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Saque e Voleio

Título com sobras em Toronto vai deixar Nadal descansar para chegar mais forte ao US Open

Alexandre Cossenza

13/08/2018 08h29

A sequência de eventos não poderia ter sido melhor para Rafael Nadal em Toronto. Além de conquistar o título do Masters 1.000 canadense ao bater Stefanos Tsitsipas por 6/2 e 7/6(4), o espanhol contou com a desistência de Roger Federer, que defendia 600 pontos. Logo, a vantagem de Rafa na liderança do ranking, que era de 2.230 pontos, subiu para 3.740. O espanhol pode dizer que não, mas a diferença certamente pesou na decisão de não jogar o Masters de Cincinnati nesta semana.

Nadal somou em Toronto, além dos mil pontos, um punhado de vitórias importantes e o ritmo de jogo necessário para evitar o desgaste de jogar dois Masters em semanas consecutivas e o óbvio risco de lesão num corpo de 32 anos e um histórico de problemas físicas acumulados ao longo da carreira. Faz todo sentido que ele descanse e passe as duas semanas que antecedem o US Open treinando e fazendo a sintonia fina de seus golpes, mas sem o desgaste das partidas consecutivas – em Cincy, poderia enfrentar Raonic na estreia, Edmund/Shapovalov/Tiafoe nas oitavas e Djokovic/Dimitrov nas quartas.

O mais interessante é que Nadal venceu em Toronto – foi seu quarto título no Canadá – com sobras e sem ser espetacular. A chave nem ajudou tanto quanto parecia no início da semana, já que Stan Wawrinka mostrou um belo tênis, e Marin Cilic possivelmente jogou seu melhor set da temporada, mas o espanhol teve um grande mérito: encontrar maneiras de vencer quando nem tudo estava a seu favor.

Cometeu 16 erros não forçados de forehand contra Khachanov, venceu só 46% dos pontos com o segundo saque conta Cilic (e menos de 40% no primeiro set), somou mais de 20 erros não forçados em dois sets contra Wawrinka e, na final, saiu de sacando-para-o-jogo para salvar set point antes de fechar a partida. Não foram atuações impecáveis – longe disso – mas tiveram a assinatura deste número 1 do mundo. Resistência, força mental e solução de problemas. Tudo leva a crer que Rafael Nadal chegará forte no US Open.

E o que mais?

Especificamente sobre a final, achei que Tsitsipas entrou em quadra um tanto afobado, tentando acelerar os pontos e sem mostrar a precisão necessária para isso. Era como se o grego acreditasse que a cada golpe extra num rali suas chances de vencer o ponto diminuiriam. Isso não só lhe custou o primeiro set, mas deu a Nadal uma quebra no início da segunda parcial e, consequentemente, o conforto para não precisar forçar além da conta.

Dá para entender o comportamento do grego ainda mais ouvindo o que ele disse após a partida: "A paciência que Rafa tem é incrível. Ele nunca desmorona. Ele vai sempre te pegar como um buldogue e sempre vai fazer você sofrer em quadra. E é incrível o que ele construiu como jogador. É assim que você se sente quando joga contra ele. Preciso trabalhar muito mais e espero alcançar seu nível um dia."

Coisas que eu acho que acho:

– Tsitsipas sacou 3/5 e 30/15 no segundo set quando alguém do público gritou e atrapalhou o serviço do grego. Enquanto Tsitsipas reclamava e o árbitro respondia que só podia anunciar um pedido de silêncio, Nadal mandou que o grego tivesse o primeiro serviço novamente. O adolescente foi lá, ganhou o ponto com o saque e, por pouco, não forçou um terceiro set. Bacana de ver.

– Extremamente elogiável a postura de Tsitsipas até o fim do jogo. Depois de derrotar quatro top 10 seguidos, começou mal a final e viu Nadal abrir um set e uma quebra de vantagem. Muitos teriam desistido mentalmente e ficado satisfeitos com a semana. O grego, por sua vez, manteve-se no jogo e aproveitou a única brecha que teve. Por alguns centímetros – a bola que salvou o set point raspou a fita – não mandou a decisão para um terceiro set.

– Tsitsipas, 20 anos festejados neste domingo (com direito a parabéns cantado pelo público na cerimônia de premiação!), sobe para o 15º lugar no ranking mundial. Se você ainda não conhece o grego o bastante, dê uma olhada no post publicado ontem aqui no Saque e Voleio.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.