Topo

Saque e Voleio

Favoritos dominantes e um competente Federer em posição privilegiada

Alexandre Cossenza

28/05/2019 16h15

De certo modo, a primeira rodada da chave masculina de Roland Garros foi uma espécie de "se-você-jogou-bem-eu-posso-jogar-melhor" entre os principais candidatos ao título. Isso incluiu Roger Federer, que fez 6/2, 6/4 e 6/4 em cima de Lorenzo Sonego no domingo; Stefanos Tsitsipas, que bateu Maximilian Marterer por 6/2, 6/2 e 7/6(4), Rafael Nadal, que aplicou 6/2, 6/1 e 6/3 sobre Yannick Hanfmann; e Novak Djokovic, que derrubou Hubert Hurkacz por 6/4, 6/2 e 6/2

A exceção foi Dominic Thiem, que escapou por pouco de precisar jogar cinco sets e avançou fazendo 6/4, 4/6, 7/6(5) e 6/2 sobre Tommy Paul. O americano de 22 anos chegou a abrir 4/0 no tie-break do terceiro set antes de cometer seguidos erros e ceder a virada. É cedo para dizer o que isso significa em termos de chance de título pra Thiem, atual vice-campeão. Vale, porém, prestar atenção especial em seu jogo de segunda rodada, que será contra o cazaque Alexander Bublik.

Voltando ao domingo, Tsitsipas me chamou atenção pela seriedade. Jogou ponto a ponto concentradíssimo, como se a partida contra Marterer fosse um obstáculo indesejado mas necessário. No fundo, qualquer duelo de primeira rodada deve significar isso mesmo para quem pensa em título. O ponto aqui é mostrar que o grego já passou da fase de celebrar boas campanhas. Ele agora pensa grande e vai ser interessante vê-lo lidar com essa expectativa pela primeira vez em um slam. Até a Austrália, era um garoto que queria surpreender a elite. Hoje, é um top 10, semifinalista de slam, finalista de Masters 1000 e que tem no currículo triunfos sobre Djokovic, Nadal e Federer.

Federer, por sua vez, ocupa uma posição incomum, já que no saibro e em melhor de cinco ele é claramente menos cotado do que Djokovic e Nadal. O suíço abraçou com todas as forças o discurso de azarão, de que não tem nada a perder, de que está bem à vontade e curtindo essa posição. Isso talvez funcione bem mentalmente, já que Roger é muito mais perigoso quando joga solto e mostrou isso naquele Australian Open de 2017, pós-lesão no joelho. Maaaas que ninguém acredite que isso vai surpreender Djokovic ou Nadal (ou Thiem ou Tsitsipas) na reta final. Todo mundo ali sabe o perigo que Federer representa, mesmo que o suíço não queira falar abertamente sobre isso. Tudo bem, faz parte da guerra mental em um slam, e o veterano sabe o valor de suas declarações.

Sua estreia em Paris foi confortável. Um pouco pelo belo nível de tênis exibido, um pouco pelos nervos do adversário. Aos 37 anos, Federer é o ídolo de muitos tenistas jovens. Sonego, 24 anos, é um deles. É o tipo de duelo que o suíço já entra vencendo mentalmente. E sobre ser azarão, Federer terá pela frente Otte (#144) na segunda fase, Berrettini/Ruud na terceira rodada e Mahut/Kohlschreiber/Mayer/Schwartzman nas oitavas. Só sendo muito ingênuo para não vê-lo como claro favorito até – pelo menos – as quartas.

Ainda assim, parece-me uma certa ousadia classificar Tsitsipas como o mais cotado em um eventual duelo com Federer. Isso, é claro, se o grego alcançar as quartas, o que pode não ser tão simples assim, considerando o encontro com Wawrinka, Garín, Dimitrov ou Cilic nas oitavas. Então, pensando lá na frente, não soa nada ilusório imaginar Roger numa semifinal com Rafael Nadal. Aí, sim, o suíço seria inquestionável o menos cotado. Só que mesmo nesse cenário Roger estaria em uma posição interessante. Além da mentalidade "nada a perder", o atual número 3 vem numa sequência de cinco vitórias sobre o espanhol – algo inédito nessa rivalidade. Será?

Sobre as vitórias de Rafael Nadal e Novak Djokovic, há pouco a dizer além do óbvio – e do que já relatei aqui no blog ontem. Os dois foram sólidos, estiveram concentrados do início ao fim e descomplicaram suas vidas. Saíram de quadra rápido, poupando energia que pode ser valiosa lá no fim da próxima semana.

Os dois serão igualmente favoritos na segunda rodada. Rafa pega o qualifier Yannick Maden, e Nole encara o lucky loser Henri Laaksonen. Podemos esperar mais dois triunfos igualmente dominantes e rotineiros.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.