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15 Anos do Boicote - Meligeni lembra rusga com Oscar e critica tenistas: 'Geração que não se posiciona para nada'

Alexandre Cossenza

16/04/2019 07h00

Em 2004, Gustavo Kuerten e os melhores tenistas do país executaram um boicote e não disputaram a Copa Davis. Era uma medida contra a gestão de Nelson Nastás, então presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT). O Brasil acabou rebaixado para a terceira divisão da competição e entrou num turbilhão político que só acabou no ano seguinte, quando Jorge Lacerda assumiu a presidência da entidade.

Nesta semana, o blog publica uma série de entrevistas com pessoas ligadas ao boicote e suas consequências. A intenção é lembrar dos fatos de 2004 e analisar o tênis brasileiro nos últimos 15 anos. O quanto o esporte evoluiu no país? Que passos à frente a CBT deu no período? Houve retrocesso em algum setor? Por que Jorge Lacerda, condenado a quatro anos de prisão por peculato, não foi cobrado da mesma maneira pelos melhores tenistas do país?

Depois do papo com Ricardo Acioly, a entrevista de hoje é com Fernando Meligeni. Conversamos em fevereiro, durante o Rio Open. Fininho dá detalhes do almoço em que foi apresentado a Lacerda, de quanto o tênis brasileiro perdeu força e, principalmente, do silêncio que reinou na modalidade nos últimos anos – e dos motivos para isso. Meligeni, que também lembrou de uma velha rusga com Oscar Schmidt por causa do boicote, é duro com a geração atual de tenistas e com o que ele chama de "policiamento tenístico" que reina no país desde a gestão Lacerda. Leiam!

Qual é a primeira lembrança que você tem de quando o boicote foi cogitado?

A história começa quando eu decido parar de jogar a Copa Davis. No Canadá, eu não joguei. Nessa Copa Davis, conversando com o Pardal, eu decidi que já tinha jogado muito e também não estávamos muito felizes com o que a gente via. Eu achava que era hora de abandonar, de dar lugar. Na época, era o Ricardinho [Mello] que entrava no meu lugar. Tem um time bom, tem Guga, tem Saretta, Sá. E eu fiquei sabendo de toda essa história… Nunca se cogitou um boicote. A gente muitas vezes teve problema com a gestão, sempre aquela gestão difícil de lidar, de promessas que não se cumpriam… Tinha muito pouco dinheiro, então quando tinha briga era briga por muito pouco dinheiro também. Quando me falaram… Eu acho o boicote uma das coisas mais complicadas porque você acaba prejudicando muito o país, mas tem hora que, pelo que eu escutei na época, foi uma coisa necessária. Mas em nenhum momento ninguém veio perguntar o que eu achava. Mesmo eu tendo relação com Pardal, Larri, Guga, em nenhum momento perguntaram "O que você acha?" Eu estava totalmente fora porque estava parando de jogar.

A primeira conversa foi uma reunião no Canadá, ainda em 2003, e a coisa esquentou quando o Nelson tirou o Pardal e botou o Jaime em fevereiro de 2004, ali na época do Brasil Open…

Para mim, o Nelson foi malandro e usou um grande desejo do Jaime, o que é normal. A gente, quando para de jogar, tem uma puta vontade de virar capitão de Copa Davis. Eu, quando descubro isso, descubro pelos jogadores. Foi uma pena porque o Jaime é um cara extremamente querido e todo mundo gostava. Quando eu fui chamado para a Copa Davis, tinha acabado de desfilar na Grande Rio, estava chegando no Sauípe [em 2005], e o Jorge me chamou para ser capitão de Copa Davis porque os jogadores pediram. Quando já tinha virado, o time voltou, e eu mais ou menos comecei a ficar a par.

Em 2004, o Brasil perdeu três confrontos: Paraguai, Peru e Venezuela. Você já tinha parado de jogar. Qual era sua sensação vendo esse jogos?

Não sou tão… Eu lembro, vou te dar um exemplo clássico. Eu lembro que fui no Bem, Amigos, do Galvão Bueno, quando houve o boicote. Ninguém queria falar a respeito. Eu fui e estava lá o Oscar [Schmidt, do basquete]. Aos 44 do segundo tempo, o Galvão falou sobre o boicote. Eu opinei, falando que é uma merda fazer um boicote, mas tem hora que tem que fazer. Eu me coloquei a favor do boicote. E o Oscar falou que era uma vergonha, que tinha que representar o Brasil… Aqueles discursos do Oscar que eu não concordo. Acabou o programa, e não me deram réplica. Por sorte – ou azar do SporTV na época porque iria dar um ibope absurdo. O Oscar não sabia. Falou que não sabia o que estava acontecendo, "mas vocês estão errados." Só que acabou o programa e eu peguei o Oscar quando acabou. Um ano depois, ele fez a liga [NLB, a Nossa Liga de Basquete]. Quem jogasse, não podia representar o Brasil [o então presidente da CBB, Gerasime Bozikis afirmou que quem jogasse a NLB perderia o direito de ser convocado]. Eu entrevistei ele na Cultura e falei "Que legal, né? Você, lá atrás, discursava o contrário." O cara mete o cacete no meu esporte e eu não posso me defender?

Conta qual foi a sua primeira impressão quando você foi apresentado ao Jorge, num almoço em São Paulo.

Quem me fez o contato foi o Neco [ex-tenista e atual promotor de torneios Nelson Aerts], usando o conhecimento do Guga com o Jorge. Falaram "Olha, vai ser o novo presidente". A gente foi almoçar no Don Curro. Nesse almoço, que eu me lembre, estavam o Danilo [Marcelino], o Neco, o José Amin Daher, o Alê Hocevar, o Maurão [Menezes]… Não gostei do começo da conversa porque o Neco não deixava ele [Jorge] falar. Até uma hora em que eu brequei o Neco e falei "Deixa eu escutar. Deixa eu ver quem ele é." E eu fiz uma pergunta, bem no meu jeitinho "bonzinho" de ser, e perguntei se ele tinha mais dinheiro do que eu. Ele não gostou da pergunta na hora, e eu tentei acalmá-lo e disse "Deixa eu te explicar por quê. Você tem ou não tem?" Ele: "Eu acho que não." Eu: "Então você não pode ser presidente. Você vai ficar quatro anos sem ganhar dinheiro. Se eu ficar quatro anos sem ganhar dinheiro, eu quebro. Morando em São Paulo? Tudo bem que você vai ter ajuda disso, ajuda daquilo, mas São Paulo é uma cidade muito cara. A não ser que você tenha uma boa grana ou vá fazer part-time. E eu não acho que um presidente de confederação deva ser part-time." Na época que os presidentes de confederação não tinham salário, era difícil você ter um presidente coerente. Ou tinha que ser um velhinho aposentado e milionário ou esse cara que precisa de dinheiro, mas não pode trabalhar? É estranho. A relação é muito ruim. E eu falei para ele. "Você mora no mesmo prédio que eu. Eu sei quanto você paga de IPTU. Não pode." A conversa desenrolou numa boa. Eu não estava lá para brigar com ele. Eles queriam porque queriam a minha chancela, e eu falei "Cara, eu te dou minha chancela, mas de algumas maneiras. Se você me der a mão e aceitar, problema nenhum. Não posso te julgar agora, mas posso te julgar depois. Você vai abrir as contas? Vai botar no site? Vai ser realmente político e vai botar um grupo para te ajudar?" Ele falou "Vou fazer." Eu falei: "Estou te dando a mão, mas cada passo que você der em falso, eu vou dar pegada." Ele quis meu apoio.

Que não durou tanto assim…

A primeira vez que a gente se encrespou foi durante o Rio Champions. Ele não tinha botado um negócio no site e, numa entrevista coletiva, me perguntaram o que eu achava depois de seis meses… Eu disse "Não posso dizer. Eu não sei quanto ele tem na CBT, não posso dizer se ele está fazendo um bom trabalho. Se a CBT tiver um milhão para trabalhar, o desempenho dele é um. Se ele tiver dez milhões, é outro." Naquele dia, ele me liga dizendo que eu era um fantoche do Neco [Aerts, depois de apoiar a eleição de Lacerda, deixou de fazer parte do grupo que liderava a CBT. Depois disso, Lacerda passou a considerá-lo oposição]. E aí começou nosso problema de relação. Vou ser muito sincero com você. Eu não tive muito problema com ele. O que eu tenho de problema com todas as pessoas é com quem acha que pode me briefar. O que eu mais escuto de jogador, técnico e político é "Eu acho que você não deveria fazer isso no teu Instagram", "Acho que você não deveria falar…" Mas o Instagram é de quem? Eu respondo: "A única coisa que você pode fazer é me processar." E é estranho que eu nunca recebi um processo. Estranho, né? Se eu sou tão polêmico, tão babaca para algumas pessoas – inclusive o Jorge, que é advogado – por que nunca me processaram?

Vou aproveitar esse gancho pra entrar numa questão… O Nelson foi "retirado" da CBT depois que houve uma cobrança dos jogadores.

Pela primeira vez!

Exatamente.

Ou única!

É aí que eu quero chegar. O Jorge passou 12-13 anos, e não houve essa participação ativa dos jogadores – pelo menos pública – em cobrança. Você não lia nem ouvia crítica, contestação, ninguém levantar dúvida nenhuma. E o quanto o tênis andou para a frente nesses 15 anos em que não houve contestação?

Eu venho falando isso… Quantas vezes você me entrevistou nesses 10-15 anos? Quantas vezes eu falei que o tênis estava caindo, definhando, que o tênis está uma merda e não sei o quê? Houve uma época de vacas gordas. Não vou aliviar nada para o Nelson porque é muito simples. Não sei se foi processado ou não foi, mas se a Polícia Federal entrou na CBT como entrou, ele tem que responder por isso. Se a Polícia Federal entra como entrou, ele, por dignidade, deveria sair. Se defende, sem problema, mas o cara que não sai mostra que quer ser maior que o esporte. Se ele sai e diz "Estou tranquilo, vou sair porque não quero arranhar o esporte", ainda sai bonito. Só que o cara que fica querendo brigar "porque aqui é meu lugar", você começa a suspeitar. Por que você quer ficar tanto? Se não te dá dinheiro? Por ego? Vai num psiquiatra." Só que tem uma diferença entre o Nelson e Jorge. O Nelson não tinha dinheiro. Zero. O Jorge tinha! Existiu, durante muito tempo, uma política do "eu te ajudo e você não fala". Isso é uma acusação? Não. Isso é a lei da vida. Se amanhã você é contratado do Rio Open e falar [mal do torneio], você vai ser mandado embora. É normal. Eu ia criticar a ESPN na época que estava na ESPN? No dia seguinte, você está fora.

De vez em quando aparece alguém nas redes sociais dizendo que um ou outro só critica a concorrência. Mas esse cara vai falar mal do chefe dele no Twitter ou no Facebook? Não vai!

Mas não é acusar. Cara, os jogadores nunca se posicionaram. Primeiro que é uma geração que não se posiciona. Podem ficar bravos, mas não se posicionam para nada. Eu posso falar isso de boca cheia porque sou o único que se posiciona. Eu sempre falei as coisas. Mas não adianta nada. Eu sou um cara. E aí fica nas conversas de bastidores, de jogadores, técnicos e políticos… Na visão de alguns, eu tinha pretensões políticas, tinha pretensão de mandar no tênis, tinha pretensão de ser capitão da Davis de novo… E não fui nada. Estou sempre dentro da minha linha. Só que é isso… Dentro do contrato que os tenistas tinham que não podiam falar mal da CBT. Eu recebi esse contrato, na época, da Carol [sobrinha]. Eu proibi a Carol de assinar! Mesmo não ganhando dinheiro e nunca tendo sido ajudada naquele momento. Ainda não é muito ajudada, digamos, mas por quê? Porque você não pode assinar uma coisa que te impede de se expressar! E pior: não é que não pode falar mal; você tem que falar bem! Eu tenho que falar que você é bonito? Caralho! Não acho você bonito. Mas também não preciso falar que você é feio. Não quero falar de você. Mas não, você tem que falar que o Alexandre Cossenza é bonito.

Tá f… (risos)

Sabe? É uma afronta! Quanto andou para a frente na gestão do Jorge? Aí tem uma confusão. Andou para a frente? Lógico que andou. Quando ele pegou a gestão, tinha cinquenta processos… Eu falo "Jorge, eu concordo, cara. Só que você tinha uma Ferrari na mão e andava a 2 km/h e batia o carro todo dia. Você navegou no melhor momento e não fez uma política esportiva." A minha grande crítica ao tênis brasileiro é essa. Está melhor? Está. Foi melhor do que o Nelson? Foi. Ou não! Tem que ir no número. Porque aí tem os jogadores. O Guga nasceu na época do Nelson. Eu estava, o Jaime estava. Aí depois na gestão do Jorge veio o Thomaz, outra geração. Não dá pra comparar com Guga, com o Jaime e comigo, com todo o respeito. Principalmente com o Guga.

O Guga até falou isso na coletiva ontem… Que às vezes as pessoas analisam o momento do tênis brasileiro pelos resultados do Thomaz, da Bia, do Thiago Monteiro… E que isso é uma análise rasa porque não avalia o tênis, mas meia dúzia de agentes.

Concordo. Concordo com ele. Não tenho concordado muito com o Guga ultimamente, mas concordo.

Eu estou fazendo isso porque, coincidência à parte de dois presidentes acusados de irregularidades – um condenado, e o outro, não – o Nelson ficou conhecido como o presidente que não aproveitou a Era Guga. O Jorge não aproveitou…

A Era Correios!

A Era Correios, mas o período pré-olímpico porque foi quando entrou mais dinheiro no esporte no Brasil. E a Confederação não aproveitou esse dinheiro para criar uma estrutura que deixasse o tênis, digamos, sustentável. Para atrair mais patrocínio e mostrar que podia dar resultado depois dos Jogos Olímpicos. E tem outra coisa que é ver que havia mais juvenis jogando bem e tendo resultados 15 anos atrás.

Mas aí a gente volta, Alê. Isso pode acontecer um ano. Se você tem todo o alicerce, toda organização, o organograma… As empresas têm altos e baixos. O grande problema que a gente tem é que o tênis brasileiro vive dos resultados do Bruno Soares e do Marcelo Melo. Sabe o que eu acho? Que a gente viveu um momento de policiamento, que começou com o Jorge, e a gente continua com um policiamento tenístico gigantesco. Ninguém pode falar mal de ninguém. Qualquer cara que fale mal – no jornal, na televisão – as viúvas levantam. Saem todas do túmulo.

E o que se ganha com isso? Porque se falar mal prejudica o tênis, como é que passamos 15 anos de silêncio e o tênis só piorou?

Eu continuo achando, e continua na minha linha, muita gente que me criticava agora critica o sistema porque está fora. Ponto. Tenho a certeza de que estou fazendo o trabalho certo. Mas o que a gente precisa é ser menos "Não pode, não pode, não pode". Acho que a gente precisa se unir. Dentro de toda essa história, está muito claro que precisa se unir.

Mas, para muita gente, essa união precisa ser no silêncio. O cara que fala é o cara que está fora da união… Tem que ter união, mas não pode falar?

Enquanto ele estiver ganhando dinheiro! O ser humano é movido a dinheiro. Não é criticar ninguém. São poucos os caras – e aí eu vou me gabar e caguei para o mundo – eu não sou movido a dinheiro. Eu poderia ser zilhardário, Alê, se tivesse me… Sei lá qual é a palavra. Não é "corrompido" porque corrompido eu nunca vou ser. Mas se eu tivesse ido para onde a marola leva, eu seria milionário. Só que as pessoas só se mexem com dinheiro. Só jogam por dinheiro. Eu nunca fui movido a dinheiro. Nunca pedi garantia pra jogar o Brasil Open. Só que as pessoas são movidas a dinheiro. Mas quando tem um louco que fala, mexe na estrutura de quem está ganhando. O medo é que eu fale demais. Vamos falar a verdade? Eu sei muito mais do que eu falo. Você pode imaginar. De tudo! Só que não sou mau. Só não sou trouxa. "Não tem que falar." Não tem que falar o quê? Não enche o saco. Vai jogar. Vai ganhar!

E nada muda…

Eu tenho tristeza. Tristeza da declaração do Marcelo Melo [em entrevista à Jovem Pan, o mineiro disse que 'é muito fácil ex-tenista criticar demais e não fazer nada', em uma referência indireta a Meligeni]. Tem problema? Senta aqui e fala! Tristeza de o Bruno [Soares] ficar triste porque a gente fez uma live, e o Saretta meteu o cacete neles. Direito dele. "Ah, mas isso tumultua." Por que tumultua? O que tumultua é isso aqui: não ter um brasileiro jogando. Você faz um ATP 500 e não tem brasileiro nas simples. Isso prejudica o esporte. Daqui a pouco não tem mais ATP 500 porque o patrocinador não quer, não vale a pena. Só que o atleta não entende. E te pergunto: quantos atletas passaram dessa cerca [Meligeni aponta para a divisão entre a área social/de atletas e e área comum do Rio Open] e foram ver o público?

Poucos.

Quantas vezes você me viu fazer isso? Eu preciso estar lá as vezes que estou? Por que você acha? Eu não sou santo. Mas por que você acha? Porque o cara vem aqui, passa uma semana e não vê um tenista. Não vê um brasileiro. Eu, pelo menos, ele tem meu autógrafo e minha foto. Comigo, não discutam. Aprendam. Simples.

Para terminar, uma última comparação. O Nelson saiu deixando dívida, e agora o Jorge sai, e a CBT precisa mudar de sede porque não conseguiria pagar o aluguel. Passamos para uma fase de dinheiro e voltamos para o que era antes. Qual seria sua sugestão para um primeiro passo?

Eu acho que o patrocínio tem a ver com credibilidade, e você ter o processo do Jorge sendo condenado [Lacerda foi condenado por peculato a quatro anos de prisão em regime aberto]… Se existia alguma tentativa de credibilidade, é o que você falou… Cara, os nossos dois últimos presidentes… Quanto que o novo presidente vai ter que fazer? Imagina se a Dilma um dia fosse presa? E o Temer também? Você vai fazer como para dizer a um investidor que o Brasil é legal? É isso que acontece. É muito ruim ter os últimos dois caras, de alguma maneira, com a Polícia Federal envolvida. "Ah, mas todo mundo pode ter." Sim, só que um cara que é o órgão… É muito ruim. Volto a repetir: para mim, tem que estar mais claro. Para mim, não está claro para onde a gente quer ir. Para onde a gente quer ir? "Ah, estamos felizes porque temos dois top 10 de dupla." Tá bom, mas isso ajuda? Ajuda isso. Legal. "Temos vários jogadores juvenis." Legal. "Temos o processo do Orlandinho e do Felipe [Meligeni]. " Tá. Qual é o objetivo disso? Eu não sou a pessoa que está certa, mas é a minha maneira de pensar. É a minha crença. Você pode concordar ou não. Não há maneira de mudar o tênis se não botar objetivos claros a curto, médio e longo prazo! E se eles existem, não se divulga. E todo mundo tem que saber. Os técnicos têm que saber, os jogadores têm que saber. O problema é grana? Então, minha gente, vão jogar dois anos de Copa Davis de graça. E acabou! "Ah, eu não quero." Beleza. Claudinho não quis, mas também não vão comer num restaurante chique. Essa é minha filosofia. Frick [Eduardo, braço direito do presidente] pode ficar triste, Westrupp [Rafael, presidente da CBT] pode ficar "pô, não concordo." Tá bom! É apenas uma ideia. Outra ideia: se sou eu o presidente da CBT, eu pego todos os jogadores, todos os problemas que eu tenho e sento numa mesa. "Vocês me dão meia hora?" Fecha a sala, imprensa não entra. "Fernando, o que você tem pra reclamar?" "Bruno Soares, você tem o que para reclamar?" Isso é união. Quando você fala de união, pega o cara e senta aqui. Acabou o problema, cara.

Você estava falando, e eu estava pensando no encontro de fim de ano da CBT em Florianópolis…

Mas ali tudo bem. Eu acho muito legal. Ok. O que precisa é isso. Chega aqui "Gente, eu vou praí, vai vir o Frick, vamos sentar e resolver!" Ou então chega no encontro e fala "Cada um me dá três ideias." E depois volta. E aí você vai ver que 90% dos pedidos são pessoais. "Alexandre Cossenza pediu um técnico para ele. E os outros 27 que estão aqui?" Põe na mesa. Vai resolver o tênis brasileiro? Não vai, mas vai orientar mais. A união que vocês tanto falam é de cima para baixo, não de baixo para cima. Nunca foi.

Mas sobre o encontro, eu acho o evento uma ótima ideia, mas o que sai de produtivo dali?

Não sei. Deve sair alguma coisa, Alê.

Tudo bem, mas se sai, por que a gente não fica sabendo?

Isso é uma outra coisa que eu vivo falando: falta comunicação. Disso eu não tenho dúvida. Falta comunicação, falta expor mais. A única maneira de limpar a barra de uma entidade que no passado foi ruim é mostrar que hoje está boa. Concordo com você plenamente. Essa comunicação é essencial. Memorando atrás de memorando. Porque aí vocês não podem falar.

Mas a gente quer mostrar! Em uma semana inteira de encontro, eles em momento algum divulgaram a programação. Tinha um monte de atividade. Eu sei porque perguntei para quem estava lá, mas se eu dependesse da CBT para saber o que aconteceu, onde, quem participou, eu não iria saber nunca. Veio um primeiro release com uma lista de convidados…

Mas volto a repetir. Tenho certeza que a coisa tem que ser de cima para baixo. Imagina uma empresa… Se o presidente não traz o time, como que o time se une para melhorar a empresa? Não dá! Isso é básico! "Ah, o Fernando disse cada coisa interessante?" Não. Disse coisas básicas. "Ah, o Fernando é tão inteligente?" Não. Ele é coerente.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.