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Saque e Voleio

Nadal sofre, sai de buraco e consegue virada em mais de 4h para ir às oitavas em NY

Alexandre Cossenza

31/08/2018 19h53

Seria injusto dizer que Rafael Nadal viveu um dia ruim quando a lista de melhores momentos vai mostrar uma dúzia de pontos incríveis, e o ponto-a-ponto registrou uma virada no finzinho do segundo set, além de duas vitórias em tie-breaks contra um grande sacador como o russo Karen Khachanov, 22 anos, #26 do mundo. Mas o fato é que o espanhol errou mais do que de costume, teve baixo aproveitamento de saque durante a maior parte do jogo, foi quebrado quatro vezes e errou bolas fáceis em pontos importantes.

Apesar disso tudo, o número 1 do mundo encontrou uma maneira de virar o placar e sair do Estádio Arthur Ashe com uma enorme vitória por 5/7, 7/5, 7/6(7) e 7/6(3), em 4h22min de jogo, além de uma vaga nas oitavas de final do US Open, torneio do qual é o atual campeão.

E se soa injusto dizer que foi uma jornada ruim, foi, certamente, um dia atípico. O ótimo saque de Khachanov, que encaixou 78% de primeiros serviços no set inicial, teve muito a ver com isso. Ainda assim, Nadal conquistou cinco break points – em três games diferentes – e só conseguiu uma quebra no primeiro set. O espanhol, por outro lado, esteve longe de repetir o bom desempenho nos serviços que mostrou na rodada anterior. Foi quebrado no segundo game, passou a maior parte da parcial correndo atrás e, depois de igualar o placar, voltou a fazer um game ruim e foi quebrado outra vez. Khachanov aproveitou e, depois de um longo 12º game, confirmou com um ace. Foi a primeira vez em dez sets jogados que o russo tirou um set do atual #1.

No intervalo, antes do segundo set, Nadal pediu atendimento médico e teve seu joelho direito enfaixado. O jogo pouco mudou no começo da segunda parcial. Após mais um game ruim de serviço, o espanhol viu o adversário arrancar na frente e abrir 3/1. O número 1 do mundo teve chances, mas não conseguiu jogar seu melhor tênis nos pontos mais importantes. Aconteceu em vários pontos no serviço de Khachanov (veja a sequência de tweets acima, publicados no meio do segundo set) e, principalmente, em seu próprio serviço. O erro não forcado de forehand com o placar em 4/4 e 30/40 foi enorme. O russo conseguiu a quebra e sacou para o segundo set.

Nadal não vence um jogo após estar perdendo por 2 sets a 0 desde 2007, mas não precisou jogar contra a estatística hoje. Khachanov errou três esquerdas e foi quebrado. Com o placar em 5/5, a chuva apareceu, e o teto retrátil foi fechado. Após uma interrupção de cerca de dez minutos, o russo fraquejou. Sacando em 5/6 e 40/15, fez duas duplas faltas seguidas. Depois, com set point contra, foi à rede e voleou para fora: 7/5 Nadal.

O terceiro set foi tão parelho quanto os anteriores, só que sem quebras. Nadal saiu de 0/40 no primeiro game e, depois disso, teve um break point e não conseguiu a quebra. O drama ficou todo para o tie-break, que teve pontos igualmente fantásticos e ruins. Nadal abriu vantagem graças, principalmente, a duas duplas faltas de Khachanov. O número 1 teve três set points, mas cometeu dois erros não forçados e viu o rival acertar uma bela direita para igualar o placar em 6/6. No entanto, depois de salvar um quarto set point, Khachanov fez outra dupla falta. O ponto seguinte, no saque de Nadal, foi um incrível rali de 39 golpes que terminou com a vitória e o set do número 1.

No quarto set, com a partida passando de 3h30min de jogo, Nadal finalmente quebrou primeiro. Com a vantagem, jogou ainda mais solto, sacando melhor e dando poucas chances a Khachanov. O russo resistiu e seguiu confirmando seu saque, mas não conseguiu quebrar. Só que o dia atípico de Nadal não havia ficado totalmente no passado. Sacando em 5/4, o espanhol errou um forehand fácil e subiu mal à rede duas vezes. Khachanov não perdoou, quebrou de zero e empatou a parcial em 5/5. O azarão ganhou ânimo e Nadal ainda precisou salvar um set point no 5/6 antes de forçar outro tie-break.

Só no game de desempate é que o número 1, depois de vencer um par de belos ralis, deslanchou até fechar o jogo. Com o resultado, Nadal sobrevive para encarar nas oitavas o georgiano Nikoloz Basilashvili, #37 do mundo, que vem de vitória sobre o argentino Guido Pella por 6/3, 6/4, 1/6 e 7/6(4).

Coisas que eu acho que acho:

– Como escrevi no alto do texto, é injusto dizer que Nadal viveu um dia ruim quando ele termina o jogo com 49 winners e 38 erros não forçados. Meu ponto, contudo, é que o espanhol esteve abaixo de seu nível normal. Não conseguiu aprofundar bolas com frequência, passou muito tempo preso no fundo, sem machucar Khachanov, e errou bolas bobas em momentos importantes. É indiscutível que Nadal esteve mais nervoso (ou "menos calmo", como ele prefere dizer) e inseguro em certos trechos do duelo.

– Dito isso, Khachanov tem muito mérito. Sacou bem durante muito tempo, soltou o braço dos dois lados e somou 66 winners (contra 55 erros não forçados). Além disso, defendeu-se brilhantemente em muitos momentos e ganhou vários ralis – algo que ajuda a provocar insegurança no oponente. E mais do que isso: ficou 4h22min e estava muito melhor fisicamente do que a maioria dos rivais de Nadal.

– Nadal também teve abaixo de 60% de aproveitamento de primeiro saque durante muito tempo (segundo e terceiro sets inteiros), algo que na quadra dura lhe faz falta. Ele precisa ganhar mais pontos de graça para jogar os ralis menos pressionado, o que tem grande peso durante uma partida tão longa.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.