Topo

Saque e Voleio

AO 2019: chaves, favoritos, azarões, cotações, o que ver e como acompanhar (versão WTA)

Alexandre Cossenza

11/01/2019 16h10

Chega a Melbourne o maravilhoso mundo da WTA, em que os últimos oito slams tiveram campeãs diferentes, ex-números 1 do mundo correm por fora e a gente nem acha que é zebra se a atual líder do ranking cair na primeira rodada. O Australian Open começa na próxima segunda-feira (noite de domingo no Brasil) com muitas possibilidades. Serena Williams ainda é a grande favorita, mas a lista de candidatas ao título é enorme, incluindo desde novas postulantes até campeãs de slam que andam "esquecidas".

Com isso em mente, sejam bem-vindos ao tradicional "guiazão" do Saque e Voleio, aquele espaço para ver quem é quem antes de um slam. Quem vem jogando bem, quem corre por fora, quem se deu bem na chave, quem ver nas primeiras rodadas, onde acompanhar pela TV e quem são as mais cotadas nas casas de apostas. Rolem a página e fiquem por dentro.

As quatro cabeças: quem "ganhou" o sorteio?

Se o sorteio teve uma "campeã" entre as principais cabeças de chave, essa campeã não se chama Simona Halep. A número 1 do mundo "ganhou" do Australian Open uma estreia contra Kaia Kanepi, sua algoz no US Open, também na primeira rodada. Se passar, a romena ainda estará em rota de colisão com Serena Williams, que é a cabeça 16, já nas oitavas.

Ainda na chave de cima, o quadrante de Naomi Osaka é interessante para as chances da japonesa. Ela estreia contra Linette, pega Zidansek ou Gavrilova na segunda rodada e Siegemund/Azarenka/Hsieh/Voegele na terceira. Vika é sempre um perigo, mas não vem mostrando tênis para igualar o nível recente de Osaka. A campeã do US Open faria as quartas de final contra Svitolina e a semi contra quem passar do quadrante de Halep e Serena. É, para mim, o caminho mais "amistoso" entre as quatro cabeças.

A cabeça 3, Caroline Wozniacki, caiu em uma seção espinhosa. Numa semana boa, jogando seu tênis consistente e inteligente, a dinamarquesa pode avançar até a semifinal, mas pode precisar passar por Sharapova na terceira rodada e Ostapenko, Sakkari ou Barty nas oitavas. Isso sem falar nas possíveis oponentes de quartas de final, as perigosíssimas Petra Kvitova e Aryna Sabalenka (e ainda tem gente como Belinda Bencic e Ekaterina Makarova correndo por fora nessa mesma seção!).

No pé da chave ficou Angelique Kerber, que pode encarar a campeã de Auckland, Julia Goerges, nas oitavas e Sloane Stephens ou Kiki Bertens nas quartas. A alemã, aliás, pode encontrar a brasileira Bia Haddad Maia na segunda rodada. A paulista furou o quali e vem jogando seu tênis agressivo de forma impressionantemente consistente.

As principais candidatas

Nunca dá para fugir do óbvio: Serena Williams é supercandidata. Esteve na Copa Hopman, venceu seus três jogos de simples e se mostrou em forma. Fome não falta. A americana, dona de 23 slams, quer superar o recorde de Margaret Court, que venceu 24 slams em simples. Parece ser seu maior objetivo nessa reta final de carreira, e não convém duvidar da capacidade de Serena, mesmo em uma chave que pode lhe colocar diante de Bouchard na segunda rodada, Halep nas oitavas e Pliskova/Muguruza/Kasatkina nas quartas. A chance existe, e Serena sabe que a janela não vai continuar aberta por muito tempo. Por isso, devemos ver em Melbourne uma versão super concentrada da ex-número 1 do mundo.

Angelique Kerber é outro nome fácil de incluir aqui. Semifinalista ano passado (quando esteve muito perto de bater Halep e alcançar a decisão), a alemã vem de quatro vitórias na Copa Hopman e uma campanha em Sydney que não foi mais longe porque esbarrou em uma inspirada Kvitova. Com sua consistência e inteligência aliadas ao bom momento atual, Angie pode derrotar quem aparecer pela frente, mesmo que a sequência (improvável, é verdade) inclua Goerges nas oitavas, Stephens nas quartas e Kvitova na semi.

Como escrito acima, Naomi Osaka tem a chave menos complicada das quatro cabeças, mas talvez seu maior obstáculo em Melbourne seja outro: disputar, pela primeira vez, um slam com o status de campeã de slam e forte candidata ao título. Naomi não era nem um nem outro quando faturou o US Open no ano passado. Esse desafio adicional será interessante de acompanhar, especialmente se ela reencontrar Serena, o que pode acontecer nas semis.

Minha lista de principais candidatas termina com um nome que poderia muito bem estar "correndo por fora". Aryna Sabalenka, contudo, virou quase uma unanimidade no sentido de que o circuito acredita que ela está pronta para ser campeã de um slam. O título em Shenzhen, na primeira semana do ano, só reforçou essa ideia. E pouco importou o revés para Kvitova na primeira rodada em Sydney – viagem, fuso horário, condições de jogo diferentes… tudo pesou contra a bielorrussa. A grande questão é que ela vai ter que se provar cedo neste Australian Open, já que pode duelar com a eternamente perigosa Makarova na segunda rodada e, mais tarde, rever Kvitova nas oitavas. Se passar daí, pode ser considerada favorita contra Wozniacki nas quartas e fazer um jogão contra Kerber na semi.

Quem corre por fora

Elina Svitolina terminou 2018 em alta, conquistando o título do WTA Finals em uma campanha memorável: superou Bertens, Wozniacki, Stephens, Kvitova e Pliskova. É a hora de dar outro salto e vencer um slam, certo? Só que a ucraniana é uma incógnita antes do Australian Open. Só fez uma partida, perdendo para Sasnovich na estreia em Brisbane. Muito pouco para medir suas chances reais. Sorte que sua chave não é das piores. Vai ficar mais fácil saber o que esperar de Svitolina se ela encarar Cibulkova na terceira rodada. Se passar pela eslovaca mostrando o mesmo tênis do fim do ano passado, vai forte para encontrar Osaka nas quartas.

Quem parece chegar forte é Petra Kvitova, que estaria muito mais cotada ao título não fosse pela natureza vagalumesca de seu tênis. O histórico recente em slams também não ajuda. Ano passado, foi campeã em Madri e perdeu na terceira rodada em Roland Garros; conquistou Birmingham e tombou na estreia em Wimbledon; fez semi em Cincinnati e venceu só dois jogos no US Open. Escrevo este post antes de Kvitova jogar a final em Sydney. Será que em Melbourne a tcheca finalmente voltará a ir longe num slam? E vale lembrar que isso significa triunfar em um possível reencontro com Sabalenka nas oitavas. Será? Quem aposta suas fichas em Petra?

Karolina Pliskova também chega bem cotada. Não só terminou 2018 bem, com a semi no Finals, mas já foi campeã em Brisbane este ano. O problema é sua chave. Para a tcheca brigar pelo título, possivelmente terá de abater Kasatkina ou Muguruza nas oitavas, Halep ou Serena nas quartas e Svitolina ou Osaka nas semifinais. A não ser que uma manada de zebras atravesse a chave, é difícil imaginar Pliskova superando tantos obstáculos.

Incluo aqui também Sloane Stephens, mais pela chave acessível e por seu potencial do que pelo tênis apresentado recentemente. Em 2019, a americana fez três partidas e perdeu duas (Konta e Putintseva). Nada especial. Só que o quadrante dá a Sloane algumas rodadas para calibrar seu tênis com alguma margem de folga. Logo, é possível chegar bem nas oitavas, possivelmente contra Bertens, e nas quartas, provavelmente contra Kerber.

Correndo mais por fora, mas nem tanto

Como não dá para descartar ninguém na WTA hoje em dia, a lista aqui é longa e inclui até quatro campeãs de slam: Garbiñe Muguruza, Maria Sharapova, Jelena Ostapenko e Victoria Azarenka. Todas têm potencial, mas não vêm obtendo resultados tão animadores assim ultimamente.

Julia Goerges, campeã de Auckland, é sempre um perigo; Daria Kasatkina é capaz de qualquer coisa – para o bem ou para o mal; Madison Keys pode estar "naquela" semana, acertando todos seus violentos golpes; Bertens pode muito bem surpreender Sloane nas oitavas; e Mertens está na seção "aberta" com Svitolina, Cibulkova e Keys. Qualquer coisa pode acontecer, com o perdão do necessário clichê.

O perigo que (quase) ninguém está olhando

Além de todo mundo que já foi citado acima – é realmente muita gente com chance – existe a turma que já fez coisa grande, mas anda meio de lado. São os casos de Belinda Bencic, que tenta voltar a conseguir sequências de bons resultados; Venus Williams, que fez um 2018 ruim (para seus padrões) e hoje é "apenas" a #37 do mundo; Mónica Puig, a campeã olímpica; Anastasia Pavlyuchenkova, que vai enfrentar Puig na primeira rodada; Johanna Konta; Camila Giorgi, sempre uma ameaça de zebra; Alison Riske, vice-campeã em Shenzhen e que pega Bertens na estreia; e, claro Eugenie Bouchard, que voltou ao top 100 (é a atual #79) e e jogou um ótimo tênis em Auckland, onde perdeu nas quartas de final para Goerges, a campeã, por 7/6(6) no terceiro set. E Genie pode encarar Serena na segunda rodada…

Mas esta lista não estaria completa sem a grande jovem sensação deste início de ano: a canadense Bianca Andreescu, 18 anos e #107. Em Auckland, ela furou o quali e bateu, na chave principal, Wozniacki, Venus e Hsieh. Só perdeu para Goerges, na final. Em seguida, somou mais três vitórias (duas por desistência) no quali do Australian Open. Quem sabe o que ela ainda consegue aprontar em Melbourne?

A brasileira

Bia Haddad Maia fez três belíssimas apresentações no quali e conseguiu uma vaga na chave principal. Atual número 176 do mundo, a paulista fez 6/3 e 6/3 sobre Lauren Davis (#157), 6/3 e 6/4 sobre Kaja Juvan (#180) e 6/3 e 6/4 sobre Jennifer Brady (#125). Venceu todos seis sets que disputou, sacou bem e esteve bastante sólida do fundo de quadra. Teve pequenas oscilações – ficou 4/1 atrás no segundo set contra Brady – mas se recuperou e jogou em ótimo nível nos momentos mais importantes.

Na chave principal, Bia vai encarar a americana Bernarda Pera, #69 do mundo. Dentro das possibilidades, é uma estreia interessante para a brasileira. O problema mesmo deve vir na sequência, num duelo com Kerber na segunda rodada. Obviamente, a alemã será favorita, mas a situação já não será novidade para a paulista. Bia já encarou Venus em Miami, Halep em Wimbledon e Pliskova neste mesmo Australian Open. Pode ser "aquele" momento em que a brasileira vai controlar os nervos e jogar o mesmo tênis afiado do quali. Se isso acontecer, as chances vão aparecer.

Os melhores jogos nos primeiros dias

A chave feminina deste Australian Open não tem tantos jogos explosivos, com nomes grandes e conhecidos do público. Por outro lado, há vários duelos que vão agradar aos fãs que acompanham mais de perto a WTA. É o caso de Halep x Kanepi, uma repetição da primeira rodada do US Open e que terminou com a número 1 do mundo eliminada.

Outro exemplos são Kasatkina x Bacsinszky, um jogo com duas tenistas habilidosas e que não dependem puramente de potência; Siegemund x Azarenka; Stephens x Townsend; Puig x Pavlyuchenkova; e Riske x Bertens. Destaco também Ostapenko x Sakkari, que, no dia certo, com as duas jogando seu melhor, pode até ser o melhor duelo da primeira rodada.

A nova regra

Acabaram os jogos sem fim no Australian Open. A partir deste ano, o torneio vai adotar o match tie-break (aquele igual ao das duplas, que vai até 10) no caso de sets decisivos empatados em 6/6. Isso vale para o quinto set masculino nas simples, assim como para o terceiro set das simples femininas. No qualifying, o match tie-break já foi utilizado no terceiro set – tanto para homens quanto para mulheres.

Onde ver

A ESPN tem os direitos exclusivos de transmissão e promete mais de 200 horas de programação ao vivo – incluindo jogos e o programa diário Pelas Quadras, sempre entre 21h e 22h (de Brasília). A equipe de comentaristas, que não tem mais Fernando Meligeni (entenda aqui), será formada por Fernando Roese, André Ghem, Airton Cunha e Teliana Pereira. Os narradores escalados são Fernando Nardini, Renan do Couto, Ari Aguiar e Cledi Oliveira (que, após anos de transmissões de tênis, ainda erra na hora de narrar os placares).

As transmissões serão nos canais ESPN e ESPN2. Também será possível ver o torneio pelo WatchESPN, no site do canal ou em app para iOS e Android. O Watch exibirá todas partidas – basta abrir o escolher a quadra.

Nas casas de apostas

Serena e Kerber liderando era de se esperar, mas chama atenção o nome de Sabalenka como a terceira mais cotada nas casas de apostas. A bielorrussa aparece à frente de Osaka, Svitolina, Karolina Pliskova, Barty, Stephens, Halep e Petra Kvitova.

Por que a número 1 do mundo e atual vice-campeã está tão mal cotada? A inatividade e a chave explicam. É mais ou menos o mesmo que vale para Kvitova. A tcheca tem contra si o histórico recente em slams e o possível duelo com Sabalenka nas oitavas.

Notem que Wozniacki, Muguruza e Sharapova nem aparecem no print do tweet acima. Elas estão mais abaixo na lista, mas não tão longe nas cotações. Um título da espanhola paga por volta de 30:1; uma conquista da dinamarquesa paga, em média, 23:1; e se Sharapova levantar o troféu, que apostar nela ganha por volta de 40:1. Será que vale a pena?

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.