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Saque e Voleio

Thiago Wild, campeão do US Open: 'Nada vai mudar'

Alexandre Cossenza

10/09/2018 08h17

Já faz tempo que Thiago Wild bate nessa tecla. O foco de seu desenvolvimento como tenista nunca foi obter resultados como juvenil. Antes disso, a ideia é preparar seu tênis para o circuito profissional (ele diz isso nesta entrevista). É por isso que o título do US Open juvenil, conquistado neste domingo, embora seja motivo de festa, e o próprio Wild o rotule como um sonho de criança, não é algo que vá mexer com a vida do paranaense de 18 anos.

Atual número 461 no ranking da ATP, Wild levantou o pequeno troféu depois de superar o italiano Lorenzo Musetti, de 16 anos, por 6/1, 2/6 e 6/2. E, após comemorar a conquista, deixou bem claro que a vida segue:

"Nada vai mudar. Eu tenho que seguir na mesma linha de trabalho, até porque vem dando certo, então tenho que manter a pegada. Pode ser que algumas portas a mais se abram em termos de patrocínio e mídia, mas isso não vai mudar meu foco, que é no profissional", disse, em áudio enviado ao blog.

A declaração é animadora e mostra um jovem livre de deslumbramento, algo que condiz com o que ele sempre falou (há três papos com ele no blog, todos realizadas entre novembro do ano passado e março deste ano) e que, principalmente, dá a entender que Wild sabe que um título de slam juvenil não é garantia de um belo futuro como profissional.

A lista de campeões dos últimos dez anos inclui gente ilustre, é claro, mas também inclui atletas que são bons profissionais, mas que nem estiveram perto de repetir o nível de sucesso entre os profissionais. É o caso do argentino Agustín Velotti, que ganhou o US Open em 2010 e hoje, com 26 anos, nunca esteve entre os 150 melhores da ATP; ou, em outro nível, do americano Donald Young, que venceu dois slams juvenis e nunca entrou no top 30 como profissional. São apenas dois de vários exemplos que eu poderia citar.

Wild tem uma vantagem entre os últimos brasileiros que fizeram sucesso como juvenis. Seu jogo está mesmo mais, digamos, "pronto" para o profissional. O adolescente tem um belo saque, bons e pesados golpes de fundo (e não faz força para executá-los), devoluções agressivas e nenhum ponto fraco óbvio. Além disso, ele já vem jogando torneios profissionais há algum tempo. Já venceu dois Futures, já jogou ATP no Brasil (teve uma bela atuação diante do veterano Carlos Berlocq no Ibirapuera) e, recentemente, disputou qualis de Challenger (Tampere) e ATP (Kitzbuhel) na Europa.

O US Open, aliás, foi uma (feliz) exceção no seu calendário. Wild poderia nem ter viajado a Nova York, mas que mal tem disputar um slam com chances de ser campeão e se despedir da faixa etária com o gostinho de um título e o rótulo eterno de "campeão de slam juvenil"? Além de tudo, como ele reconhece, é algo que pode lhe abrir algumas portas, como aconteceu com o alagoano Tiago Fernandes, campeão do Australian Open de 2010 (Fernandes, hoje com 25 anos, já abandonou o tênis).

Que a caminhada continue sem deslumbramento e que tudo isso faça Thiago Wild extrair o máximo de seu potencial. E há bastante potencial…

Coisas que eu acho que acho:

– Acompanhei alguns torneios com Wild entre o fim do ano passado e o primeiro semestre deste ano. Nos Futures, a impressão que tive é que ele podia atropelar todas as chaves, mas esbarrava em suas oscilações (normais para a idade) e, às vezes, parecia entediado, buscando algum desafio extra. E desafio é o que ele mais vai ter pela frente a partir de agora. Vai ser interessante continuar seguindo o rapaz.

– Quando conversamos em Rio Preto, Wild falou sobre como vinha fazendo meditação para combater o que ele mesmo classificou como jeito "porra louca". A julgar pelas atuações nos dois últimos jogos em Nova York, os exercícios de respiração vêm dando certo. Wild oscilou menos, não se desesperou nem quando perdeu uma sequência grande de games na final, e encontrou maneiras de vencer. É um ótimo sinal.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.