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Saque e Voleio

Argentina mostra enorme respeito a David Ferrer

Alexandre Cossenza

13/02/2019 07h00

Quando David Ferrer entrou na quadra central do ATP de Buenos Aires, um corredor de tenistas ilustres formava-se para recebê-lo. Com aposentadoria anunciada, o espanhol escolheu alguns de torneios preferidos para disputar em sua temporada final e havia a possibilidade de a partida desta terça ser sua última na cidade portenha.

Entre outros, estavam lá Mariano Monachesi, Miguel Nido, Gustavo Marcaccio, Nicolás Pereira, Juan Ignacio Chela, José Acasuso, Guillermo Coria, Diego Schwartzman, Federico Delbonis, Franco Squillari, Marc López, Juan Mónaco, Martin Jaite e Gabriela Sabatini. Aplausos e abraços de todos. Uma homenagem de respeito vindo de gente de respeito. Uma cena que só alguém admirado por todo o circuito vive fora de seu país.

Difícil escrever sobre Ferrer sem soar repetitivo. Um cidadão que sem uma arma evidente, sem nenhum golpe espetacular, disputou uma final de slam, foi número 3 do mundo, conquistou 27 títulos e passou mais tempo no top 20 do que qualquer outro tenista em atividade – à exceção do Big Four.

Nunca é legal ver um tenista com tanta história encontrando dificuldades contra adversários que ele derrotaria sem drama em outros tempos, mas costumam ser assim os últimos dias de atletas "mortais". De qualquer modo, é sempre lindo ver a luta, a paixão pelo esporte, o prazer por competir e tentar encontrar soluções, compensando qualidades físicas perdidos ao longo do tempo.

Ferrer talvez tenha sido o melhor desses mortais durante muito tempo. Não por acaso, foi campeão três vezes em Buenos Aires. Não por acaso, ganhou tantos abraços de tanta gente importante antes da partida contra Malek Jaziri. E, como disse Leo Mayer, ser homenageado por Sabatini é como tocar o céu com as mãos.

No fim, não foi a última apresentação de Ferrer em Buenos Aires. O veterano de 36 anos derrotou Malek Jaziri, #44 do mundo, por 7/6(13) e 6/3. Dá até para dizer que o espanhol teve uma ajudinha dos deuses do tênis no set point em que um quique irregular tirou a bola da raquete do tunisiano. Por outro lado, também dá para dizer que foi um triunfo com cara de Ferrer: seis set points salvos no primeiro set e um rival mentalmente abalado na segunda parcial. Deu gosto de ver.

Coisas que eu acho que acho:

– Sobre o tempo que Ferrer passou como top 20, como citei no texto. Vejam os números e admirem a consistência do espanhol.

– A lista de torneios que verão a despedida de Ferrer inclui Buenos Aires, um ATP 250, mas não o Rio Open, um ATP 500. História não se compra.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.