Topo

Saque e Voleio

Larri Passos, parte II: 'A valorização da minha pessoa nos EUA é muito grande'

Alexandre Cossenza

29/06/2019 04h00

No post de ontem, você leu a primeira parte da entrevista realizada com Larri Passos em Curitiba, onde estou a convite do Instituto Sports. Hoje, publico a outra metade deste longo papo, em que o ex-técnico de Gustavo Kuerten fala sobre sua mudança para os Estados Unidos, onde mora há três anos, e a recém-firmada parceria com o Time Guga.

Entre outros detalhes, o gaúcho de 61 anos ressalta o quão é valorizado no país de Donald Trump, fala da vontade produzir outro grade tenista brasileiro nos próximos cinco anos e critica o exagerado apego de alguns jovens e suas namoradas e smartphones. Cheio de energia após superar um câncer de próstata, o treinador ainda é um completo apaixonado pelo esporte. No papo, conversamos ainda sobre como ele vê tênis na TV o dia inteiro, o mito do "tênis-força" e o domínio de Rafael Nadal em Roland Garros. Leiam abaixo.

Você está morando nos Estados Unidos há três anos. Conta um pouco da sua mudança para lá…

Essa mudança é interessante porque todo mundo sai do Brasil pensando em, por exemplo, "porque o Brasil não dá mais" e aquelas coisas todas, né? Eu praticamente me criei fora, minha carreira foi nos Estados Unidos, na Europa, então em 2011 eu alugava um lugar lá para a minha família ficar em julho e novembro. Minhas duas filhas com a minha esposa [Larri tem duas filhas: Bettina, de 14 anos, e Sofia, de 11]. Em função da adaptação das minhas filhas… É engraçado isso porque eu me sentia muito bem, tinha o meu espaço em Balneário Camboriú. Em 2014, elas me disseram "Pai, a gente está gostando, a gente quer morar aqui." Eu comecei a analisar. A Bettina, academicamente, é uma menina com uma visão diferenciada. Ela viajou comigo muito. Visitava museus, coisas na Europa. Ela teve uma criação muito diferenciada. A minha esposa é jornalista [Carla Passos], se envolveu muito com leitura. Conversei com a Carla e disse "bom, não posso morar ilegal aqui. Tenho que aplicar para o green card." Em seis dias, eles me deram a resposta que o green card foi aprovado. A Carla estava um pouco insegura, e eu disse "Para mim, não vai mudar muita coisa." Na época, eu estava com a Tamira Paszek [tenista austríaca], tinha uns projetos na China também, e trabalhando com muitos jogadores estrangeiros, isso [morar nos EUA] diminuía o meu tempo de viagem. Falei "Vamos lá então." A família se adaptou muito bem. A gente escolheu um lugar muito quieto, no sudoeste da Flórida. Eu não gosto de Miami. Para mim, não chama atenção. Eu queria conviver com mais a essência, e ali no sudoeste é um pouco mais americano mesmo. Então foi isso. Não foi aquela fuga do meu país.

Não teve nada a ver com o cenário político?

Nada! Nada a ver com essa coisa de dizer que preciso melhorar a minha vida… Agora eu estive na Europa, encontrei com alguns jogadores americanos que me disseram "Pô, Larri, você está morando nos EUA e eu não sabia!" Porque eu não badalei isso. Não fiz isso de "Agora estou aqui, se quiser vir treinar comigo aqui…" Não fiz nada disso. Eu queria ficar bem relax e continuar vindo aqui [ao Brasil]. Nos últimos três anos, eu vinha três semanas em dezembro, fazia os meus intensivos, e duas semanas em julho. A minha academia está bacana, com os quatro professores e um coordenador, e é isso.

No dia a dia lá nos EUA, você faz o quê?

Quando estou lá, eu aproveito para ficar com a minha família, então jogo tênis com a Bettina, jogo golfe com a Sofia, sou caddie da minha filha. As duas jogam tênis e golfe. A Bettina competiu pelo high school no golfe e ganhou honor. Representou a escola. A Sofia agora está mais envolvida com o golfe, e a Bettina agora competiu este ano pelo tênis. Para mim, o tênis e o golfe são os esportes que mais educam. Eu moro dentro de uma comunidade, meus amigos são golfistas… E a gente sente a diferença, a educação de uma pessoa que pratica o golfe, então eu não queria que a Bettina largasse o golfe, mas agora ela vai ficar no tênis.

No golfe, você conta suas tacadas, se errar tem que se acusar, tem todo um protocolo…

Tem que esperar a vez de jogar… Quando termina, tem que tirar o chapéu, apertar a mão da pessoa. É bacana. E tem uma coisa muito legal que eu sinto quando venho para cá… A energia que eu tenho na minha academia, lá em Camboriú, não tem em lugar nenhum no mundo (risos). Por mais que eu vá – estive agora quatro semanas na Europa, estou envolvido com o tênis… Quando eu estou lá dentro, eu sinto que quem está jogando tênis, quem está representando o tênis se formou lá dentro. Eu me sinto muito honrado de ter contribuído no meu papel. Nós temos hoje o Thiago Monteiro, a Beatriz Haddad… O meu contato com esse pessoal não para! Recentemente, estive em Paris, estava lá com o Monteiro, assisti a um jogo dele. Até escurecer, a gente estava ali, junto, na quadra. É bacana isso porque se tu for olhar o passado, o que se formou lá dentro daquela estrutura, é muito bacana isso.

Mas quando você está em casa, não tem treino.

Aí, não! Aí eu quero descanso, quero paz. Sempre tiro duas, três semanas para ficar com a minha família. Nos EUA, você não tem amigo, né? Você não arruma amigo. Todo mundo acha que é uma maravilha morar lá. Só vou dizer uma coisa para ti: é muito duro tu te adaptar ao sistema. É uma vida completamente diferente. Então essa união nossa, de tomar café junto, de fazer panqueca, comer omelete… Eu também cozinho. Faço muita comida japonesa. Claro que churrasco a gente nunca deixa de lado, mas a alimentação da família muda bastante, né?

Você já mudou para o barbecue americano ou continua no espeto?

Sim, tem que fazer o barbecue. Na minha comunidade, eu não posso fazer fumaça (risos). Eu não arrisco porque de repente começa a fazer fumaça lá dentro, aí toma uma multa (mais risos). Então é uma coisa bem clara. Eu acompanho muito essa parte política. A minha saída do Brasil não teve nada a ver com a parte de… A minha vida não ia mudar muito. Se eu estivesse morando no Brasil, estaria na minha academia, dando meus treinos, viajando com estrangeiros – porque sempre tem pedidos, consultoria – então não mudaria muito, só que facilitou bastante. Eu me sinto muito confortável em ser cidadão americano no futuro. Minhas filhas vão ser americanas, cara. Então já que falta um ano e pouco para aplicar [para a cidadania]…

Agora me fala um pouco dessa sua consultoria com o Time Guga. Você está aqui em Curitiba, no WTT com o Mateus Alves. Vai ser só com o Mateus? Ou você vai viajar com mais gente?

A ideia nasce na cabeça de um maluco, que é o Guga, de tirar o meu sossego. "Larri, tu tem que fazer parte, tu tem que continuar passando coisa para a gente." Em dezembro, ele foi fazer uma visita na academia e conversou sobre a equipe Guga. Eu falei "pô, legal essa ideia de vocês." Peguei um papel, comecei a mostrar para ele, "pô, acho que esse caminho aqui é melhor." "Pá, Larri, mas a programação está toda pronta. Agora não dá mais." Eu já estava ajudando sem ele me pedir. Depois, no início do ano, ele me ligou e falou "quantas semanas tu pode me dar por ano?" "Puxa, Guga, estou montando um trabalho com o João Domingues, de Portugal, tenho um trabalho de consultoria com a Ross School Academy, em East Hampton [Nova York]." É uma escola fantástica. Ele disse: "Nos teus compromissos, não mexe, mas eu quero umas semanas para mim. Nós temos o Pedrinho Boscardin, o Mateus, uma turminha que está vindo e, além disso, nós queremos também que tu participe da ação com os treinadores." Eu falei "Guga, isso me interessa bastante." Fazer uma reunião – por exemplo – semestral, estar com eles, trazer informações porque estou sempre na Europa, nos EUA, conversar com eles, incentivar eles, dar uma energia… Aí o Mateus foi, ficou comigo um período lá nos Estados Unidos. Eu moro perto da academia do Emilio [Sánchez]. Ele me dá todas facilidades, adora quando eu vou lá. "Larri, aqui é a tua casa", então tem um espaço muito legal. Quando eu estou em casa, quero ficar em casa, mas ficar uma semana às vezes lá, ter essa base, não tem problema nenhum.

Entendi…

Se for para a Europa, nós temos a opção de Barcelona, que tem o Emilio também. Na Alemanha, eu tenho um ponto. Fiquei com o Bellucci, fiquei com a Bia. Essas coisas, assim, a gente vai procurar montar e, ao mesmo tempo, se um desses meninos crescer, para poder levar eles junto num outro nível, né? Essa é a ideia dessa minha parte aqui. Engraçado, estava falando com o Mateus… "Mateus, alguma coisa te mandou para cá porque eu deveria estar…" Estive com o João Domingues até Roland Garros. Ele perdeu para o Fokina, duríssimo jogo. Ele veio de uma fase fantástica. Final de Túnis, perdeu para o Cuevas. Fez quartas de Estoril, perdeu para o Tsitsipas, duríssimo. O Tsitsipas foi campeão. Depois fomos para Braga, ele foi campeão de Braga [torneio da série Challenger]. Quer dizer, deu uma revolução em Portugal. "Agora tu vai ser coach do João?" Não, não vou ser coach do João Domingues fixo. Não quero mais 45 semanas por ano. Não preciso mais isso também. Quero ter meu espaço com a minha família. Quero chegar em casa. Acontece uma coisa engraçada na minha vida. Eu nunca imaginei que fosse sair da minha casa nos EUA e chorar. Quando eu saio de lá, eu choro. Eu amo estar dentro da minha casa nos EUA.

É como eles dizem lá: "home is where the heart is" ("o lar é onde o coração está), né?

É. Mas ao mesmo tempo eu quero estar envolvido com o que está acontecendo no tênis mundial. Eu tenho que estar mordendo ali. Minha viagem de quatro semanas pela Europa foi sensacional. Voltei muito motivado. Aí, na quinta-feira, o Hugo [Daibert, técnico do Time Guga] mandou uma mensagem perguntando se eu estaria disponível pelas três próximas semanas. Falei "Vou" porque depois eu tenho uma clínica de dez dias em Nova York, lá na escola. É aquela coisa: se eu fizer quatro clínicas por ano, não preciso mais viajar, está entendendo? O americano… A valorização da minha pessoa lá é muito grande. É diferente. O cara disse lá: "Eu precisava de ti 7-8 semanas por ano." Se eu fizer sete semanas lá, eu não preciso mais viajar. Aí eu vou abandonar. Falei "Não, vou fazer quatro semanas por ano para ti e vou estar ligado a alguns profissionais." Aí, na quinta-feira, o Guga me ligou. Eu falei "Só uma coisa. Liga para o Mateus. O Thiago [Alves] é o técnico dele." Aí ligaram, o Thiago adorou, falou "Ele está precisando, vai ser legal", o Mateus falou "Eu quero, eu quero!"

(risos) Ele ia dizer que não?

Porque o jogador… Tu sabe que não adianta, não adianta. A relação jogador-treinador tem que ser muito legal. Tanto é que perguntaram "Tu quer um quarto só pra ti?", eu falei "Não! Quero ficar junto com o Mateus, olhar minhas séries na Netflix, depois sair pra jantar, acordar ele de manhã com 'Bom dia, cavalo!', sabe?"

Sei.

Aí peguei, falei "Tô dentro, vamos fazer essas três semanas" e vim.

Essa é a primeira?

É. Cheguei domingo, meio-dia. Ele chegou às 16h, largou as coisas no quarto e já viemos treinar aqui, domingo de tarde. Porque veja bem: o que acontece nesse momento com essa gurizada? Eles vêm aqui, competem, perdem, nem sabem por que perderam, não sabe como é que eles ganharam…. O que é o coach nessa transição? O que é que a gente precisa fazer? É treinar competindo!

Mas isso é uma coisa brasileira ou mundial?

É um problema mundial. Não querer treinar após jogo. Os coaches estão passando muita dificuldade com isso. Eu não vou mudar meu sistema porque acho que é um sistema que vai dar resultado. Por exemplo, vou fazer uma pergunta pra ti. Tu é um cara que gosta de pesquisar. Quantos jogadores italianos estavam na chave de Roland Garros?

Nossa!

Ah, tu não tem o número?

Eu chutaria…

Quinze!

Eu ia falar 16 [após conferir, constatei que havia 21 homens italianos nas chaves do qualifying e principal em Roland Garros).

Entre o quali e a chave, tinha 15! Eu estou acompanhando. Existe um trabalho bacana que a federação italiana investe, está usando os jogadores que pararam de jogar e estão se doando. Os clubes italianos investem bastante. Os associados fazem os torneios, abrem o clube, ajudam, colaboram… Isso aqui [mostra as instalações do WTT de Curitiba] é um ATP Tour perto dos torneios Challengers da Itália. O número de torneios Future, o número de torneios Challenger. Então eles já saem do juvenil, caem na transição e já caem nos Challengers. Existe todo um processo.

E é muito torneio, o ano inteiro!

E vou dizer uma coisa pra ti: ano passado, eu estive com o Gui [Clezar]. Ele fez a semifinal de Aquila, perdeu 7/6 na negra para o Facundo Bagnis. Eu estava conversando com ele: "Não vai embora agora, Gui! Tu está jogando seu melhor tênis. Vamos para Wimbledon. Traz tua namorada pra cá." São coisas que o Guga muitas vezes fazia. Quando está jogando bem, ficar lá. Não voltar para cá. Eles [europeus] têm essa opção. Esse é um diferencial muito grande. Se tu está na Itália, jogou três torneios e tomou três primeiras, tu foi para casa, treinou, voltou para o quarto torneio e, de repente, emplaca naquele torneio! Está entendendo? Eles têm essa opção. A dificuldade que a gente tem é essa também. Eu tenho algumas coisas críticas. Acho que o brasileiro começa a criar uma afetividade muito grande por uma pessoa, uma menina, uma coisa, muito cedo. Tu tem que balancear o amor que tu tem pelo tênis e a paixão que tu vai ter por uma menina. Eu não posso sentir saudades!

Tênis é um esporte peculiar. Não é futebol que se você é o atacante, você pode jogar bem por dez minutos e, de repente, decidir uma partida.

No tênis, você tem que ser mentalmente muito completo. Se tu tiver uma falhazinha, por exemplo, sentir saudade… "Que bom se eu estivesse com ela agora." Isso não pode acontecer! Tu está ali num break point contra, não pode! Tu tem que estar com ajuste mental o tempo inteiro. Voltando um pouquinho atrás, no passado, quando eu estava com o Guga, me criticavam porque eu tinha que segurar ele. "Vamos ficar, vamos ficar!" Como ele diz no livro dele, "Eu perdi três primeiras rodadas e o cara me disse que eu estava jogado bem." Mas estava na Europa, jogando com os melhores europeus, de igual para igual, mas perdendo. Só que eu comecei a ir para a Europa nos anos 1980. Eu aprendi toda a parte mental, a parte técnica e tal na Europa. Hoje, é uma dificuldade. Você conversa com todos treinadores europeus, é a mesma coisa. Por exemplo, eu gostaria que o meu jogador ficasse das 8h da manhã até as 11h sem tocar no celular. Seria legal.

Você consegue?

Na minha academia, não tem problema. Mas, por exemplo, eu vim para cá. Todos os dias, às 7h30, estamos aqui. Eu e Mateus. Foi do caralho! A gente trabalhou, ele conversou comigo, se abriu para mim. Eu falei "Parabéns, agora nós vamos trabalhar." Segunda, meio-dia, ele falou para mim: "Estou sentindo a diferença. Que bom, Larri." Quer dizer, já me deu um feedback. Mas por quê? De manhã, peguei ele das 8h até as 11h, e ele não usou o celular. Aí terminamos, fomos para a academia, malhamos e pronto. Isso aqui [aponta para o celular] te dá respostas muito rápidas. É complicado, cara. Tu fica muito envolvido com isso. A minha mulher briga, me xinga.

Você ainda vê muito tênis, né?

A vantagem de morar nos EUA é a seguinte: eu tenho, a partir das 4h da manhã, todos torneios de tênis dentro de casa, masculino e feminino. Eu olho todos os jogos! Feminino e masculino! Vai que amanhã ou depois eu tenho que trabalhar com o feminino de novo… Que nem surgiu ano passado. Era para eu trabalhar com a Yafan Wang. Eu falei "Não posso, estou com o Guilherme. Não vou abandonar o Guilherme. Se eu deixar ele de lado agora, a cabeça dele vai pirar." "Tu tem que ficar 30 semanas com ela." Zero chance! Ficar 30 semanas de novo? Então a vantagem é essa. Agora o Tennis Channel pegou os torneios da WTA… Mostravam Maiorca, daqui a pouco mostravam outro torneio, tinha quatro quadros! Troço de louco, cara! Os americanos são muito espertos. A USTA reclamou que o Tennis Channel não mostrava tênis feminino, e o tênis feminino americano está muito bem. As meninas americanas reclamavam que não tinham visibilidade no país. O Tennis Channel foi lá e pumba! Mostra todos os torneios, uma loucura.

E como você vê esse projeto do time Guga?

Eu fui bem claro com o Guga: "Não vamos esperar resultado antes de cinco anos." Ele disse "Pô, Larri, tua ideia é boa." Vamos tentar daqui a cinco anos tentar colocar um cara de novo… É um sonho. Eu não consigo viver sem sonho de grand slam. O grand slam está tão dentro do meu sangue… Cheguei agora lá [em Roland Garros], e o Guy Forget, diretor do torneio, eu mandei um email para ele dizendo "Guy, tô chegando", e ele "Welcome back, Larri." Cheguei lá, ele veio e me abraçou. O cara que é o supervisor agora perguntou o que eu estava achando das mudanças. Aí eu estava na quadra central, estava o Guy lá em cima, ele gritando "Larri!" Eu vejo isso: daqui a pouco pegar um guri desses, botar debaixo do braço de novo. É isso que eu vejo. É essa energia que eu quero! Mas eu preciso que eles queiram!

As próximas duas semanas serão como?

Eu vou com o Mateus para Buenos Aires. Depois eu volto, faço a clínica até o dia 19, e a equipe do Guga quer marcar uma semana com todos os técnicos e alguns jogadores para a gente fazer essa coisa de eu chegar na quadra, mostrar para os técnicos, pegar os jogadores e mostrar… E conversar muito! Trocar bastante ideia, mostrar o que está acontecendo também. E veja bem: todo mundo fala muito no tênis força.

Mas está meio que mudando isso, né?

Espera só um pouquinho, é isso que eu vou explicar. Eu estive na Europa agora e fiz uma análise: quem acaba ganhando o jogo é quem vai estar mais sólido no final. Se tu for olhar dez anos atrás, o tênis fisicamente não era tão forte que nem hoje. Vê um [Matteo] Berrettini [atual 20 do mundo]. Ele atira a bola pra cima e PEI, PEI PEI. Daqui a pouco ele pega um cara que dá um slice, dá duas bolas, ele se atrapalha. O Federer chega numa semifinal com 37 anos de idade. Dez anos atrás, quem dominava o tênis? Federer. Em 2000, o Guga dominava. Ele pegava forte, mas tinha variação. Conseguia jogar uma bola profunda alta, atacava na paralela, tinha variações. Então eu estava conversando hoje de manhã com os treinadores sobre isso. "Vocês, na formação, na transição, não podem se basear só na força. Vocês têm que dar algo a mais."

Hoje a gente tem uma Ashleigh Barty, número 1 do mundo, que não tem nada de tênis força…

Essa menina é um exemplo! É um exemplo! Ela parou de jogar tênis para jogar críquete. Eu acompanhei a volta dela, fui para os torneios de US$ 25 mil lá na Austrália, quando ela voltou a jogar. Ela pediu wild card em duplas com a Dellacqua. Até jogaram contra a minha jogadora. Começou a jogar dupla de novo para pegar ritmo, depois jogou umas simples e foi indo nos US$ 25 mil. Foi interessante. Ali ela estava voltando. É uma coisa boa para o tênis porque ela tem um slice de esquerda, ela tem um backhand pesado, ela saca com uma técnica boa, não saca porrada, saca colocado, né?

Eu adoro ver como ela constrói ponto.

Ela constrói muito bem ponto. Então isso é bacana. Aí tu vai olhar, por exemplo, um Tsitsipas. Ele vai lá para trás, joga alto, tem que saber. Não tá dando certo, tem que ir lá atrás jogar alto! Então é isso que muitas vezes… Tênis não é só porrada, não! É isso que é bacana. Eu vejo esse espaço para mim, de poder trabalhar, de poder mostrar. Se o cara é alto, ele tem que saber o quê? Tem que saber jogar rápido, tem que aproveitar a altura dele para abrir a quadra. Onde ele tem que aprender isso? Na transição! Por isso que nós precisamos desse envolvimento de técnico. Eu estava com o Jaime [Oncins, novo capitão brasileiro na Copa Davis] lá em Roland Garros, ele me pediu algumas opiniões e tal.. Estávamos conversando sobre se envolver. Os caras mais antigos, nós temos que nos envolver nesse processos e mostrar para os meninos que não é só fechar o olho e bater. Porque na hora nos Challengers… Tu não tem ideia! O que tem de jogador bom top 200! Top 200 joga bem tênis, cara. Tanto é que chega em Roland Garros e um ou outro belisca sempre. Agora deixa eu fazer uma pergunta pra ti: nos próximos três anos, quem vai ganhar do Nadal?

Thiem.

Cara, o tempo está passando. O tempo está passando, e eu acho que nos próximos três anos, ninguém vai ganhar dele, cara.

(risos) O cara é um monstro, né?

Eu vim de lá agora. Veja bem… O cara em cinco sets… Como ele joga! A bola passa a um metro e meio de altura da rede! O cara atacou o back dele, de repente ele faz assim e… Vum! Ele dá uma alta lá na paralela para trazer o jogo para o forehand dele. O Guga fazia muito isso. Eu fazia assim [gesticulando], ele já sabia. "Devolve alta na esquerda no segundo saque." No deuce, ele devolvia alta na esquerda do cara, para o cara ser obrigado a ir para o revés dele. E aí ele fazia pizza, né? Todo mundo sabe que a gente tinha dificuldade de se mexer para a direita. Ninguém é perfeito. Assim como o Nadal, se tu for abrir…

Tem que ter coragem pra abrir no forehand dele, né?

Mas para abrir lá, tu tem que jogar alto aqui (backhand). E quem é que sabe jogar alto? Quem é que sabe jogar com duas velocidades? É uma loucura. Por exemplo, naquele set que o Thiem ganhou [na final de Roland Garros], ele gastou toda a energia que tinha. Agora não tem mais gás.

Mas também o que ele acertou de bola naquele set… Pra fazer isso por três sets…

Tu tem que jogar 100% o tempo inteiro.

Acompanhe o Saque e Voleio no Twitter, no Facebook e no Instagram.

Torne-se um apoiador do blog e tenha acesso a conteúdo exclusivo (posts, podcasts e newsletters semanais) e promoções imperdíveis.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.