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Saque e Voleio

Contra adversário frágil, Federer desfilou na estreia em Nova York

Alexandre Cossenza

28/08/2018 22h09

Era a ocasião perfeita para Roger Federer tirar ferramenta por ferramenta de seu enorme baú de utilidades. O Estádio Arthur Ashe é o maior do tênis. A noite nova-iorquina tem um buzz como nenhuma outra no mundo esportivo. O adversário, o japonês Yoshihito Nishioka, #177 do mundo, não tinha armas para equilibrar a partida. Assim, Federer aproveitou para controlar as ações, revelar seu modelito novo da Uniqlo e exibir seus golpes baryshnikovescos. No fim, fez 6/2, 6/2 e 6/4 e avançou à segunda rodada.

Não foi o melhor dos testes para alguém que pensa em enfrentar Novak Djokovic nas quartas de final, mas não significa que não foi bonito de ver. Até quando o jogo está sem graça, o tênis do suíço tem aquele quê de magia, um encanto que faz todo mundo parar na frente da TV ou num assento de arquibancada à espera de um golpe improvável ou daquele winner sem fazer força – algo que só pode sair da raquete de Federer e que termina, invariavelmente, com uma centena de queixos caídos.

O encanto é tanto que proporciona momentos curiosos como o do fim do terceiro set, quando Federer errou um smash facílimo, mandando a bola a uns 30 centímetros da linha lateral. Tão fácil que foi difícil acreditar que o suíço havia errado. O juiz de linha disse que não viu, o site do torneio contou como winner, e o árbitro de cadeira cantou o placar como se o ponto fosse de Federer. Por sorte, a falha foi corrigida a tempo, e Nishioka venceu seu sexto game em todo o encontro.

Em uma análise um pouco mais criteriosa, é difícil julgar muito com base na partida desta terça. É claro que Federer entrou afiado, mas não faz muito sentido elogiá-lo muito além disso. Mesmo sem brilhar, Nishioka teve nove break points (converteu um graças a uma direita longa do rival). Teve 5/1 e deixou o japonês encostar em 5/4 no terceiro set. Talvez o #2 não tivesse dado tantas chances em uma partida mais equilibrada. Talvez tivesse perdido um set. Difícil saber, injusto especular.

De qualquer modo, existe o "afiado quando exigido" e existe o que aconteceu hoje. Durante dois sets e meio, Nishioka nem conseguiu atacar muito nem se defendeu bem. Terminou a partida com apenas 18 winners (a maioria no terceiro set, com o jogo já decidido), contra 56 do suíço, que ruma para enfrentar o francês Benoit Paire (#56) e será igualmente favorito. Melhor aguardar até lá para, talvez, ter material para uma análise mais profunda.

Coisas que eu acho que acho:

– Eu postaria mais vídeos de lances espetaculares de Federer, mas a conta do US Open no Twitter, que passa o ano inteiro postando bobagens e vídeos toscos, está publicando highlights do jogo com geoblock (não abrem no Brasil). Como SporTV e ESPN, canais que possuem os direitos de transmissão para cá, também deixam passar essa chance, não há muito a fazer.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.