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5 motivos para crer (ou não) que Novak Djokovic vai fechar outro 'Djokoslam'

Alexandre Cossenza

20/12/2018 05h00

Chegamos à segunda quinzena de dezembro. As fotos nas Maldivas já ficaram no passado, e quase todo mundo está ralando em pré-temporada. É tempo de agregar alguns recursos, aperfeiçoar outros e dar aquele gás no físico, que vai precisar aguentar mais dez meses de competições quase sem parar. Por outro lado, para os fãs, é tempo de especulação – no bom sentido. É aquele momento em que a gente imagina quem vai chegar voando no Australian Open, quem serão as surpresas e as decepções, quem vai seguir evoluindo, quem vai ter um ano de baixa, etc. e tal.

Roger Federer vai se aposentar? O corpo de Rafael Nadal vai aguentar até quando? Andy Murray, Stan Wawrinka e Juan Martín del Potro vão voltar a brigar por títulos de slam? E o que será de Novak Djokovic, o atual número 1 do mundo e campeão de Wimbledon e do US Open? Será que o sérvio voltará a vencer os quatro slams seguidos? É desta questão que tratará este post. Não se trata de previsão. Longe disso. É apenas um exercício de imaginação considerando cenários possíveis dentro do que se sabe e do que já se viu com todos elementos que integram essa equação gigante.

Obviamente, acreditar que Nole vai fechar mais um "Djokoslam" (ganhar os quatro slams seguidos, mas sem que todos sejam na mesma temporada) – ou não – depende muito do otimismo (ou pessimismo) de quem opina. É possível? Claro que é. Provável? Difícil dizer. O que dá para fazer é considerar os elementos que podem jogar a favor ou contra esse cenário. Mergulhemos, então, nesta análise.

O que joga a favor de Djokovic

1. Pacote completo

É o motivo mais óbvio: Novak Djokovic é o pacote mais completo do tênis. Não, o sérvio não tem o melhor forehand nem o melhor backhand nem o melhor voleio. Aliás, é difícil apontar um golpe de Nole como o melhor do circuito. Só que tênis não é um esporte só de plástica, muito menos um jogo de um golpe só. Djokovic é quem mais executa golpes eficientes com a maior frequência, mas não só isso. O #1 do mundo é fisicamente privilegiado (tanto em velocidade de deslocamento quanto em elasticidade), tem uma capacidade defensiva obscena e uma força mental invejável.

O que isso tudo significa? Que em um dia normal Djokovic sempre terá mais chances de sair da quadra como vencedor, seja quem for o adversário. Tirando Rafael Nadal e o saibro de Roland Garros, o histórico mostra isso. Nole venceu, aliás, duas finais de Wimbledon sobre Roger Federer – a excelente versão 2014/15 de Federer, o que diz bastante. Não há por que afirmar que um novo Djokoslam é impossível.

2. Rivais baleados

Dos tenistas que arrancaram vitórias "grandes" contra Djokovic, três são pontos de interrogação para 2019. Andy Murray e Stan Wawrinka, que passaram por cirurgias, mostraram sinais de evolução no fim deste ano, mas ainda estiveram longe de brigar por títulos grandes. Neste sentido, Nole sai na frente de ambos no Australian Open. O mesmo vale para Juan Martín del Potro, que sofreu uma fratura no joelho em Xangai e ainda não está totalmente recuperado. Sua participação em Melbourne ainda corre risco. Quanto menos adversários experientes e sabidamente "vencedores", maiores as chances de Djokovic.

3. Melhor-de-cinco

Fechar um novo Djokoslam significa triunfar no Australian Open e em Roland Garros. Dois torneios jogados em melhor-de-cinco, formato em que os tenistas da nova geração ainda deixam a desejar. A chamada #NextGen tem gente talentosa e perigosa como Alexander Zverev (#4 do mundo, que derrotou Nole no ATP Finals) e Karen Khachanov (#11, que superou o #1 na final do Masters de Paris), mas trata-se de um grupo que ainda não fez tanto nos slams.

Zverev só alcançou as quartas uma vez nos slams (RG/18), enquanto o melhor resultado de Khachanov nesse tipo de torneio é um trio de oitavas de final (RG/17, RG/18 e W/18). Ainda é pouco para quem precisaria derrotar Djokovic, um tenista muito mais experiente e com 14 títulos de slam no currículo.

4. Motivação e equilíbrio

Depois de vencer os quatro slams consecutivamente em 2015/16, Djokovic passou por um período em que teve de lidar com uma lesão ao mesmo tempo em que encontrava um equilíbrio entre o tênis e a família que crescia (Nole tem dois filhos). Hoje, o cenário é outro. A lesão é coisa do passado, e o equilíbrio voltou – coincidência ou não – junto com o ex-e-atual-técnico Marian Vajda. Foi assim que o sérvio venceu os últimos dois slams, e isso joga muito a seu favor daqui em diante. Quando as coisas estão em ordem fora da quadra, qualquer tenista é mais perigoso dentro dela.

5. Experiência

Quando chegou a Roland Garros em 2016 com a possibilidade de vencer o quarto slam seguido, Djokovic tinha bastante pressão para completar o feito. Boa parte dessa pressão vinha dele mesmo, ansioso por uma conquista que Federer e Nadal não têm em seus currículos. A expectativa era tanta que Nole relaxou (até demais) depois de vencer em Paris. Era preciso um tempo para absorver aquilo e descansar a cabeça. Nesse tempo, Djokovic também parece ter entendido que não precisa mais dessa pressão toda. Se triunfar mais uma vez no Australian Open de 2019, estará muito mais solto em Roland Garros do que em 2016. E isso faz uma diferença enorme no tênis de qualquer um.

O que joga contra Djokovic

1. Rafael Nadal e o saibro

Ainda é o maior obstáculo do tênis mundial: derrotar Rafael Nadal no saibro de Roland Garros. Até hoje, só Robin Soderling e Djokovic conseguiram. O sueco o fez quando Nadal tinha dores no joelho. O sérvio triunfou em 2015, o pior ano da carreira do espanhol. Se estiver bem fisicamente – o que aconteceu nas últimas duas edições do slam francês – Nadal ainda deve chegar candidatíssimo ao título. Um obstáculo gigante para Djokovic.

2. O calor da Austrália

A gente já viu esse filme, tanto na Austrália quanto nos Estados Unidos. Enquanto Roger Federer, o queridinho dos slams, espera para entrar em quadra na sessão noturna, Novak Djokovic arde sob um calor violento. No último US Open, Djokovic sofreu contra Fucsovics. Em certo momento, parecia até que o sérvio não completaria o jogo. Não aconteceu lá, mas não dá para descartar um cenário parecido na Austrália – especialmente se Nole atuar nos mesmos dias que o suíço.

3. Wawrinka no saibro

Quem lembra da final de Roland Garros/2015 sabe o tamanho do perigo que Stan Wawrinka representa. Naquele ano, Djokovic era o favorito para fechar o career slam, venceu o primeiro set e saiu da quadra chocado com o nível de tênis que o suíço mostrou a partir da segunda parcial. Stan também tem no currículo vitórias sobre Nole na final do US Open/2016 e nas quartas do Australian Open/2014.

Por mais que exista um grande ponto de interrogação sobre o nível de Wawrinka antes do início de 2019, vale lembrar que ele deu alguns sinais positivos em 2018, especialmente no Canadá e em Cincinnati. Se continuar evoluindo, ainda que devagar, pode estar em belo nível quando Roland Garros começar. E todo cuidado é pouco quando se fala de Wawrinka no saibro.

4. Margens mínimas

Para vencer quatro slams seguidos, é preciso acumular 28 dias bons. A margem para dias ruins é muito pequena, especialmente das quartas de final em diante. Djokovic precisa de mais 14 jornadas em nível altíssimo. Um dia ruim acaba com a sequência. Basta dormir mal, acordar mal, comer algo errado, contrair um vírus… A excelência é tão admirável quanto frágil. Por isso, ganhar tanta coisa por tanto tempo é tão difícil.

5. Risco de lesão

Sabe quando alguém está fazendo uma previsão – em qualquer esporte – e diz que fulano é favoritíssimo e vai levar o título "a não ser que algo estranho ou uma lesão aconteça"? Pois é. Esse risco é eterno e, à medida que a idade avança, cada vez maior. Djokovic tem 31 anos e terá 32 em Roland Garros. Seu estilo de jogo – como a maioria do circuito – exige um bocado do corpo, tanto em resistência quanto em elasticidade. Não dá para descartar a hipótese de que um problema físico pode atrapalhar a caminhada do número 1.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.