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Saque e Voleio

Tsitsipas mostrou talento e maturidade para derrotar Djokovic

Alexandre Cossenza

10/08/2018 06h00

No penúltimo parágrafo do post de ontem, falei sobre como estava devendo um post sobre o jovem Stefanos Tsitsipas aqui no blog. Pois o grego de 19 anos, atual número 27 do mundo, me deu a desculpa perfeita ao derrotar Novak Djokovic por 6/3, 6/7(5) e 6/3 mostrando qualidades importantes e não tão óbvias que vão lhe deixando cada vez mais perto do top 20.

Antes de mais nada, é bom que se registre: foi uma jornada muito abaixo do normal para Djokovic. O campeão de Wimbledon esteve inseguro, atacando pouco, quase não usando a paralela de backhand (embora Tsitsipas lhe oferecesse com frequência abertura para o golpe) e abusando de bolas curtas – não curtinhas. Nole esteve apático, à exceção de raros momentos, como quando partiu no meio uma raquete com o pé.

Dito isso, Tsitsipas foi extremamente competente no que diz respeito à sua parte. O grego, aliás, não precisou jogar um tênis espetacular. Ganhou, é verdade, pontos brilhantes, mas não precisou jogar em nível tão alto por tanto tempo. E não há sinal maior de potencial do que derrotar Novak Djokovic sem precisar jogar seu melhor tênis.

Dono de um tênis vistoso e corajoso, Tsitsipas tem um elogiável backhand de uma só mão, um belo saque e um forehand muito eficiente. Seu jogo de rede ainda não está à altura do resto de seu tênis, e o grego ainda vive momentos de instabilidade compreensíveis para sua idade, mas o teto para seu jogo é muito, muito alto. Estamos falando, afinal, de um rapaz que foi número 1 do mundo e campeão de duplas de Wimbledon como juvenil.

Tsitsipas teve dois grandes méritos diante de Djokovic. O primeiro foi aproveitar as bolas curtas e agredir o sérvio de forma consciente, sem se empolgar com a vitória parcial e sem sair atacando indiscriminadamente. Construiu bem os pontos e esperou quase sempre o momento ideal para buscar o winner. O outro, maior ainda, foi não perder a cabeça depois de desperdiçar dois break points no nono game do segundo set. O grego sacaria para a partida se tivesse quebrado ali. Não conseguiu e acabou perdendo a parcial no tie-break.

Para muitos adolescentes, teria sido a única chance, mesmo numa jornada pouco inspirada do número 1. Tsitsipas não deixou o momento lhe abalar. Seguiu firme, quebrou Djokovic no segundo game do terceiro set e, quando saiu de 15/40 para abrir 3/0, o azarão mostrou estar firme na quadra. Perdeu apenas três pontos no serviço depois dali e anotou uma vitória grande. Sua segunda sobre um top 10 em dois dias (bateu Thiem na véspera). É um nome para olhar com carinho nos próximos anos.

E o que mais?

Rafael Nadal e Stan Wawrinka fizeram um belo jogo. Certamente, foi a melhor apresentação que vi do suíço em muito tempo. Stan teve, inclusive, chances nas duas parciais. Bobeou em ambas, e Nadal aproveitou para triunfar por 7/5 e 7/6(4). O espanhol fará um jogo bem interessante com Marin Cilic nesta sexta-feira. Foi contra o croata que Nadal se lesionou no Australian Open. Outro jogo bacana do dia é Tsitsipas x Sascha Zverev. Os dois fizeram a semifinal de Washington, na última semana, e o alemão venceu por 6/2 e 6/4.

No WTA Premier 5 de Montreal, a rodada não foi menos interessante, inclusive com algumas tenistas jogando rodadas duplas. Ficaram pelo caminho Petra Kvitova (eliminada por Kiki Bertens), Maria Sharapova (Caroline Garcia) e Caroline Wozniacki (Aryna Sabalenka). As quartas de final têm Halep x Garcia, Barty x Bertens, Sevastova x Stephens e Svitolina x Mertens.

Coisas que acho que acho:

– Esqueci de registrar no post de ontem a nota preocupante sobre Juan Martín del Potro, que desistiu de disputar os Masters de Toronto e Cincinnati. O argentino disse estar sentindo dores no punho esquerdo – o mesmo que o deixou afastado do circuito por tanto tempo. A lesão explica a quantidade enorme de slices que Delpo usou no ATP de Los Cabos, na última semana.

– Denis Shapovalov, um dia depois de levantar a galera e derrotar Fabio Fognini, teve um dia triste, errou demais e acabou eliminado por Robin Haase: 7/5 e 6/2. É o tipo de oscilação que ainda acontece com a chamada #NextGen. Atuações gloriosas num dia, pífias em outro.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.