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Djokovic reclama da imprensa e bate boca com jornalista por 8 minutos: 'Falta respeito'

Alexandre Cossenza

14/05/2019 18h58

O circuito masculino avança temporada de saibro adentro, mas a crise política na ATP segue dando o que falar. Após a decisão da Diretoria pela não renovação do contrato de Chris Kermode, atual presidente da entidade, e da tumultuada saída de Justin Gimelstob, que era um dos representantes dos tenistas na Diretoria (e que provocou essa forte carta de Stan Wawrinka), Novak Djokovic fez um desabafo em Roma, em sua coletiva pré-torneio.

"Motivado" por uma pergunta do jornalista americano Ben Rothenberg, que escreve para o New York Times, o atual número 1 do mundo e presidente do Conselho dos Jogadores se disse injustiçado em recentes reportagens e artigos que, segundo ele, o retrataram como o principal responsável pela saída de Kermode e pela escolha do substituto de Gimelstob, processo atualmente em andamento.

Nole e Rothenberg trocaram argumentos por mais de oito minutos. O jornalista alegou que falta transparência e que o tenista não dá explicações. Djokovic, por seu lado, disse não poder revelar certas informações. O sérvio afirmou ainda que não vê sentido na lógica do jornalista e que falta respeito com ele no processo de abordagem pela imprensa da atual crise política da ATP. Vejam a coletiva no vídeo abaixo. Segue uma transcrição – em tradução livre – do bate-boca:

Ben Rothenberg: Você vai daqui para a reunião do Conselho dos Jogadores, onde vão discutir o voto para a diretoria? [Será escolhido o substituto de Gimelstob, que era um dos três representantes dos tenistas na Diretoria (Board of Directors) da ATP. O Conselho dos Jogadores, presidido por Djokovic, vai ouvir a apresentação de seis candidatos e escolher o representante]

Novak Djokovic: Sim.

BR: Estou curioso para saber se você se decidiu sobre em quem vai votar.

ND: Eu não vou…

BR: Não estou perguntando isso, mas queria saber se você se decidiu ou não.

ND: Sim.

BR: Que qualidades você vai procurar num candidato? O que você acha que a próxima pessoa…

ND: Antes de mais nada, vocês têm que entender que… Da forma que isso foi apresentado na imprensa, eu não gostei e não acho justo que vocês me apontem como o tomador de decisões. Eu sou o presidente do Conselho, mas o Conselho tem dez jogadores, então a maioria decide. Eu sou um dos dez. Eu tenho o respeito dos jogadores e tenho o privilégio de liderar o grupo, mas eu não posso tomar decisões em nome do grupo nem nenhuma de minhas posições pode fazer a diferença se a maioria votar de forma diferente. Vai ser o mesmo tipo de processo agora. Teremos apresentações. Seis candidatos vão se apresentar e, depois disso, veremos. Obviamente, eu não sei o que eles vão apresentar. Quando isso acontecer, vamos conversar como grupo e tomar uma decisão sobre o que é prioridade para nós. O que queremos tirar deles. Coletivamente, temos que entender o perfil que estamos procurando, seja experiência no esporte, negócio, ambos… Isso vai ser discutido.

BR: Se você não acha que deve ser responsabilizado como presidente, quem deve ser?

ND: Não é questão se ser responsabilizado. É questão de como vocês estão retratando o processo inteiro, colocando todo o peso em um cara, sabe? Eu sou o presidente do Conselho, mas não estamos votando. Se você conhece o sistema e estrutura, a Diretoria [Board of Directors] vota. Temos representantes na Diretoria, não sou eu votando sim ou não lá. Há três representantes [dos jogadores] na Diretoria. Eles têm o direito e, historicamente, já votaram contra o Conselho porque eles têm uma responsabilidade e acham que aquela é a direção a tomar ao representar os jogadores e o esporte. Então nós fomos selecionados pela maioria como representantes dos jogadores, mas não podemos sempre influenciar os representantes dos jogadores na Diretoria. Eles é que votam do jeito que acham que devem votar. Então por que eu devo ser sempre o responsável por isso? Se não sou eu votando?

BR: Se os integrantes da Diretoria votaram contra a vontade de vocês e foram excluídos como aconteceu com o Roger Rasheed, parece que há uma influência de quem escolhe a Diretoria.

ND: Como eu disse, já aconteceu no passado de votarem contra e ficarem.

BR: E parece que, pelo que eu ouço, você está votando consistentemente junto com a maioria. Não é que você está sendo derrotado nas votações. E você é o líder apontado por esse grupo e número 1 do mundo.

ND: E suas fontes são confiáveis?

BR: Com certeza. E se você quiser comentar alguma coisa sobre o que acontece lá [nas reuniões do Conselho] e dar mais transparência…

ND: Você tem informações de primeira mão do Conselho?

BR: Com certeza.

ND: Com certeza?

BR: Com certeza.

ND: Okay.

BR: Se você quiser refutar algo, ótimo, mas se você só quiser dizer "Vocês não estão contando a coisa direito" e não der uma outra versão, não é tão útil.

ND: Eu sei que vocês estão procurando uma pauta e quando há uma certa agenda por trás certas reportagens e artigos que são escritos, você não pode sempre reagir e agir em uma posição defensiva porque então você expõe sua fraqueza. O que isso quer dizer? Que temos que reagir a um certo artigo que você ou alguém escreve porque você está expondo o Conselho ou me expondo individualmente, dizendo que sou contra certos indivíduos na Diretoria ou na ATP ou algo assim? Eu não entendo seu comentário que temos que reagir a cada artigo. Não faz sentido nenhum. Por que faríamos isso?

BR: Eu não estou esperando por uma reação…

ND: Mas foi o que você disse. Você disse que se há uma certa reportagem na imprensa, você espera uma outra versão para balancear e comparar e entender quem está certo e quem está errado, né?

BR: Eu só quero precisão e acho que quando não há transparência, isso é difícil. E que se tudo que você diz é "Vocês estão errados", como…

ND: Então você acredita que qualquer reportagem por aí é transparente, honesta e verdadeira?

BR: Não estou dizendo que endosso toda reportagem, não conheço todas…

ND: Mas você endossa toda informação que recebe de sua fonte supostamente confiável.

BR: Não tenho certeza de que informação eu tenho de que você discorda de mim pessoalmente.

ND: Eu não estou apontando nenhuma informação específica, mas você está dizendo que… É um grande paradoxo o que você está dizendo. Você diz que, por um lado, "Eu não endosso toda reportagem", mas você recebe informação de sua fonte e escreve e tweeta ou divulga, cria o buzz, cria o atrito e, claro, cria a reportagem e todo um tsunami contra nós, e o que nós devemos fazer? Reagir a cada tweet? Não é justo. Antes de entender a proporção, as ramificações e o que você está fazendo com cada tweet a nosso esporte, aos nossos jogadores… Não estou dizendo que tudo que você está tweetando ou escrevendo é errado. De forma alguma. Eu respeito. Você está buscando uma pauta. Eu respeito.

BR: O que foi especificamente errado? Se você está dizendo que não há nada errado, o que está errado? … [inaudível]

ND: Mas você está falando de informações específicas, eu estou falando de todo o processo, da maneira de encarar as coisas. Sabe? Isso, para mim, não é justo. Se você quiser contar a história toda e entender os dois lados, então você obteria mais informação em vez de culpar o Conselho ou eu eu outra pessoa no processo. Quando você receber sua informação de qualquer que seja a fonte.

BR: Quando eu tento obter informações de você, você não diz nada, então não sei o que devo fazer.

ND: Não sou o presidente da ATP. Eu entendo que você queira informação de mim. Eu posso te dar algumas informações. Outras, eu não estou na posição privilegiada para te dar ou posso, mas não seria justo com o presidente da ATP, ou integrantes da Diretoria. Eu acho que fui exposto demais por ser presidente do Conselho, sabe? Todo mundo me considera responsável por tudo que acontece no tênis no momento, o que eu acho injusto. Não sou o único lá. Se alguém quiser entender como a estrutura funciona, essa pessoa não teria esse tipo de postura. É isso que estou tentando dizer aqui. Não sobre informações que estão sendo publicadas. Algumas são corretas. Outras, não. Só acho que do jeito que estamos indo, há uma falta de respeito, apontando o dedo para um cara e colocando toda pressão sobre ele. É o que eu acho. Só isso. Nada contra você pessoalmente. Só acho que o processo pode ser conduzido de forma diferente.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.