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Saque e Voleio

5 coisas que aprendemos na Manic Monday de Wimbledon

Alexandre Cossenza

08/07/2019 20h24

A segunda-feira das oitavas de final, também conhecida como Manic Monday, correspondeu à expectativa. Belas partidas, drama, sets longos e um punhado de resultados surpreendentes. Os favoritões (Djokovic, Nadal, Federer e Serena) seguem vivos, mas a rodada deixou algumas coisas mais claras para quem vem acompanhando o torneio.

1. Ritmo de competição faz diferença

No primeiro jogo em que foi realmente exigida e precisou disputar um terceiro set, Petra Kvitova sentiu a falta de ritmo de quem não jogava desde maio. Com o revés diante de Johanna Konta, a tcheca perde uma ótima chance. Seria favorita contra Strycova nas quartas e faria um jogaço com Serena na semi.

Falando em jogaço, um deles não aconteceu. Ashleigh Barty acabou derrotada por Alison Riske de virada, e será a americana a adversária de Serena nas quartas. Não dá para negar que, além de favoritíssima, Serena conta com uma bela dose de sorte em Wimbledon. Saiu do "Grupo da Morte" e chegou às quartas depois de superar Gatto-Monticone, Juvan, Goerges e Suárez Navarro. Poderia ter duelado com Kerber nas oitavas e Barty nas quartas. Além disso, Bertens e Kvitova, potenciais rivais da semifinal, também já ficaram pelo caminho. Mas eu divago.

Ainda sobre ritmo de jogo, Johanna Konta é uma das histórias felizes britânicas deste torneio. Embalada por uma ótima campanha no saibro (finalista em Roma e semifinalista em Roland Garros), a inglesa anotou vitórias sobre Stephens e Kvitova – ambas de virada – e dá esperança real de uma nova campeã britânica nas simples em Wimbledon. A última tenista do Reino Unido a vencer na modalidade foi Virginia Wade, em 1977. O ambiente na Quadra Central será insano se ela e Serena confirmarem o favoritismo nas quartas e se encontrarem na semi.

2. Postura e mentalidade ganham jogo

Eu poderia escrever (e teria escrito, não fosse por um probleminha de saúde nesta segunda) um texto só sobre as coisas que aprendemos sobre Cori Gauff nesta edição de Wimbledon. A jovem de 15 anos mostrou maturidade técnica e mental e vontade muito acima da média para alguém de sua idade. Sua postura serve de exemplo para muitos técnicos e tenistas em fase de transição (e alguns mais velhos também).

Gauff perdeu nesta segunda para Simona Halep, que é mais experiente e, hoje, mais tenista. A romena, aliás, está em uma ótima posição, numa metade de chave em que ainda restam Elina Svitolina, Karolina Muchova e Shuai Zhang. No papel, Halep é a favorita para alcançar a final.

3. Quem não faz, leva

Emprestou uma frase feita futebolística para ilustrar o caso de Karolina Pliskova, que sacou para o jogo em 5/4 e, mais tarde, em 11/10. Jogou muito mal nos dois games e pagou o preço com a eliminação diante da compatriota Karolina Muchova (4/6, 7/5 e 13/11). O merecido castigo ainda veio com um pingo de crueldade: uma bola na fita no match point.

Pliskova era favorita para chegar pelo menos às semifinais. Halep seria uma adversária um tanto forte, mas a tcheca precisará desse tipo de vitória se um dia conquistar um slam. Wimbledon fica como uma chance perdida, e a tcheca segue sem conseguir passar das oitavas no All England Club.

4. Ninguém é gigante por acaso

Novak Djokovic, Rafael Nadal e Roger Federer não só chegaram às quartas sem grandes dramas como vêm jogando melhor a cada rodada. Nole passou tranquilo por Humbert, Rafa cedeu só seis games a João Sousa, e Federer deu uma aula a Berrettini, que venceu só cinco games.

Djokovic me parece o mais forte dos três na reta final. Não tanto pelos placares das quatro rodadas, mas pelo que mostrou que pode fazer como ninguém: se sustentar nas trocas de bola com consistência e movimentação excepcionais, além de colocar mais em devoluções do que qualquer outro. Quem avançar do lado de Federer e Nadal vai precisar sacar muito se tiver o sérvio do outro lado da rede no domingo.

Na chave feminina, Serena fez o de sempre contra freguesas: atropelou. Primeiro, Goeges. Nesta segunda, Suárez Navarro. A espanhola, aliás, nunca venceu mais de três games em um set contra a americana – e já são seis confrontos.

5. Saque ainda faz diferença

Ainda que a "grama lenta" seja um assunto recorrente em Wimbledon este ano, Sam Querrey e suas bombas de saque estão de volta às quartas de final de Wimbledon. É a terceira vez que ele vai tão longe no torneio (em 2017, alcançou as semis). Será mais um ótimo sacador no caminho de Nadal, que já eliminou Kyrgios e Tsonga.

Ainda sobre a velocidade da grama – os jogadores falam que as quadras externas são mais lentas – alguns nomes nas quartas de final dão razão à teoria: Goffin, Pella, Bautista Agut e Kei Nishikori, tenistas sem saques gigantes, estão entre os quadrifinalistas. O destaque aqui é o argentino Guido Pella, que derrubou dois finalistas de Wimbledon, mandando para casa Kevin Anderson e Milos Raonic.

6 (bônus). Certas coisas não mudam

Nada mudou na "política" do SporTV para slams. A preferência é sempre para o masculino e para os maiores nomes, mesmo que estes protagonizem partidas entediantemente previsíveis. Nesta segunda, o canal mostrou na íntegra as partidas fáceis e chatas de Rafael Nadal, Novak Djokovic e Roger Federer. O drama de Konta x Kvitova, Riske x Barty e Pliskova x Muchova, por exemplo, só apareceu em flashes, nos intervalos ou nos momentos finais.

Se serve de consolo, para quem gosta de tênis feminino, a rodada de amanhã, terça-feira, é um alívio. A programação de Wimbledon só tem as quartas de final femininas. Os homens jogam suas quartas na quarta-feira.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.