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Bruno Soares, sobre rompimento com Jamie Murray: 'Nossa energia dentro de quadra não era a mesma'

Alexandre Cossenza

29/05/2019 04h00

Bruno Soares não jogará mais ao lado de Jamie Murray. Roland Garros foi o último torneio disputado pela parceria que conquistou dois slams, terminou 2016 como número 1 do mundo e levou o escocês ao topo do ranking "individual" de duplas. A ideia partiu do irmão mais velho de Andy Murray e, quando começar a temporada de grama, Soares vai atuar ao lado do croata Mate Pavic, atual #12 do mundo, que vai desfazer o time com o austríaco Oliver Marach.

Para entender um pouco mais sobre a mudança e o que isso vai significar na temporada do mineiro de 37 anos, conversamos rapidamente nesta terça, pouco depois da derrota diante dos italianos Berrettini e Sonego por 4/6, 7/5 e 7/6(4), e Bruno falou sobre o processo, desde a conversa com Jamie até o convite feito a Pavic, sua primeira escolha.

Como quase sempre, o atual número 7 do mundo mostrou otimismo, dizendo que a nova parceria terá outros pontos fortes e ressaltando que sua melhor parte da temporada ainda está por vir. Por isso, ainda há esperança de somar o bastante e classificar para mais um ATP Finals.

O quanto o Jamie chegar para você e falar sobre o fim da parceria te pegou de surpresa? Não digo nem tanto pelo momento da dupla, mas pelo fato de ser no meio do ano. Normalmente, os caras do seu nível de ranking só fazem esse tipo de troca no fim da temporada…

Olha, quanto à decisão dele, não me surpreende, não. Mais do que os resultados, a nossa energia dentro de quadra este ano já não estava a mesma. Acho que isso é normal, é um desgaste natural do tempo que acaba acontecendo. Fazer no meio da temporada surpreendeu um pouco, mas é o que você falou: o pessoal da nossa área de ranking normalmente não faz isso no meio da temporada porque a gente está com chance de classificar para o Masters (ATP Finals), estava com ponto ali na briga, mas faz parte. Acho que tem que respeitar a decisão. Se o cara sente que é o momento, é melhor fazer de uma vez do que ficar arrastando alguma coisa. E se é para fazer em algum momento, a hora é agora. Se fizesse depois da temporada de grama, aí sim ficaria bem mais complicado para fazer alguma coisa com a parceria nova.

Quando você separou do Alex (Peya), vocês ainda jogaram juntos e tiveram bons resultados mesmo depois do anúncio do fim da parceria. No caso do Jamie, você acha que afetou em Roland Garros?

Não, cara. Acho que não afeta, não. A gente conversou logo depois de Roma, então já tem duas semanas que a gente já está sabendo. Eu acho até que muitas vezes isso leva para o lado positivo. Você fica naquela pressão da temporada, de bons resultados e tal, às vezes até um pouco impaciente com as coisas, e obviamente, quando termina, você quer terminar bem e acaba ficando mais positivo, mais paciente, aceitando mais as coisas. Eu acho que não afetou em nada, não. Não sei se vocês conseguiram acompanhar o jogo, mas a nossa energia estava boa. Os caras jogaram bem. Eu achei que eu joguei bem, saquei bem, fiz a minha parte bem e… Mas não afetou isso, não. Faz parte. Obviamente, a gente quer terminar com um grande resultado, né, cara? Mas isso acontece. Jogo no detalhe. Não tira a grande parceria que a gente teve. Mas, voltando à sua pergunta, da minha parte, afetou zero. Da parte do Jamie, acho que também não. Nenhum momento eu senti ele diferente por causa disso ou alguma coisa assim.

Por que o Pavic? Pergunto porque ele e o Marach estavam bem na corrida, em quarto lugar, e de fora você olha e não sente nada estranho. Foi sua primeira escolha? E eles iam se separar?

Pois é, a minha ordem de raciocínio foi a seguinte: o Pavic foi o primeiro que eu liguei. Por que ele? Eu gosto muito do jogo dele. Ele tem um jogo agressivo e eu acho que ele tem um jogo parecido com o meu. Os pontos fortes dele são a devolução, ele é um cara que saca bem, e acho que é um cara com uma personalidade parecida com a minha, um cara tranquilo fora da quadra, super positivo dentro de quadra. Acho que a gente pode se completar muito bem nessa área aí. Temos algumas áreas que a gente vai ter que achar um jeito de compensar. Obviamente, eu vindo de um dos melhores voleadores do mundo, que é o Jamie, e passando para o Pavic, que voleia bem, mas não é o Jamie, a gente vai ter que trabalhar algumas coisas nessas áreas. Mas eu sempre tive essa – não vou falar que essa vontade de jogar com ele, mas sempre admirei o jogo dele e sempre achei que era um cara com quem eu poderia jogar bem junto. O porquê dele? É uma linha de raciocínio parecida com a minha e do Jamie. Apesar de ele não estar tendo resultados ruins, também não estava tendo nada espetacular e era um cara que, de repente, estava propício a fazer alguma coisa parecida e mudar, tentar algo novo. Eu sou bem amigo dele, a gente conversava bastante das coisas, de resultado e tal… Nunca tinha falado disso porque foi uma coisa meio inesperada, mas foi nessa linha de raciocínio. Obviamente, eu peguei ele de surpresa. Ele pediu para pensar alguns dias e me retornou falando que queria abraçar a causa.

Ele também é canhoto e devolve na direita como o Jamie, não?

Canhoto também, mantém o lado. O estilo dele é diferente do do Jamie. O Jamie é um cara que trabalha mais o saque e joga tudo na frente. O Mate já é o contrário. Ele tem um saque muito agressivo e firme na devolução, uma devolução agressiva também. Então vai ser adaptar isso aí e trabalhar em cima disso. Acho que a gente vai ter um ponto muito forte na devolução. Não vai ser tão forte na rede, mas vai ser muito forte do fundo. É um estilo parecido ao que eu jogava com o Alex, né? Acho que a gente acaba colocando muita pressão no saque do adversário, o que faz a gente sacar com mais liberdade,sabendo que a gente pode quebrar a qualquer momento.

E como fica para o ATP Finals? Você sempre coloca esse torneio como objetivo, até porque é um evento grande, tem um bom prêmio em dinheiro, é onde todo mundo quer estar no fim do ano. Segue um objetivo? A mudança te coloca mais pressão?

Com certeza, segue sendo um objetivo meu. É o que você falou: é um belíssimo torneio, é o lugar onde todo mundo quer estar. Obviamente, diminuiu a margem agora. Temos metade da temporada para fazer isso, mas acredito totalmente que a gente pode fazer. Vem a minha melhor temporada agora. Grama é uma temporada que eu jogo bem, mas depois o meu verão americano vem sendo nas últimas temporadas a minha área mais forte, então acredito que a gente pode fazer isso. Parceria nova, tudo novo, tem que correr atrás desse prejuízo. Mas acho que o que o Jamie fez é normal. Se o cara sente, tem que respeitar e tem que entender. Fica a nossa amizade, parceria e tudo mais. Agora é bola pra frente.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.