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Saque e Voleio

Nadal voltou às quadras duras afiado e acelerado contra o relógio

Alexandre Cossenza

09/08/2018 06h00

Foram mais de seis meses sem disputar uma partida oficial em quadra dura, e Rafael Nadal voltou ao piso nesta quarta-feira, no Masters 1000 de Toronto, afiado e acelerado. Bateu Benoit Paire por 6/2 e 6/3, superando ainda o "shot clock", relógio que marca os 25 segundos entre os pontos e que é usado em um torneio deste porte pela primeira vez.

Quando à atuação, há pouco a criticar, a não ser por um par de games de serviço na segunda parcial. Na maior parte do tempo, o número 1 do mundo conseguiu jogar com bolas fundas, tomando o controle dos pontos e fazendo Benoit Paire se deslocar e se defender mais do que pretendia. Agrediu com precisão, foi bem à rede e ganhou um punhado de ralis bem disputados – como o do vídeo abaixo.

Havia, também, a curiosidade de muitos para ver como Nadal lidaria com o relógio. O espanhol solucionou o suposto problema usando menos as toalhas entre os pontos. Em vários intervalos, o espanhol usou apenas suas munhequeiras para escorrer o suor. Resultado? Não passou grande aperto em momento nenhum para sacar dentro dos 25 segundos.

O ponto a questionar aqui é que Nadal sua demais – muito mais do que a maioria dos tenistas do circuito – e era possível ver, em múltiplas ocasiões, os pingos caindo de seu rosto. Resta acompanhar para ver se isso, em algum momento, deixará a quadra molhada a ponto de necessitar uma interrupção para secar o piso (já vi isso acontecer com Feijão em uma apresentação no US Open).

Resumo da história? Nadal chegou em forma à temporada de quadras duras e será um candidato forte ao título em Toronto – também porque o sorteio da chave lhe foi favorável, jogando para a metade de baixo Djokovic e Zverev, que parecem ser os nomes mais perigosos por enquanto. É bem verdade que o espanhol vai encarar Wawrinka nas oitavas, mas também é fato que o suíço, até agora, não mostrou um tênis tão empolgante assim.

Um possível confronto com Marin Cilic nas quartas de final (o croata ainda vai encarar Schwartzman nas oitavas) deve ser um obstáculo maior para o número 1 do mundo. De qualquer modo, o torneio canadense está interessantíssimo.

E o que mais?

Também gostei bastante do que vi de Novak Djokovic, que faz seu primeiro torneio desde o título em Wimbledon. Sob alguns aspectos, me lembrou bastante o Nole do período pré-lesão em início de torneio. Sem ousar demais, calibrando os golpes e ganhando sem ser espetacular, mas também sem passar sufoco. Deu uma rateada no segundo set da estreia, contra Basic, mas aprumou-se no tie-break a ponto de não precisar jogar uma terceira parcial.

Meu jogo preferido, por enquanto, foi a vitória de Grigor Dimitrov sobre Fernando Verdasco. Teve os altos e baixos esperados de ambos e um terceiro set jogado em alto nível. Foi um belo triunfo do búlgaro, que havia sido eliminado em Indian Wells e Roland Garros pelo mesmo Verdasco.

Coisas que acho que acho:

– Meu duelo preferido para as oitavas é Novak Djokovic x Stefanos Tsitsipas. O grego de 19 anos vem de vitórias sobre Damir Dzumhur e Dominic Thiem. O austríaco, aliás, teve um desempenho pífio nas devoluções de saque contra Tsitsipas. No segundo set, venceu apenas um ponto no serviço do rival. Tentou ficar mais próximo da linha de base e agredir, mas acabou cometendo erros e mais erros. Pagou o preço no tie-break.

– Ainda estou devendo aqui no blog um texto sobre o jovem Tsitsipas, que meu colega Thiago Quintella chama carinhosamente de Guguinha. Antes que algum leitor se sinta incentivado a escrever o tradicional (e burro) "ele precisa ganhar três slams para começar a comparação", aviso logo que ninguém está fazendo essa relação. Mas o backhand de uma mão, a bandana prendendo o cabelo, o estilo agressivo e agradável de ver… Tudo isso lembra, de leve, o tricampeão de Roland Garros.

– Continuo contra o uso do relógio entre os pontos (já escrevi e falei bastante sobre isso), mas ele traz alguns benefícios. O mais evidente deles é tirar do árbitro de cadeira o poder de aplicar o primeiro time violation de uma partida justamente num 5/5 e 30/30 de segundo set (quase nunca acontece num 40/0 de primeiro set). Além disso, tudo fica mais simples quando o tenista está vendo a marcação do tempo. Ou alguém acha razoável que o atleta, pensando no jogo, limpando o suor e se recuperando de um rali ainda tenha que contar o tempo na cabeça?

– Um ponto sobre o shot clock que levantei durante o Finals da NextGen do ano passado foi sobre a uniformidade do uso do relógio. Naquele torneio, árbitros diferentes acionavam o relógio em momentos distintos. Ainda preciso observar mais jogos em Toronto, mas vale notar o comentário de Djokovic, que acredita ter mais tempo agora. Ele diz (vide tweet acima) que os árbitros estão acionando o relógio apenas depois de falarem o placar. Resta saber se todos estão fazendo isso ou se foram apenas os que trabalharam nas partidas do sérvio.

Sobre o autor

Alexandre Cossenza é bacharel em direito e largou os tribunais para abraçar o jornalismo. Passou por redações grandes, cobre tênis profissionalmente há oito anos e também escreve sobre futebol. Já bateu bola com Nadal e Federer e acredita que é possível apreciar ambos em medidas iguais.
Contato: ac@cossenza.org

Sobre o blog

Se é sobre tênis, aparece aqui. Entrevistas, análises, curiosidades, crônicas e críticas. Às vezes fiscal, às vezes corneta, dependendo do dia, do assunto e de quem lê. Sempre crítico e autêntico, doa a quem doer.