Stefanos Tsitsipas: mocinho ou vilão?
Stefanos Tsitsipas, número 15 do mundo, conquistou o título do ATP Next Gen Finals, torneio que é uma espécie de Finals Sub-21. Principal cabeça de chave da competição, o grego de 20 anos venceu todos seus jogos, passando por Jaume Munar, Herbert Hurkacz, Frances Tiafoe, Andrey Rublev e Alex de Minaur. Venceu a final por 2/4, 4/1, 4/3(3) e 4/3(3) – aos desavisados, o torneio foi jogado em melhor de cinco sets, com sets em melhor de sete games e tie-breaks jogados quando o placar mostra 3/3.
Tecnicamente, foi mais uma bela semana de Tsitsipas, um garoto talentoso, dono de um jogo agressivo e ótimo de ver, com um belo backhand de uma mão e uma postura de sempre buscar o ataque e a iniciativa dos pontos. Foi, também, um título que coroou sua temporada de "chegada" à elite. Começou chamando atenção no saibro, com uma final em Barcelona. Mais tarde, outra final no Masters canadense (perdeu ambas decisões para Rafa Nadal). Por fim, veio o primeiro título: o ATP 250 de Estocolmo.
Durante a maior parte do ano, Tsitsipas encantou. O que o mundo via era seu lado simpático, seu tênis alegre, sua raça e seu senso de humor. Até alguns momentos de fúria eram divertidos (principalmente quando o grego desconta a raiva em si mesmo, como no vídeo abaixo). Eu mesmo fiz uma lista de características para apreciar no jovem Tsitsipas.
Maaaaas o fim de ano mostrou um lado um pouco diferente do grego. Talvez pelo cansaço acumulado na temporada, talvez pela novidade de lidar com a expectativa por melhores resultados, talvez pela imaturidade ou, talvez, porque não dá para esconder, digamos, "o lado negro da força" por muito tempo, os jogos de Tsitsipas tiveram momentos nada simpáticos. As declarações e o comportamento do grego tampouco ajudaram.
O primeiro desses momentos aconteceu no ATP 500 da Basileia (vide post abaixo), onde Tsitsipas foi impaciente com uma boleira que o ajudava a tirar a raquete do plástico. O vídeo circulou um bocado nas redes sociais, e o grego pediu ao usuário, via Twitter, que o apagasse usando o velho do argumento do "não há nada de bom no vídeo". Tsitsipas também disse: "Eu concordo totalmente que é inaceitável. Eu não tinha nada contra a boleira. Só queria minha raquete pronta para jogar. Nada mais do que isso. Eu peço desculpas pelas minhas ações."
Um tempo depois, Tsitsipas apagou do Twitter o diálogo. Apagou as desculpas e deletou o pedido (atendido pelo usuário) para que o vídeo fosse excluído da rede social. Foi o primeiro arranhão na até então impecável imagem do grego.
Só que não pegou muito bem quando Tsitsipas chegou em Milão e reclamou de uma das "inovações" do Next Gen Finals. No torneio, os boleiros não são responsáveis por carregar as toalhas dos jogadores. Em vez disso, a ATP instalou caixas no fundo de quadra para que cada jogador colocasse suas toalhas. Ficava a cargo do atleta levar seu paninho para cá e para lá, tendo em mente que também havia um shot clock de 25 segundos entre os pontos. Logo ficou claro que não dava para usar a toalha o tempo todo.
"Para jogar seu melhor tênis, você não deve precisar pensar se vai pegar a toalha agora ou mais tarde. Você pode apenas chamar o boleiro. Acho que o boleiro, é trabalho dele entregar toalhas e bolas aos jogadores." Dá para entender por que não foi a mais popular das declarações de Tsitsipas, né? Ainda mais após a lamentável cena acima. Além disso, se pensar em pegar a toalha atrapalha a concentração de alguém, talvez o tenista em questão deva repensar sua rotina entre os pontos. É só minha opinião.
Na semifinal do Next Gen Finals, Tsitsipas protagonizou outro momento de destempero. Pouco depois de ter o saque quebrado pelo russo Andrey Rublev, descontou a raiva no fone para comunicação com o técnico. Atirou o objeto violentamente contra a mesa duas vezes. Destruiu o aparelho. Foi tão ridículo quanto o tempo médico pedido por Tsitsipas logo em seguida. O grego estava com um dedo da mão esquerda sangrando porque se cortou enquanto obliterava o fone.
Mocinho ou vilão? É cedo para dizer. Se é possível olhar o grego e lembrar de Gustavo Kuerten (o próprio Guga disse isso), também é possível comparar Tsitsipas a Jack Sparrow – bigode, bandana e atitudes desastrosas menosprezadas por uma dose de carisma.
Sim, carisma. É impossível negar que cenas como a do tweet abaixo, logo após a final em Milão, conquistam milhares de fãs no planeta. Cabe ao jovem de 20 anos, no início do que parece ser uma promissora carreira, deixar claro quem, no fim das contas, é o verdadeiro Stefanos Tsitsipas.
Coisas que eu acho que acho:
– Todo mundo tem seus dias ruins. Quase todo mundo tem ataques de raiva, aqueles momentos em se perde o controle e que o arrependimento bate um minuto depois. Acontece com os melhores de nós, seres humanos. O que acho é que a capacidade de limitar esses momentos e de, principalmente, não causar danos a outros durante esses instantes, é um grande medidor de caráter. É isso que diferencia, por exemplo, um "quebrador de raquetes" de alguém que xinga um torcedor, agride um colega ou ofende um árbitro.
– Tsitsipas passou do limite do dano a si próprio quando descontou a raiva numa boleira e quebrou um equipamento que não era seu (enquanto ele quebra raquetes, o problema é apenas dele e de seu patrocinador). Se ele se limitar a quebrar suas raquetes ou dar tapas na própria cara, o dano será bem menor. O pior que pode acontecer é o público vê-lo como um desses malucos-beleza.
– Como escrevo no texto, Tsitsipas é um jovem aprendendo a lidar com o circuito e suas exigências. Não é fácil. Só que ninguém mais o vê como um ingênuo. Enquanto ele estiver ganhando jogos e em posição de destaque na ATP, seu comportamento – como acontece com todo mundo – será analisado minuciosamente a cada torneio. No tênis e nas redes sociais, não há onde se esconder. Os próximos dias, meses e anos vão mostrar quem realmente é Stefanos Tsitsipas.
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