autodenomina uma espécie de Moneyball da raquete, oferece, entre outros serviços, a chamada "stat tree", que mostra a probabilidade de um jogador atacar para determinada direção baseado na posição em que ele está na quadra. A partir daí, o jogador pode criar padrões de dois golpes para explorar o ponto fraco do adversário.

3. Tecnológico

Uma lição aprendida com Pete Sampras. O americano, que se aposentou aos 31 anos, em 2002, era famoso, entre outras coisas, por jogar com uma raquete de cabeça pequena (85 polegadas quadradas) e cordas muito tensas (75 libras). Depois de anunciar que não jogaria mais, Pistol Pete declarou mais de uma vez que talvez tivesse jogado alguns anos a mais se tivesse trocado de raquete para uma com cabeça maior – o que lhe daria mais margem de segurança.

Federer fez isso em 2013, um ano especialmente difícil para ele porque além de experimentar e tentar se adaptar a uma raquete nova, sofreu com uma lesão nas costas no segundo semestre. Quando o período de adaptação acabou e o corpo voltou ao normal, Roger voltou ao circuito jogando um tênis mais agressivo, com menos madeiradas no backhand, sacando melhor e indo mais à rede. Sem conquistar um slam desde 2012, o suíço alcançou a final de Wimbledon e a semi do US Open em 2014. Era o começo de uma nova era.

4. Backhand

Tanto pela troca de raquete por um modelo com cabeça maior quanto por uma "simples" evolução técnica, o ponto fraco – e admito que flerto com heresia ao escrever "ponto fraco" e "Federer" na mesma frase – de Roger Federer não é mais tão fraco assim. O golpe mais explorado por seus adversários já não faz seu dono sofrer tanto como algum tempo atrás. E isso vale também para Rafael Nadal, como esteve evidente nas seis vitórias nos últimos sete encontros – ainda que o suíço tenha evitado o saibro por alguns anos.

Tecnicamente, é preciso ressaltar ainda o quanto o saque de Roger Federer ainda é uma arma perigosíssima – Wimbledon 2019 foi testemunha disso. O golpe, hoje, é mais preciso e mais variado do que quando o suíço dominou o circuito na década passada.

5. Físico

A recente final de Wimbledon durou 4h57min e foi a mais longa da história das chaves de simples masculinas do torneio. E é importante que se diga: Federer estava inteiraço ao fim do duelo. Isso tudo tem a ver com uma incrível dedicação e um trabalho intenso e específico, mas também é preciso ressaltar que o suíço é privilegiado nesse quesito. Joga um tênis leve, que só ele consegue praticar, deslocando-se sem esforço e poupando o corpo como ninguém. Somando a isso técnicas muito mais modernas de recuperação muscular após partidas, temos um Federer tão apto a partidas longas quanto, digamos, em 2006, quando tinha 25 anos.

Seu jogo agressivo também colabora para isso, já que suas partidas têm pontos mais curtos e duram menos. Mas a final de Wimbledon fica como prova: se precisar jogar 5h, Federer vai com tudo até o fim.

Coisa que eu acho que acho:

– Entendo que seja difícil para os fãs mais radicais aceitar que o Federer de hoje ainda seja, possivelmente, a melhor versão do suíço. Roger, afinal, dominou o circuito de 2003 a 2007 e, desde 2008, não faz isso. É preciso, porém, reconhecer o mérito e as capacidades de Novak Djokovic e Rafael Nadal, que se alternaram no topo na maior parte desta década.

– Sobre comparar 2019 e 2009, quando Federer venceu dois slams, há um elemento importante na equação. O suíço venceu em Paris sempre precisar enfrentar Nadal, seu algoz de 2005 a 2008 no slam da terra batida. Com o joelho lesionado, Rafa não foi a Wimbledon defendeu seu título. Federer levantou o troféu e voltou à liderança ao bater Roddick na final (por 16/14 no quinto set). O espanhol, lembremos, foi finalista de Wimbledon em 2006, 2007, 2008, 2010 e 2011.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.