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100 títulos: o maior atestado da longevidade de Roger Federer

Alexandre Cossenza

02/03/2019 14h08

Quase dez anos atrás, em 2009, Roger Federer derrotou Andy Roddick numa final memorável em Wimbledon: 5/7, 7/6(6), 7/6(5), 3/6 e 16/14. Foi uma conquista que valeu muito para o suíço. Naquele domingo, ele garantiu seu retorno ao posto de número 1 do mundo, ultrapassando o lesionado Rafael Nadal, e levantou um troféu de slam pela 15ª vez, tornando-se o maior vencedor de slams em simples na história do tênis. O recorde usado por muitos para estabelecer o maior da história agora também era dele.

Aqule foi o título de número 60 para Federer e, em um cenário em que Nadal já sofria com lesões e havia dúvidas sobre a longevidade do espanhol, era comum – e ainda é – especular sobre até onde iriam os números do suíço. Roger tinha 28 anos, e o recorde de Jimmy Connors – 109 títulos na Era Aberta – parecia distante demais até para o grande Federer. Para chegar à marca centenária, seria preciso passar invicto por mais 40 eventos. Fazer isso entrando na quarta década de vida e encarando rivais cada vez mais jovens, mais rápidos e mais altos parecia improvável. Inimaginável. Impossível.

Pois hoje, 2 de março de 2019, Roger Federer levanta o troféu de campeão do ATP 500 de Dubai após derrotar o grego Stefanos Tsitsipas por 6/4 e 6/4. Aos 37 anos, o suíço alcança a marca de 100 títulos. Mais do qualquer outra de suas impressionantes marcas (e elas são muitas!), o centésimo título é o carimbo máximo da longevidade do tênis de alto nível que Federer ainda apresenta. O suíço pode ser "apenas" o número 7 do mundo hoje, mas dizer que ele ainda compete na elite deixa algo incompleto. Federer faz mais. Ele ainda briga e conquista títulos. Ele ainda é a elite da elite.

A conquista em Dubai é a 12ª de Federer depois de completar 35 anos, uma idade à qual ninguém – até hoje – chegou competindo nesse nível. O suíço não só chegou como conquistou três slams, três Masters 1000 e cinco ATPs 500.

Por enquanto.

Coisas que eu acho que acho:

– Os motivos para a longevidade do suíço são bem conhecidos, mas não custa lembrar deles neste momento. O principal talvez seja sua técnica, que lhe permite jogar sem fazer força e exige menos do físico. Federer também tem uma leitura de jogo admirável, graças à qual é possível antecipar movimentos e estar quase sempre no controle dos pontos, o que também poupa seu corpo. Seu repertório de jogadas também tem influência nessa equação. Federer ganha muitos pontos de graça no saque e pode encurtar ralis com curtinhas ou indo à rede com mais frequência. Tudo isso faz seus jogos serem mais curtos, e o resultado são esses 20 anos espetaculares de uma carreira que, para nossa sorte, não vai acabar amanhã.

– Federer pode chegar aos 109 de Connors? Claro que pode. Não vejo, porém, o que isso mudaria na minha visão sobre as carreiras de ambos. Os 100 (ou mesmo os 90, alguns anos atrás) troféus de Federer carregam muito mais relevância do que os 109 do americano.

– Tem seu simbolismo também o fato de o 100º título vir com triunfos seguidos sobre Borna Coric e Stefanos Tsitsipas. Duas vitórias sobre jovens que bateram o suíço recentemente. O croata levou a melhor na final de Halle e na semifinal de Xangai no ano passado. Tsitsipas anotou a importante vitória no Australian Open alguns meses atrás. Em Dubai, o veterano levou a melhor sobre ambos sem perder sets.

– Ainda em quadra, Federer brincou ao dizer que não sabia se na época de seu primeiro título Tsitsipas já havia nascido (assistam no vídeo acima). A resposta é "sim", mas por pouco. O suíço venceu seu primeiro ATP em 2001, em Milão. O grego nasceu em 1998.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.