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Saque e Voleio

Primeira derrota de Djokovic em 2019 não é motivo para drama

Alexandre Cossenza

05/01/2019 05h00

Novak Djokovic é o número 1 do mundo e campeão dos últimos dois slams. Já mostrou que, no seu melhor, com o invejável combo técnico, tático e físíco que possui, é o tenista mais difícil de derrotar no circuito. Portanto, parte-se do princípio de que qualquer derrota sua é uma surpresa. Foi o caso do jogo desta sexta-feira, nas semifinais do ATP 250 de Doha. Nole caiu diante do espanhol Roberto Bautista Agut por 2 sets a 1: 3/6, 7/6(6) e 6/4. Zebra. Maaaaas não parece o tipo de zebra que preocupe no que diz respeito a suas chances no Australian Open, que começa dia 14.

Por que não é motivo para drama? Pelo contexto do que Djokovic vinha jogando e de como vai precisar estar no dia inicial do slam australiano. Primeiro, é preciso analisar a sequência de jogos. O sérvio entrou em quadra nos dias 28 e 29 de dezembro em Abu Dhabi, onde foi campeão do torneio-exibição Mubadala World Tenis Championship. Fez uma final longa e dura, de três sets, com Kevin Anderson, o que já não é o ideal para quem está – ou deveria estar – apenas aquecendo as turbinas.

Então veio o ATP 250 de Doha, e Djokovic atuou nos dias 1º, 2, 3 e 4 de janeiro na chave de simples. Enfrentou Dzumhur, Fucsovics, Basilashvili e Bautista Agut. Ainda jogou duplas nos dias 31, 2 e 3 ao lado do irmão. São seis jogos de simples em oito dias (quatro deles com três sets), mais três partidas de duplas. Então é bastante compreensível que na derrota para Bautista Agut o sérvio tenha parecido econômico em alguns momentos e sem o costumeiro gás em outros. E, ainda assim, esteve a dois pontos da vitória sobre o espanhol.

"Ah, mas Djokovic se complicou em jogos com Fucsovics e Basilashvili", pode dizer algum crítico. Primeiro, não acho que "complicou" seja bem a palavra. Estamos falando de dois caras que jogam um tênis quase kamizake e entraram em quadra como franco-atiradores. Deram seus tiros e conseguiram quebras no primeiro set, mas não estiveram tão perto da vitória assim. Nole fez 6/1 na parcial decisiva contra Fucsovics e 6/4 no terceiro contra Basilashvili (quebra da vitória no quinto game).

São exemplos do tipo de jogo em que Djokovic vai entrando e assumindo o controle aos poucos. Quando toma as rédeas de vez, deslancha. Também por isso, é duríssimo vencê-lo numa melhor de cinco. Logo, não me parecem resultados que preocupem quem espera muito de Nole em Melbourne. No fim das contas, o revés diante de Bautista Agut pode até fazer bem. É mais tempo de descanso para um atleta que já jogou tênis o bastante para afiar seus golpes. Golpes que, aliás, já se mostraram um tanto calibrados para um início de temporada. Ou seja… Por enquanto, sem drama.

Wawrinka empolga, Murray preocupa

Quem também mostrou ótimo nível de tênis em Doha foi Stan Wawrinka, que anotou vitórias sobre Karen Khachanov (7/6 e 6/4) e Nicolas Jarry (6/4 e 7/6). Mais do que resultados, o suíço exibiu forma física muito superior à do fim do ano passado. Mais veloz, defendeu-se bem, buscou bolas dos dois lados, atacou com precisão e sacou bem. Não fosse a solidez de Bautista Agut ,que está em uma semana inspirada, Wawrinka poderia ainda estar vivo no torneio. De qualquer modo, é uma excelente primeira impressão que Stan deixa em 2019.

Andy Murray também voltou mostrando-se melhor do que no ano passado. No seu caso, porém, isso talvez não signifique tanto assim. No ATP 250 de Brisbane, o escocês bateu James Duckworth por 6/3 e 6/4 antes de tombar na segunda rodada diante de Daniil Medvedev, que fez 7/5 e 6/2. Murray esteve fisicamente mais ágil e até deu uma entrevista emocionada após o primeiro jogo. Afirmou que não sabe até quando vai conseguir jogar, mas que vai tentar curtir o esporte enquanto puder.

O que diferencia os casos de Murray e Wawrinka é que o britânico ainda sente dores no quadril. A julgar pelas declarações recentes do cirurgião, não era possível fazer o quadril voltar ao normal. "Ele ainda tem problemas. Não está tão mal quanto antes, mas não está normal." Não é o mais animador dos prognósticos. Parece difícil imaginar o britânico de volta a seu melhor nível.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.