Topo

Saque e Voleio

Cori Gauff, nas oitavas de Wimbledon, passou por peneira em que um dos méritos foi não chorar

Alexandre Cossenza

05/07/2019 17h22

Aos 15 anos, a americana Cori "Coco" Gauff segue assombrando Wimbledon. Depois de se tornar a menina mais jovem a furar o qualifying do torneio na Era Aberta (a partir de 1968), acumulou vitórias impressionantes e se classificou para as oitavas de final do torneio. No caminho, mostrou incrível sobriedade para superar a pentacampeã de Wimbledon Venus Williams, a semifinalista de 2017 Magdalena Rybarikova e, nesta sexta-feira, salvou dois match points (veja abaixo, no segundo tweet deste post) e virou uma partida que perdia por 6/3 e 5/2 para superar a eslovena Polona Hercog, atual #60 do mundo.

Número 313 do ranking feminino antes do torneio, Gauff já garantiu que vai subir para o grupo das 150 melhores do mundo. Além disso, deixou claro que sabe ganhar partidas de maneiras diferentes e, principalmente, sob pressão. Não se incomodou com a atenção da imprensa nem se intimidou ao atuar na Quadra Central, o maior e mais histórico palco do tênis mundial. De onde vem essa capacidade de brilhar quando a maioria das tenistas de sua idade – e muitas veteranas também – sucumbiriam?

Uma história contada por Patrick Mouratoglou, dono da academia francesa que serve como uma das bases de treino de Gauff, ajuda a explicar. A academia tem uma fundação chamada Champ'Seed, que ajuda a custear carreiras de jovens promessas. A americana foi escolhida aos 10 anos e, para isso, precisou passar por uma entrevista e um processo rígido de seleção.

"Tivemos conversas com eles (crianças), um-a-um, tentando forçá-los um pouco. Mais do que um pouco. Alguns choraram, na verdade. Ser um campeão é sobre sua personalidade e como você lida com situações, então precisávamos saber. É fácil tentar esconder algo. Queremos fazer isso direito. Não queríamos errar em nossa escolha. Ela não chorou. Outros, sim", relatou Mouratoglou ao New York Times.

Sucesso é algo difícil de prever, mas a precocidade de Gauff nunca foi possível de esconder. Com 13 anos, em 2017, ela alcançou a final do US Open juvenil (perdeu para Amanda Anisimova, atual #26 do mundo). No ano passado, com 14, foi campeã de Roland Garros. Mais tarde, jogou a chave adulta de duplas mistas do US Open. Este ano, estava na chave de duplas de Roland Garros.

Agora, além de mais jovem qualifier da história de Wimbledon, é uma das mais novas a alcançar as oitavas de final. Nos últimos 35 anos, apenas seis meninas chegaram tão longe em um slam com menos idade. A lista é nobre: Jennifer Capriati, Mary Joe Fernandez, Martina Hingis, Steffi Graf, Gabriela Sabatini e Anna Kournikova (veja no tweet abaixo).

Durante a semana, a própria Coco vinha colocando os méritos em sua força mental: "Acho que não foi tanto meu tênis que melhorou, mas a minha mentalidade. Como minha mentalidade melhorou, meu tênis mudou. Não acho que foi uma questão de quantas bolas eu rebatia no treino. Foi mais fora de quadra, pensando em como eu posso melhorar e melhorar como me comporto em quadra. Vem sendo um desafio. Acho que meio que alcancei quase o melhor que posso ser mentalmente. Sempre dá para melhorar."

Até onde a jovem americana pode ir? Após três vitórias grandes contra tenistas mais experientes, é fácil pensar em algo como "o céu é o limite". Nesta edição de Wimbledon, porém, o próximo obstáculo será um tanto duro. Gauff vai enfrentar a romena Simona Halep, ex-número 1 do mundo, que vem de uma atuação impressionante contra Victoria Azarenka. A bielorrussa abriu 3/1 no primeiro set, mas Halep, cabeça 7 em Wimbledon, venceu 11 dos 12 games seguintes e avançou por 6/3 e 6/1.

Acompanhe o Saque e Voleio no Twitter, no Facebook e no Instagram.

Torne-se um apoiador do blog e tenha acesso a conteúdo exclusivo (posts, podcasts e newsletters semanais) e promoções imperdíveis.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.