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Saque e Voleio

5 chaves da vitória de Roger Federer sobre Stan Wawrinka em Roland Garros

Alexandre Cossenza

04/06/2019 15h25

A trajetória de Stan Wawrinka em Roland Garros 2019 chegou ao fim nesta terça-feira, dois dias depois da memorável vitória em 5h09min de jogo sobre Stefanos Tsitsipas. E é possível afirmar que o desgaste daquela partida pouco ou nada atrapalhou na derrota de hoje para Roger Federer, que fez 7/6(4), 4/6, 7/6(5) e 6/4, em 3h35min.

O veterano de 37 anos, campeão do slam francês em 2009, entrou na Quadra Suzanne Lenglen com um plano de jogo bem elaborado e o executou brilhantemente. Nos parágrafos abaixo, listo algumas da chaves dessa vitória:

1) Saque

Hoje em dia, o saque é mais importante do que nunca para Federer. Contra Wawrinka, que não tem a melhor das devoluções, Roger tinha uma certa margem para trabalhar com mais folga e aproveitou bem isso. Encaixando e colocando bem os serviços, colocou-se frequentemente em posição para comandar os ralis já na segunda bola, o que faz muita diferença contra alguém agressivo como o compatriota. Federer acertou 63% dos primeiros serviços e ganhou 77% dos pontos com eles. Além disso, venceu 58% dos pontos com o segundo serviço (muito mais do que os 46% do rival).

2) Saque-e-voleio

Não foi só no direcionamento do saque que Federer incomodou Wawrinka. O saque-e-voleio, usado como variação, fez estragos na devolução do rival de duas maneiras. Primeiro porque Wawrinka estava posicionado para retornar o saque muito além da linha de base, dando tempo extra para que Federer chegasse à rede e fizesse bons voleios. Além disso, o saque-e-voleio, usado sem um padrão aparente, confundia Wawrinka, que nunca sabia o que vinha pela frente e jamais adquiriu um ritmo bom nas devoluções. E para quem não sabe quando esse saque vem, a imagem de Federer subindo à rede deve ser uma das mais aterrorizantes do tênis moderno. Sim, Stan conseguiu algumas belas passadas de devolução, mas o resultado dessa balança foi extremamente favorável a Federer.

3) Variação

O melhor plano para minimizar as qualidades de Wawrinka no saibro é variar o jogo, algo que Federer conseguiu com maestria nesta terça. Fosse experimentando curtinhas logo de devolução, usando slices na paralela e na cruzada, ou alternando peso, direção e efeito em suas bolas, o atual número 3 do mundo jamais deixou Stan confortável para atacar por longos períodos de tempo – ou até por ralis inteiros. Wawrinka, que não é o mais móvel dos tenistas, sempre precisava se deslocar e fazer uma bola não tão simples para desequilibrar Federer, o que não é nada fácil. Jogando assim, ativando todos os botões do seu extenso painel de recursos, o ex-número 1 do mundo conseguiu equilibrar o jogo do fundo de quadra e vencer vários ralis.

4) Defesa

Mesmo diante de variações e bons saques, Wawrinka conseguiria bolas para agredir e causar problemas para Federer. Em quatro sets, Stan disparou 54 winners. E esse número teria sido maior não fosse a excelente capacidade defensiva de Federer, que, mesmo aos 37 anos, move-se com uma velocidade lateral espantosa e, acima de tudo, lê excepcionalmente bem os golpes do adversário. Mesmo em posição de desvantagem nos ralis, Federer forçou Wawrinka a bater bolas a mais, a buscar mais as linhas e, consequentemente, a errar mais (Stan cometeu 61 erros não forçados). Isso sem falar em um punhado de contra-ataques espetaculares que deixaram Wawrinka sem ação.

5) Consistência

Tudo que foi citado acima seria inútil se Federer não mostrasse consistência para aplicar o plano de jogo diante de um adversário em grande momento. O veterano foi brilhante do começo ao fim, com margens mínimas, vencendo dois tie-breaks apertados e virando um quarto set onde, se não foi espetacular, foi mais consistente do que Wawrinka, que desperdiçou uma quebra de vantagem com seguidos erros não forçados.

Nadal na mira

O próximo desafio de Federer será Rafael Nadal, que traz para a mesa um conjunto de obstáculos bem diferentes daqueles impostos por Wawrinka. Trago em breve uma análise do confronto, apontando o que o suíço vai precisar fazer para finalmente derrotar o espanhol no saibro de Roland Garros.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.