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Djokovic mandou recado a Nadal com atuação soberba na semifinal em Melbourne

Alexandre Cossenza

25/01/2019 12h46

Por mais que alguns dos maiores personagens do esporte neguem em suas entrevistas coletivas, grandes partidas de tênis não são jogadas apenas em quadra. Rivalidades como as que envolvem Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic são muito mais abrangentes. Além de tática e técnica, englobam todo tipo de manobra psicológica. Isso inclui a escolha de calendário e algumas mensagem não-escritas.

Foi mais ou menos isso que aconteceu nesta sexta-feira, quando Novak Djokovic fez sua melhor atuação no Australian Open e dominou o francês Lucas Pouille, #31 do mundo, vencendo por 6/0, 6/2 e 6/2. O sérvio cometeu apenas cinco erros não forçados no jogo inteiro, o que deve dar ao leitor uma ideia sobre o nível de concentração de Nole do começo ao fim do jogo.

Não é coincidência que o número 1 do mundo tenha atuado assim, superando um rival de forma tão abrangente, logo no dia seguinte a uma vitória maiúscula de Rafael Nadal, que deu uma aula tática e técnica ao jovem Stefanos Tsitsipas, fazendo o grego chegar ainda desnorteado à sala de coletivas de Melbourne. Não, nada é por acaso. A vitória, do começo ao fim, foi a maneira de Nole mandar seu recado. Foi como dizer a Nadal algo do tipo "você perdeu só seis games? Perdi quatro. Estou aqui, estou em forma e te vejo no domingo."

Não que a caminhada de Djokovic no torneio tenha sido fácil ou sem seus desafios. Nole teve de bater Tsonga na segunda rodada, Shapovalov na terceira e Medvedev nas oitavas. Só que o número 1, diferentemente de Nadal, teve altos e baixos. Perdeu cinco games seguidos contra o canadense e levou outra virada após abrir 4/1 contra o russo. Como não precisou fazer muito diante do exausto Nishikori nas quartas, Djokovic chegou à semi sem mostrar seu melhor. Sobrou para Pouille.

Final fora de casa para Nadal

O que isso pode significar na prática? Que Nadal vai passar dois dias sabendo que Djokovic estará voando na final. Que Djokovic pisará na Rod Laver Arena no domingo suficientemente confiante para jogar em um nível altíssimo. Quem sabe, talvez, se Nadal não vai começar a partida tentando fazer mais e cometendo mais erros? Talvez. Talvez não. Mas muita coisa diferente pode acontecer no domingo. Não dá para especular sobre todo tipo de cenário.

De concreto, dá para dizer que Djokovic já tem uma vantagem mental antes do jogo. Não só pela liderança no placar de confrontos diretos (27 a 25), mas especialmente porque venceu os últimos sete duelos com o espanhol em quadra dura. Para Nadal, a final de domingo deve ter sabor de final fora de casa. Djokovic, lembremos, é hexacampeão do Australian Open. Perdeu apenas três jogos nos últimos oito anos em Melbourne. Bateu o próprio Nadal naquela final de 5h53min em 2012. O recado de hoje engrossa esse pacote.

Será que o campeão de Roland Garros consegue superar isso tudo e triunfar nessa Bombonera pessoal de Djokovic? Não convém duvidar muito. Quem já destronou Federer em Wimbledon não tem por que agora, campeoníssimo veterano, se intimidar com mais este desafio. Vai ser interessante. A final está marcada para começar às 6h30min (de Brasília) de domingo e tem transmissão ao vivo da ESPN.

Coisas que eu acho que acho:

– Vale pela curiosidade: após o jogo, Djokovic disse esperar que esta nova final com Nadal não dure tanto quanto a de 2012. O sérvio afirmou que o match tie-break, adotado a partir deste ano pelo Australian Open, vai impedir outro jogo como aquele. O detalhe é que a decisão de 2012 terminou em 7/5 no quinto set. O match tie-break não teria resolvido.

– Quer lembrar da final de 2012? A Australian Open TV produziu um clipe de 27 minutos com momentos daquele jogão. É só clicar no vídeo acima.

– Eu pretendia fazer uma análise tática como no post de ontem, mas ficou muito ruim a edição dos melhores momentos de Djokovic x Pouille feita pela Australian Open TV. Curta e mal cortada. Não deu para aproveitar.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.