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Saque e Voleio

Roma nunca valeu tanto para Rafa

Alexandre Cossenza

20/05/2019 08h42

O Masters 1.000 de Roma não foi o mais típico dos torneios. Houve reclamações sobre a montagem das programações, a manutenção do saibro, falta de quadras para treino, preço dos ingressos… Teve até jornalista com credencial cassada. Choveu, vários jogadores tiveram que fazer jornada dupla e muita gente caiu machucada. A cena mais comum da semana foi mesmo a imagem de Rafael Nadal levantando o troféu.

Foi o nono título do espanhol na capital italiana – o primeiro em um incomum 2019 para ele – e uma conquista que restabeleceu a ordem do saibro. Ou, talvez, não. Já chego lá. O fato é que o circuito ruma para Roland Garros com o favorito que todos esperavam. Rafael Nadal pode ter acumulado derrotas para Fognini, Thiem e Tsitsipas em Monte Carlo, Barcelona e Madri, mas é ele que lidera as cotações das casas de apostas depois do último grande torneio de aquecimento para o slam do saibro.

Por que o favoritismo? Porque ele jogou seu melhor tênis em Roma, onde as condições não são tão diferentes das de Paris, porque o histórico sempre vai contar a favor, porque Nadal sabe usar as dimensões da quadra Philippe Chatrier como ninguém e porque, no fim das contas, ele contabilizou uma vitória sobre seu maior rival neste domingo. Além disso, somando sua evolução nesta reta final ao tempo que ainda terá para fazer uma sintonia fina de seu tênis, é justo esperar um Rafa fortíssimo em Roland Garros.

A final de Roma, contudo, pode não ser o melhor dos parâmetros para avaliar a quantas anda a rivalidade entre Nadal e Djokovic especificamente no saibro. Por tudo que aconteceu – rodada dupla, jogos mais longos, semifinal mais tarde – o número 1 do mundo chegou mais desgastado à final. E se o cansaço não foi o único responsável pelo 6/0 do primeiro set (talvez não tenha sido nem o principal), ficou claro que influenciou o andamento da partida.

Não que Nadal tenha culpa ou menos mérito. O espanhol foi quem melhor lidou com as adversidades. Na rodada dupla, perdeu apenas dois games. Depois, diante de um mais jovem e mais descansado Tsitsipas, deu o troco de Madri com uma atuação impecável. Chegou mais fresco do que Nole à final. Para quem se acostumou a acumular mais tempo de quadra do que seus adversários, a campanha de Roma foi um bálsamo para o espanhol.

A questão que fica – para mim, pelo menos – é o quão maior teria sido o desafio imposto por Djokovic caso o sérvio estivesse 100%. Após o jogo, o #1 disse ter começado o jogo com pouca energia e com dificuldade para se acostumar com as condições e achar o tempo da bola de Rafa. A final foi de dia, com a quadra mais seca e a bola quicando mais – o cenário preferido pelo campeão de Roland Garros.

Não, Nole não estava esgotado. Não fez uma partida desastrosa. Venceu o segundo set – contrariando quem culpou só o cansaço pelo pneu. Mas estava, sim, mais desgastado o bastante para reagir uns décimos de segundo mais lento, para deslocar-se com alguns km/h a menos, para não planejar os pontos do jeito ideal. Contra um Nadal em forma e no saibro, são números que fazem uma diferença considerável.

Como será se os dois se encontrarem na final de Roland Garros, com ambos em plena forma física e técnica? O mundo do tênis vai ter que esperar para ver e provavelmente será um jogaço se acontecer – negrito em "se", por favor.

Até lá, Nadal leva a justa vantagem nas casas de apostas, os merecidos mil pontos de Roma e, principalmente, um ganho enorme no aspecto mental. Perder para um sérvio cansado e no saibro, vindo de uma surra na final do Australian Open, poderia ser devastador para Rafa. Se para Djokovic o revés não pese tanto devido às atenuantes da semana, Roma nunca valeu tanto para Nadal.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.