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Saque e Voleio

Com winner até por fora da rede, Federer desarmou Kyrgios e deu show para ir às oitavas

Alexandre Cossenza

01/09/2018 16h50

Durante cerca de meia hora, Roger Federer cometeu uma dezena de erros não forçados e teve problemas para ganhar pontos no saque de Nick Kyrgios. Bastou, porém, o australiano abrir uma fresta para que o suíço tomasse conta das ações. Depois de uma quebra no fim do set inicial, o número 2 do mundo, 37 anos de idade, disparou na frente e deu um baile no rival 14 anos mais jovem – com direito a um winner com a bola passando rasante ao chão, por fora da rede. Por 6/4, 6/1 e 7/5, Federer se desfez de um obstáculo perigoso e avançou às oitavas de final do US Open.

O australiano entrou em quadra motivado e concentrado e realmente parecia capaz de oferecer um desafio à altura de Federer. Kyrgios, 23 anos, #30 do mundo, confirmava o serviço com facilidade e via Federer cometer erros em seus próprio serviço. O jovem chegou até a imitar o movimento de saque do veterano (veja no tweet abaixo) quando tinha vantagem no placar.

Quando o telão mostrava 3/3, Kyrgios teve quatro break points (três deles em sequência, num 0/40) e desperdiçou as chances com seguidos erros. O vacilo custou caro. O suíço, que só havia vencido um ponto de devolução até o 4/5, aproveitou o primeiro game ruim de saque o adversário e, com uma linda passada de devolução – de slice – fechou a parcial em 6/4.

A quebra mudou radicalmente a partida. De repente, Kyrgios já não conseguia mais confirmar seu serviço, enquanto Federer não cometia mais os erros do início da partida e tinha confiança para usar cada um de seus golpes mortais. Slices, curtinhas, passadas do fundo de quadra. Tudo funcionou, deixando Kyrgios desarmado, e o resultado foi uma parcial que terminou em 6/1.

No terceiro set, Kyrgios voltou a conseguir confirmar seu serviço, mas não encontrou abertura quando Federer tinha o saque. O suíço continuava sólido e variando suas armas. O grande momento do jogo veio no sétimo game, quando Kyrgios fez um lindo voleio, e Federer respondeu com um winner espetacular, com a bola passando rasante ao chão, por fora da rede, para levantar o estádio.

A quebra decisiva veio pouco depois, no 11º game, quando Kyrgios, encarando break point, jogou uma direita na rede. O número 2 do mundo não perdoou e deu números finais à partida pouco depois.

O adversário de Federer nas oitavas será outro australiano: John Millman, 29 anos, #55 do mundo, que se classificou ao derrotar Mikhail Kukushkin por 6/4, 4/6, 6/1 e 6/3. Millman também foi o responsável por eliminar o italiano Fabio Fognini, cabeça de chave 14, na segunda rodada. Ele e Federer já se enfrentaram uma vez, e o suíço venceu em três sets no ATP de Brisbane em 2015: 4/6, 6/4 e 6/3.

Coisas que eu acho que acho:

– Para quem não conhece tão bem as regras do tênis, explico: é permitido mandar a bola por fora da rede em qualquer altura. O lance é incomum porque são poucas vezes em que a bola chega para um tenista num ângulo em que é possível fazer isso. Federer, gênio que é, aproveitou a rara chance.

– No início do primeiro set, Federer parecia embarcar em mais uma jornada de forehands e backhands erráticos do fundo de quadra. Falhava um bocado e não vinha necessariamente sendo muito exigido por Kyrgios nos ralis. Depois do primeiro set, porém, o que vi foi um suíço preciso, consciente do que precisava fazer em quadra e errando muito menos (13 erros não forçados no primeiro set e apenas três no segundo).

– De um momento preocupante – até pela lembrança da atuação mediana diante de Benoit Paire na rodada anterior – Federer sai de quadra dando motivos para otimismo de seus fãs. O suíço que terminou a partida com Kyrgios é o que precisa aparecer em um eventual confronto com Djokovic nas quartas.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.