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Saque e Voleio

Com chave mais fraca de sua história, Rio Open culpa o saibro por falta de nomes de peso

Alexandre Cossenza

08/01/2019 16h57

Desde que fincou bandeira no Jockey Club Brasileiro, em 2014, o Rio Open sempre trouxe pelo menos dois top 10. Em 2016, foram três (Nadal, Ferrer e Tsonga). Desta vez, o ATP 500 carioca terá apenas o austríaco Dominic Thiem, oitavo do ranking, como destaque. A organização confirmou a lista de inscritos nesta terça-feira.

Não é só a quantidade de tenistas do top 10 que indica o Rio Open de 2019 como o mais fraco de sua história. Os oito cabeças de chave serão Thiem (#8), Fabio Fognini (#13), Marco Cecchinato (#18), Diego Schwartzman (#19), Pablo Carreño Busta (#24), Malek Jaziri (#42), Nicolas Jarry (#43) e João Sousa (#44). É uma lista respeitável de atletas, mas que deixa a desejar para um ATP 500. O Rio Open nunca teve oito cabeças com uma soma de rankings tão alta.

Para piorar, a lista é quase idêntica à do torneio de Buenos Aires, realizado uma semana antes. Os 19 tenistas mais bem ranqueados no rol do Rio Open de 2019 (veja a comparação no tweet abaixo) estarão também no evento portenho. A diferença é que Buenos Aires é um ATP 250, que oferece menos pontos no ranking e menor prêmio em dinheiro aos tenistas. O Rio, com seu maior status, não conseguiu atrair nenhum jogador de destaque a mais.

Não é de hoje que a organização do Rio Open alega que o torneio tem o saibro como obstáculo. A competição carioca faz parte de uma sequência sul-americana que inclui ainda os ATPs de Córdoba, Buenos Aires e São Paulo. Os quatro são em terra batida. O Rio Open, penúltimo dos três, antecede uma forte série de eventos em quadra dura. O ATP 500 de Acapulco é na semana seguinte à do Rio. Depois, vêm os Masters 1.000 de Indian Wells e Miami, também jogados em piso sintético (o Brasil Open, ATP 250 paulista, está em posição ainda pior no calendário, junto com Acapulco e Dubai, mas isso é assunto para outro post).

Em anos anteriores, o diretor do Rio Open, Lui Carvalho, já afirmou que mudar o evento carioca para quadras duras facilitaria a tarefa de atrair mais tenistas de peso. Carvalho alega que muitos atletas não querem fazer duas readaptações de piso, processo exigido para quem disputa o Australian Open (quadra dura), o Rio Open (saibro), Indian Wells (dura) e Miami (dura). Conseguir a mudança, contudo, não é fácil. Depende de votação e aprovação junto à ATP.

Mesmo com essa adversidade, o Rio Open sempre trouxe algum nome interessante. Desde Nadal e Ferrer, nas primeiras edições, até Jo Wilfried-Tsonga, Gael Monfils, Kei Nishikori , Marin Cilic, John Isner e Jack Sock. Estranha, porém, que embora o Rio Open diga que recebe ótimas avaliações dos tenistas, quase todos esses nomes tenham vindo uma vez só. Nadal e Ferrer passaram pelo Rio mais de uma vez, mas também deixaram o evento de lado nos últimos anos.

Com tudo isso em mente, enviei, via assessoria de imprensa, quatro perguntas ao diretor do torneio. Carvalho segue afirmando que a questão do piso é essencial na busca por jogadores de alto calibre. Ele também sugere que alguns dos grandes nomes que estiveram no torneio não voltaram porque não tiveram bons resultados. Leia abaixo as explicações na íntegra:

É a primeira vez que o torneio fecha com apenas um top 10. A soma de ranking dos 8 cabeças nunca foi tão alta. A que o Rio Open atribui essa chave ser mais fraca do que as cinco anteriores?

Não temos autonomia sobre o calendário dos jogadores. Todos anos começamos a trabalhar por volta de maio para garantir as principais estrelas do Rio Open. Esse ano não foi diferente; conversamos e fizemos propostas para mais de 20 jogadores e por razões diversas eles optaram por um calendário diferente. De fato gostaríamos de ter mais uma estrela. Tínhamos orçamento e fomos atrás de vários nomes que o publico gostaria de assistir. Não foi possível garantir esse outro jogador. Nem por isso vamos deixar de entregar a melhor edição do Rio Open. Temos 4 Top 20 e 7 dos 10 jogadores com mais vitórias no de saibro 2018 o que faz a nossa lista a mais homogênea de todas.

Qual é a maior dificuldade que o Rio Open tem hoje para atrair tenistas com ranking mais alto e/ou que tenham mais força de atração de público?

Esbarramos como todos anos na questão do piso e pela predominância de jogadores europeus. É um desafio que tínhamos conseguido driblar até esse ano. Infelizmente esse ano tivemos mais dificuldades, apesar de termos conversado com mais de 20 jogadores. Eu acredito que caso o Rio Open fosse em quadra rápida teríamos mais facilidade para atrair os atletas. É só ver o que acontece com Acapulco. O torneio segue na mesma data, no mesmo local, e hoje atrai em média 5 Top 10 por ano. Mas nosso evento é no saibro e não vamos lamentar ou buscar desculpas pra deixar de seguir construindo a nossa história. Contamos com os melhores atletas do saibro e seguiremos fazendo de tudo pra atrair novas estrelas em 2020.

O torneio já trouxe nomes de peso como Cilic, Nishikori, Tsonga, Monfils, Isner e Sock, entre outros que estiveram no Rio e não voltaram (além de alguns que voltaram, mas já não vêm mais ao Rio, como Nadal e Ferrer). Por que é tão difícil trazer de volta jogadores desse porte?

É normal que quando os jogadores não tem um bom resultado no torneio, eles optam por um calendário diferente no ano seguinte. Assim como jogadores com resultados positivos acabam voltando – Nadal, Thiem, Ferrer, Fognini… Já herdamos jogadores que não tiveram resultados expressivos em outros torneios. E é natural que isso siga acontecendo. Para 2019 chegamos a negociar com o Isner e o Tsonga, que tinham possibilidades de voltar, além do Verdasco que não quer viajar tanto antes do nascimento do filho.

Com todas as garantias exigidas pela ATP e o prêmio em dinheiro maior, até que ponto vale a pena manter o torneio no status de ATP 500 mesmo com uma chave que, no fim das contas, vai ser quase igual à de Buenos Aires, um ATP 250? E um torneio que sempre anuncia jogadores antes do Rio Open…

Buenos Aires tem uma chave similar pois fazemos as negociações em conjunto. Faz sentido os jogadores jogarem uma semana antes para chegarem no Rio Open com alguns jogos no saibro, mais preparados. Todo ano as listas acabam sendo parecidas – com uma ou outra mudança. Os jogadores não viriam para América do Sul para jogar um só torneio. O Rio Open faz parte de uma gira de saibro, a única nessa época do ano. Nem por isso os jogadores jogam os 4 torneios da gira. A questão do status de 500 não está apenas ligada a lista de jogadores. Os ATP 500s tem uma transmissão de TV Internacional mais abrangente, contam com uma estrutura mais completa pro fã do esporte e eventualmente tem um desdobramento maior para o público, imprensa e patrocinadores.

Coisas que eu acho que acho:

– A quem interessar, ainda há muitos ingressos disponíveis. Muitos mesmo. Falta pouco mais de um mês para o evento, e nenhuma sessão está lotada. Aparentemente, o público entende o que (não) vem acontecendo no Rio Open.

– Dito tudo isso, o Rio Open não deixa de ser um programa interessante pelo conjunto da obra. Tem boas opções de comida e algum entretenimento além do tênis. Além disso, os ingressos de sessão diurna são bastante acessíveis (R$ 30 segunda e terça, R$ 50 quarta e quinta – preço cheio). Mas pagar R$ 450 para ver a final pode não ser o melhor dos negócios.

– Não participei do encontro dos jornalistas, que foi em São Paulo (moro no estado do Rio), mas os tweets publicados pela assessoria do torneio já tinham quase um tom de desculpas pela chave fraca.

– Entendo que Carvalho tente valorizar seu evento ao dizer que o Rio Open conta "com os melhores atletas do saibro", mas nenhuma lista de saibro é completa sem Rafael Nadal.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.