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Thiem bate um irritadiço e instável Djokovic e vai repetir a final de Roland Garros contra Nadal

Alexandre Cossenza

08/06/2019 11h03

Na sexta-feira, Novak Djokovic não teve paciência para lidar com o forte vento no primeiro set. No sábado, o sérvio perdeu a calma ao ser punido por estourar o tempo para sacar. Enquanto o número 1 do mundo oscilava junto com seu humor, Dominic Thiem, que encarou as condições sem reclamar e fez uma brilhante partida, tirava vantagem. No fim, a solidez e a concentração do austríaco foram recompensadas com um triunfo por 6/2, 3/6, 7/5, 5/7 e 7/5 para voltar à final de Roland Garros.

O encontro entre Thiem e Rafael Nadal será uma repetição da decisão do ano passado, vencida pelo espanhol por 6/4, 6/3 e 6/2. Será também o terceiro duelo entre eles em Roland Garros. Rafa também saiu vencedor nas semifinais de 2017 (6/3, 6/4 e 6/0) e na segunda rodada em 2014 (6/2, 6/2 e 6/3).

O placar geral de confronto diretos mostra 8 a 4 para Nadal, mas os duelos recentes sugerem equilíbrio. Thiem venceu dois dos últimos quatro jogos e triunfou na única vez em que eles se enfrentaram em 2019: 6/4 e 6/4 nas semifinais do ATP 500 de Barcelona.

Para Djokovic, a derrota significa o fim da série de 26 vitórias em slams e a impossibilidade de completar mais um "Djokoslam", vencendo os quatro torneios do Grand Slam em sequência. O sérvio é o atual campeão de Wimbledon,do US Open e do Australian Open e tentava realizar o feito pela segunda vez na carreira.

O relato

Assim como na semifinal anterior, entre Federer x Nadal, a partida começou com muito vento, e ficou logo claro quem estava mais disposto a enfrentar o clima adverso. Enquanto Thiem tentava se virar e colocar a bola em jogo, Djokovic somava erros. O sérvio perdeu o serviço logo no terceiro game e viu o austríaco abrir 3/1 em seguida. Sem vencer mais nenhum ponto no saque do oponente até o fim da parcial, Nole voltou a ser quebrado no sétimo game. Thiem sacou confortavelmente e fez 6/2.

Até ali, Thiem somava seis winners e três erros, enquanto Djokovic, irritado, acumulava oito erros e apenas uma bola vencedora. O número 1 chegou a argumentar com o árbitro da cadeira sobre o vento, mas o supervisor entrou em quadra, conversou com Nole e mandou a partida continuar.

Houve, enfim, uma paralisação, mas só 25 minutos depois das queixas do #1 e por causa de chuva, não do vento. A pausa, no meio do segundo set, foi curta, e pouco mudou na dinâmica do jogo, mas o comportamento de Djokovic era outro. Ao parar de reclamar, o sérvio também parou de errar. Preocupou-se mais em colocar a bola em jogo, e a recompensa veio logo. No oitavo game, Thiem cometeu seguidos erros, dando a quebra para o sérvio, que abriu 5/3 e confirmou o saque na sequência para igualar o jogo em 1 set a 1.

Thiem voltou a errar menos e aproveitou para abrir 3/1 quando voltou a pingar, e a partida acabou transferida para este sábado por causa do mau tempo. Quando o jogo recomeçou, Djokovic era um tenista mais sólido do que na véspera. Teve break points em três games seguidos, conseguiu uma quebra e igualou tudo em 4/4. A coisa só mudou no fim do set, quando Nole voltou a se mostrar incomodado com o vento. Quando levou advertência por estourar o limite de tempo enquanto esperava por causa do vento, perdeu a paciência com o árbitro. No momento de instabilidade, voltou a errar e perdeu o saque quando não podia. No 5/6, após salvar três break points, tentou um saque-e-voleio e levou uma passada: 7/5 Thiem.

Entre os sets, Djokovic bateu boca com o árbitro e foi irônico, perguntando se o oficial jogava tênis e sabia como era sacar em 5/6, com o público ainda aplaudindo, depois de um ponto longo. Após ouvir "sim" do árbitro, disse "parabéns, cara. Parabéns. Você fez seu nome. Você se se fez reconhecer. Você vai ter todo o crédito depois disso."

O quarto set vi os dois tenistas oscilando entre um belo tênis e erros bobos. Djokovic teve a vantagem duas vezes, mas também encontrou problemas para manter o serviço e permitiu que Thiem empatasse em 4/4. O austríaco, então, confirmou, fez 5/4 e colocou o número 1 sob pressão. Com Nole sacando em 0/15, Thiem ficou a três pontos da final. Foi aí que a coisa começou a desandar para o austríaco, que cometeu uma série de erros. O #4 não só perdeu a chance de quebrar Djokovic, mas somou três erros não forçados no 5/5 e, com uma dupla falta no break point, cedeu a quebra. O número 1 do mundo não desperdiçou a chance, fez 7/5 e levou o jogo para o quinto set.

A parcial decisiva foi nervosa, com break points para os dois lados. Djokovic se salvou por pouco no segundo game, e Thiem escapou no terceiro. No quarto, um erro não forçado do sérvio deu a primeiro quebra de vantagem para o austríaco, que abriu 4/1 na sequência. Foi aí que voltou a ventar forte na Quadra Philippe Chatrier. Depois de Thiem conquistar um break point com um lob, Djokovic se salvou com uma direita vencedora e foi logo pegar a raqueteira para deixar a quadra. A chuva forçou mais uma interrupção.

O jogo recomeçou cerca de uma hora depois e, no primeiro ponto, Djokovic interrompeu o rali pedindo bola fora. O árbitro de cadeira desceu e marcou bola boa, para desespero do sérvio, que salvou mais um break point com um belo saque e, depois confirmou o serviço. A maré mudou novamente. Depois de duas esquerdas erradas de Thiem, Nole foi à rede seguidas vezes, ganhou pontos com voleios e quebrou o saque com um lob longo do austríaco.

Na hora de empatar a parcial, contudo, o número 1 vacilou. Abriu 30/0 e estava perto de fazer 4/4, mas cometeu quatro erros não forçados seguidos e perdeu o serviço. Com 5/3, Thiem finalmente teve a chance de sacar para o jogo e também vacilou. Abriu 40/15, com dois match points, mas anotou quatro erros seguidos e também perdeu o saque. Desta vez, Djokovic finalmente igualou o set, deixando o placar em 5/5.

Como Roland Garros não adota tie-break no último set, o duelo ganhou contornos cada vez mais dramáticos. Apesar de a partida passar das 4h de duração, o físico não era um fator, já que os dois primeiros sets foram disputados na véspera. Era mesmo uma questão de controlar os nervos e jogar bem nos momentos mais delicados. Djokovic voltou a falhar no 12º game, cedendo outro match points. Desta vez, Thiem converteu com uma direita indefensável.

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Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.