Topo

Saque e Voleio

David Ferrer: profissional até o fim

Alexandre Cossenza

07/05/2019 14h32

Último torneio da carreira, e o infortúnio de ter de estrear contra Roberto Bautista Agut, 21º do ranking e "autor" de duas vitórias dobre o número 1 do mundo neste início de temporada. Um dos tenistas mais sólidos do circuito e que, em janeiro, aposentou outro grande nome do esporte ao derrotar Andy Murray em cinco sets no Australian Open.

Pois David Ferrer, 37 anos, #144, usou todos seus recursos e parafraseou com sua raquete o grande Syrio Forel, primeira espada de Braavos: "hoje, não". Por 6/4, 4/6 e 6/4, derrotou o compatriota na primeira rodada do Masters 1000 de Madri e alongou sua carreira – nem que seja por apenas um jogo.

Foi uma atuação para os fãs espanhóis lembrarem de tudo que Ferrer fez de grande na carreira. Ganhou ralis, chegou em curtinhas, sacou na linha em break points, contra-atacou com precisão e venceu dois pontos enormes – um forehand vencedor na linha e um rali – no último game, depois de perder dois break points e ver Bautista Agut sair de 40/15 (veja os vídeos).

Além de superar dores – recebeu atendimento médico no terceiro set, Ferrer jamais se abalou com as chances perdidas. Foi quebrado duas vezes na parcial decisiva, desperdiçando a vantagem conquistada a duras penas. No fim, porém, venceu o sétimo game no saque de Bautista Agut e não vacilou mais. O mundo ganha mais uma chance de ver o espanhol lutar.

Não precisava nada disso. Ferrer foi festejado em todos torneios que disputou este ano e, alguns dias atrás, teve Roger Federer e Rafael Nadal a seu lado para uma última foto de homenagem. Podia ter entrado em quadra hoje feliz da vida, diante da torcida espanhola, conformado com o que conquistou e com uma derrota para um compatriota em grande forma. Deixaria sua última bandana em quadra e seria reverenciado como sempre e para sempre.

Em vez disso, quando pisou em quadra mostrou-se o guerreiro de sempre. Ao sair da quadra, ainda na zona mista, disse bem a seu jeito, com voz macia e direto ao ponto: "Quero ser o mais profissional possível até o fim da minha carreira e estou tentando fazer isso."

Nada, caros leitores, resumiria melhor a trajetória de David Ferrer no tênis. Aproveitemos mais um jogo.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.