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Saque e Voleio

Andy Murray: uma recompensa e um presente melhor que a encomenda

Alexandre Cossenza

24/06/2019 17h03

Em 28 de janeiro, quando passou por uma cirurgia no quadril, Andy Murray não sabia o que seria de seu futuro. A intervenção era necessária até para que o escocês tivesse condições de realizar sem sentir dor atividades de uma pessoa normal. Voltar a jogar era uma possibilidade difícil de quantificar. Competir em alto nível? Mais complicado ainda.

Foi rápido. Menos de cinco meses depois, o britânico de 32 anos estava na chave de duplas do ATP 500 de Queen's ao lado do veteraníssimo Feliciano López, de 37 anos. Era para ser uma celebração de seu retorno, um brinde ao sucesso da operação que lhe permitiu treinar sem sentir dor novamente. Um joguinho, talvez dois, e todo mundo já ficaria feliz o bastante. A grande vitória – mesmo – era estar competindo, curtindo o esporte dentro de quadra sem dor.

Quando sorteio colocou Murray/López diante de Cabal/Farah, cabeças 1, logo na primeira rodada, o destino parecia estar selado. Uma rodadinha e pronto. Só que Feliciano López estava em uma semana inspirada e Sir Andy Murray mostrava um nível acima do esperado. 7/6(5) e 6/3. Sorrisos, vitória, festa da torcida. Era o dia perfeito. Tudo encaixou. Lindo, maravilhoso, difícil de repetir. A campanha certamente não continuaria por muito tempo.

Aos poucos, contudo, foi ficando claro o quão inspirado estava Feliciano e o quanto Murray conseguiria render consistentemente. Vieram vitórias sobre duplas relevantes: 6/4 e 7/6(3) sobre Evans e Ken Skupski; 7/5, 6/7(5) e 10/7 sobre Kontinen e Peers (!!!); e um 7/6(6), 5/7 e 10/5 sobre Ram e Salisbury na final. Uma partida em que Murray e López salvaram set point numa devolução de Murray, viraram um tie-break que perdiam por 5/1 e foram superiores no momento crucial, o match tie-break.

Para Feliciano, campeão de simples e duplas aos 37 anos, a semana mais emocionante da carreira. Para Andy, uma recompensa à altura do esforço que ele fez para voltar a pisar em uma quadra de tênis. Para os fãs, um presente melhor do que a encomenda.

Coisas que eu acho que acho:

– Foi um título grande e relevante, mas talvez ainda seja o caso de moderar as expectativas no que diz respeito ao retorno de Murray às simples. É outro esporte, outro tipo de exigência. Em vez de ficar uma hora e meia jogando pontos curtos e de movimentação limitada, ele precisaria estar preparado para correr a quadra inteira por três horas ou mais. A diferença é abissal.

– Há quem considere que o sucesso de Murray nas duplas evidencia o baixo nível da modalidade. Não acho que seja o caso. São modalidades com exigências distintas, e o circuito de duplas tem muita gente talentosa. Além disso, Murray não é exatamente um simplista comum. Sempre soube volear bem, é dono de uma devolução mortal e dá lobs como ninguém. Não por acaso, ganhou uma Copa Davis jogando todos pontos ao lado do irmão.

– Quanto às expectativas de Murray ir bem na chave de duplas em Wimbledon, aí é outra história. Ele atuará ao lado de Pierre-Hugues Herbert. Devido a todas qualidades já citadas acima e ao nível que Murray já demonstrou em Queen's, ele e o francês devem formar uma dupla forte e que, sim, já pode ser considerada candidata (não favorita) ao título de Wimbledon. Resta saber o quanto eles conseguirão evoluir no entrosamento durante o torneio. O potencial é grande.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.