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Carol Meligeni: Zonal da Fed Cup é conquista para dar moral ao tênis feminino brasileiro

Alexandre Cossenza

11/02/2019 11h43

Para Carol Meligeni Alves, que fez sua estreia como simplista na Fed Cup, foram quatro jogos e quatro vitórias. Três delas contra rivais que ela jamais havia derrotado no circuito. Para Bia Haddad Maia, a número 1 do país, foram mais de 12h30min em quadra ao longo de quatro dias, jogando simples e duplas. Ancorado pelas duas e com a ajuda de Luisa Stefani nas duplas (mais Gabriela Cé e Thaisa Pedretti na beira da quadra), o Brasil foi campeão do Zonal I das Américas no último fim de semana.

Uma conquista que veio com vitórias sobre Chile, Porto Rico, Argentina e Paraguai. Um título com mais cara de time, já que o Brasil dependeu menos de Bia Haddad, que perdeu dois jogos de simples. Um resultado que coloca o Brasil no topo do continente no que diz respeito ao tênis feminino e que dá à equipe da capitã Roberta Burzagli a chance de subir para a segunda divisão da Fed Cup ainda este ano.

As partidas, disputadas em Medellín na última semana, não tiveram transmissão de TV, o que impede alguma análise mais profunda neste blog. Por isso, quem descreve o feito é Carol Meligeni Alves, que falou comigo neste domingo, um dia depois da final contra o Paraguai. A atual número 348 do mundo (irmã de Felipe Meligeni Alves e sobrinha de Fernando Meligeni) ressaltou a união da equipe, falou sobre a importância de Burzagli no comando do time e o quanto a conquista é relevante para o tênis feminino brasileiro.

Fala como é a sensação de conquistar o Zonal e qual a chave para o título…

Tô muito, muito feliz. Sério. Foi uma semana muito dura. A gente pegou um grupo duríssimo. Na verdade, todos os países estavam bem complicados. É uma super pressão jogar a Fed, mas foi incrível. Todas muito felizes e fiquei sem palavras. Foi muito emocionante. Muito mesmo. Com certeza, a chave para essa conquista foi a união. Parece clichê falar isso, mas, nossa, desde o começo estava todo mundo muito unido. Não só a gente, jogadoras, mas o estafe inteiro. A Beta, o (auxiliar técnico Luiz) Peniza, o Miguel (Cantori), que é o preparador físico, o Paulão ( Paulo Roberto Cerutti), que foi como fisio, o Duda (Eduardo Nunes), que é nosso faz tudo. A gente ficava tranquilíssima fora da quadra e só se preocupava em jogar. Todo mundo foi incrível. Uma energia incrível. Engraçado que o pessoal até mandava pelas redes sociais que a nossa energia estava muito boa e tudo mais, só que nem dava para ver, né? Era tudo através de rede social e, mesmo assim, o pessoal conseguia sentir. Então a gente conseguiu deixar de lado o ego e tudo mais, o que é difícil quando tem um grupo grande de pessoas. Isso fez toda a diferença. Nossa união fez com que a gente passasse por todos momentos de dificuldade.

E a sua semana? Estreia como simplista na Fed com quatro vitórias em quatro jogos. Você esperava isso?

Tive uma semana muito, muito boa. Consegui jogar bem. Eu tinha jogos muito complicados. Das quatro meninas que eu joguei, três eu nunca tinha ganhado antes e já tinha jogado mais de uma vez contra eles. Fiquei muito feliz com meu desempenho, por ter conseguido jogar um bom nível de tênis na altitude (Medellín fica cerca de 1.500m acima do nível do mar), que não estou acostumada a jogar. E contra jogadoras complicadas e com uma pressão grande de jogar pelo Brasil, jogar pela primeira vez simples numa Fed Cup. Então fiquei muito feliz, de verdade, com a minha atuação. Claro que você vai para uma Fed cheia de ilusão e expectativa, só que você não imagina, né? Foi muito melhor do que eu imaginava. Foi muito, muito bom, como eu lidei com todas as situações e sentimentos esta semana e como eu consegui ganhar quatro jogos muito bons e muito importantes para o Brasil.

Houve algum momento específico em que vocês falaram "opa, temos boas chances" e sentiram que dava para ganhar o Zonal?

Acho que a gente não ficou pensando muito nisso. A gente pensava muito dia a dia. Tanto que depois que eu ganhava o meu jogo, ia dar entrevista e perguntavam "ah, se a gente ganhasse…", se não sei o quê, mas a gente estava com a cabeça no jogo, no confronto. A gente não ficava pensando tão lá na frente. Acho que isso é importante porque senão é mais pressão, mais ansiedade ainda do que a competição já gera para você todos os dias. A gente ficou realmente focado em cada confronto e isso ajudou bastante também.

Fala um pouco da sua relação com a Bia, que ficou mais de 12h em quadra? Como é a relação de vocês e, sem querer tirar o seu mérito, o quanto é menos complicado entrar em quadra sabendo que tem ela no time?

A Bia (risos)… A Bia é incrível. A gente joga juntas desde sempre. A gente tem a mesma idade, a gente jogava desde federadas. E a gente já jogou muitos sul-americanos e mundiais juntas, então… Fazia até bastante tempo que a gente não conseguia estar juntar na mesma competição por equipe, e é incrível. Eu gosto muito dela, a gente tem uma super relação de amizade. Admiro ela muito como atleta, até falei isso para ela esses dias. Com certeza, é uma tranquilidade saber que você tem uma jogadora desse patamar no seu time. Mas do mesmo jeito que eu confio muito nela, ela também confia muito em mim, e é uma coisa que a gente construiu durante todos esses anos, durante esse tempo que a gente jogou por equipes no junior, de pequenininho. A gente se agarra muito uma na outra, dentro da quadra e olhando para fora e sabendo que a outra está ali. Tenho certeza que também passei tranquilidade para ela, jogando primeiro, para ela jogar depois mais solta, e ainda bem que consegui sair com a vitória nos primeiros jogos para ela já sair com o confronto aberto de 1 a 0. Ajudou ela. Mas também para eu conseguir entrar lá e jogar meu melhor e jogar solta e conseguir dar essas vitórias para o Brasil, também ajudou muito saber que depois era a Bia que entrava, né? Ela é incrível. Um prazer jogar do lado dela e fazer parte de um time com ela. Puta astral!

E a importância da Beta como capitã? O que ela traz para o time?

Sem palavras! Já tinha viajado com ela antes na equipe da ITF. É uma pessoa incrível. Ela é muito tranquila. Quando a gente está dentro da quadra, o que a gente busca não é tanto uma chuva de informações, o pessoal te acelerando, falando um monte de coisa junta… A gente busca mais é tranquilidade, é ter uma referência. É olhar para alguém e que aquela pessoa te traga calma. Porque a gente já está acelerado ali dentro. A gente já está tensa, com um monte de sentimento misturado. Então, olhar para a Beta e ver a tranquilidade dela era muito, muito importante. Foi ótimo, uma experiência incrível ter ela ali no banco, e ela e o Peniza formaram um super grupo e ajudaram demais a gente em muitos aspectos esta semana. Muitas dicas com certeza eu vou levar para a minha vida. Não só para a Fed, naquela situação específica, mas para o meu ano inteiro, para todos os jogos que eu tenho pela frente.

Qual a relevância dessa conquista para o tênis feminino brasileiro?

Essa conquista, para o tênis feminino brasileiro, é muito boa porque pouco se fala de tênis feminino no Brasil. Muito se fala sempre sobre a Davis e tem gente que nem sabe o que é Fed Cup. A gente tem até que falar sempre "a Fed é a Davis de mulher". A gente brinca que é sempre assim que a gente tem que se referir à Fed, senão ninguém sabe o que é. E foi muito bom a gente ter tido uma semana dessas porque coloca em evidência. Um monte de gente estava acompanhando por livescore porque não teve transmissão, não precisa nem falar, né? Ninguém transmitiu os jogos. E isso (a conquista) é muito bom porque coloca o tênis feminino em evidência e o pessoal vai falar um pouco mais sobre isso. A gente ter conseguido esse título foi mito importante para o tênis feminino ficar mais em alta.

Coisas que eu acho que acho:

– Importante informar: o Brasil disputará os playoffs do Grupo Mundial II da Fed Cup nos dias 20 e 21 de abril. Um sorteio definirá o adversário e o local do confronto. Antes da atualização do ranking da Fed, Itália, Japão, Eslováquia, Holanda, Grã-Bretanha, Cazaquistão e Rússia estão entre os possíveis adversários. O Brasil enfrentará um dos quatro cabeças de chave do sorteio.

– Foi uma ótima semana para os irmãos Meligeni Alves. Felipe, acompanhado pelo técnico Leo Azevedo, foi campeão do M15 (Future) de Monastir, na Tunísia, perdendo apenas um set a semana inteira.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.